Teólogo salienta que é preciso «passar urgentemente de um discurso teórico» para atitudes concretas
Mafra, 29 ago 2024 (Ecclesia) – Juan Ambrósio, da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’ (RCCC), alertou que são “os mais pobres” que sofrem as consequências dos “desarranjos climáticos” e apelou à mudança dos “estilos de vida”, numa entrevista a respeito dos ‘Tempo da Criação’ 2024.
“Não se reduz só ao ambiente, só ao clima, é muito importante, não podemos esquecer isso, é fundamental que tenhamos atenção a isso, mas temos de ter a ousadia de ver mais amplo, na linha da ecologia integral que o Papa nos propõe na ‘Laudato Si’”, disse à Agência ECCLESIA.
O Papa Francisco alertou para o impacto da ação humana sobre a natureza, para o “poder descontrolado», propondo uma “ecologia humana e integral”, na mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação 2024, que marca o início do ‘Tempo da Criação’ (1 de setembro), este ano com o tema ‘Esperar e agir com a criação’.
“Do cuidado de uns pelos outros, do cuidado desta fraternidade universal, do cuidado pela qualidade da vida, pela qualidade das nossas relações, por um futuro que possa ser mais sustentável e que possa ser futuro para todos e não só para alguns”, explicou Juan Ambrósio.
O vice-presidente da comissão coordenadora da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’ lembrou que “são os mais pobres” os que “sofrem as piores consequências” dos “desarranjos climáticos”.
Isso também não se pode escamotear, os que sofrem as consequências destes desarranjos climáticos são sempre os mais pobres, mas, a verdade, é que todos partilhamos esta casa e se não cuidamos é o futuro de todos nós que está em causa”.
O teólogo católico lembra que é necessário “mudar de estilos de vida”, sublinhando que as gerações mais novas se “abriram muito” a essa perspetiva e, pouco a pouco, “as pessoas vão tendo preocupação e sensibilidade”.
“Essas mudanças de estilo de vida têm de ter a ver com a maneira como nós utilizamos ou reutilizamos as coisas, os desperdícios que fazemos, mas também muito a ver, por exemplo, com a nossa maneira tão consumista de viver. Eu costumo dizer, a brincar: ‘precisamos de 20 casacos lá em casa, pendurados num armário, se calhar 10 chegam e 10 já é um exagero”, desenvolveu, pedindo que se entenda o que quero dizer.
Juan Ambrósio, sem querer “diabolizar o consumo”, refere que as pessoas consumem mais do que aquilo que precisam “e isso tem de ser combatido”, o que só se consegue “através das mudanças de estilo de vida”, e de ensinar os jovens nas escolas.
“De sabermos dizer que não há muita coisa, de reutilizarmos muita coisa, de termos esse cuidado, coisas pequenas como o banho, se calhar não precisamos mais do que dois minutos, precisamos fechar a água quando lavamos os dentes. Coisas tão simples como essas e outras porventura mais elaboradas, mas que depois vão entrando nos hábitos e isso é absolutamente necessário”, exemplificou o docente da UCP.
O vice-presidente da comissão coordenadora da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’, associação que vai celebrar o ‘Tempo da Criação 2024’ com encontros presenciais e partilhas online, realça que é preciso “passar urgentemente de um discurso teórico, que já vai ganhando caminho, já tem cidadania esse discurso”, para atitudes concretas.
O tempo ecuménico da criação une Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo, realiza-se anualmente de 1 de setembro a 4 de outubro, começa no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação e termina na festa litúrgica de São Francisco de Assis.
No dia 1 de setembro (domingo), o Programa ‘70×7’, transmitido na RTP2, vai assinalar o início do ‘Tempo da Criação 2024’, para além da reflexão da Rede ‘Cuidar da Casa Comum’, apresenta também dois projetos concretos, na empresa Lisnave, na Mitrena (Setúbal) e das Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, na sua Quinta da Azenha (Gondomar).
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