«Os dons do planeta não são infinitos, se alguns têm cada vez mais, isso só pode ser à custa dos outros» – Juna Ambrósio
Lisboa, 04 set 2023 (Ecclesia) – Juan Ambrósio, da Associação R3C – Rede Cuidar da Casa Comum, afirmou hoje que não se pode “procurar” um cuidado da terra que “ignore as pessoas que vivem e também participem nessa casa comum”, destacando a ecologia integral.
“É um tempo importante para toda a vida das comunidades cristãs, e não só, aqui o que está em jogo é o desafio de convocar-nos a perceber a importância que é esta questão da sustentabilidade do planeta. Não simplesmente do ponto de vista ambiental e climático, também é, vemos os resultados, cada vez mais intensos, mais catastróficos, a palavra é dura mas traduz bem o que vamos vivendo, mas noutros aspetos também”, disse o entrevistado, à Agência ECCLESIA, no contexto do ‘Tempo da Criação’ 2023.
Desde sexta-feira, 1 de setembro, Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo estão a viver uma nova edição do ‘Tempo da Criação’, até dia 4 de outubro, memória de São Francisco de Assis, com o tema ‘Que a Justiça e a Paz Fluam’, inspirado no livro bíblico do profeta Amós: ‘Que o direito corra como a água e a justiça como um rio perene’.
Juan Ambrósio, da comissão coordenadora da Rede Cuidar da Casa Comum, explica que a temática deste ‘Tempo da Criação’ 2023 quer “convocar a questão da justiça e da paz”, e destaca a “sustentabilidade como ecologia integral”.
“Não podemos procurar um cuidado da terra, do cuidado da Casa Comum, que ignore as pessoas que vivem e que também participem nessa casa comum”, afirma, lembrando a “ecologia integral” do Papa Francisco, na encíclica ‘Laudato Si’, que convocou “o universo católico para aderir a esta dinâmica” do ‘Tempo da Criação’.
“E isso é que nos convoca para outras dimensões, sem descuidar da questão ambiental e climática, vai muito mais longe e coloca também no centro o cuidado com a pessoa, com a construção da sociedade”, acrescentou.
Rita Veiga, da mesma comissão coordenadora, explica que a Rede Cuidar da Casa Comum põe “um pouco a tónica” na mudança dos estilos de vida, e exemplifica que quando o Papa fala de uma ‘economia que mata’, “também é chamar a atenção que as coisas não estão desligadas, a ecologia é ecologia integral, abrange tudo”.
“Não podemos estar a centrar-nos num e deixar o resto seguir o caminho do desastre, que, neste momento, infelizmente, começamos a ter a sensação de que é o que acontece. É mais visível na parte da sustentabilidade do planeta, ‘ouvir o clamor da terra’, mas o resultado disso na vida das pessoas, os mais frágeis sofrem mais e foram os que menos contribuíram para o desequilíbrio de tudo isto”, desenvolveu.
Para a entrevistada, neste momento, há duas vertentes que considera “muito importantes”, as pessoas terem “consciência” de que têm de “mudar estilos de vida, não é tentar pôr uns remendos”, e para procurar a “sobriedade, essa diminuição do consumo”, existe “uma vertente espiritual que é essencial”, e que se concretiza com verbos “muito simples” como: contemplar, maravilhar-se.
“Os dons do planeta não são infinitos, se alguns têm cada vez mais, isso só pode ser à custa dos outros”, sublinhou Juan Ambrósio, no Programa ECCLESIA, transmitido na RTP2, observando que “o não cuidado da criação, o não cuidado da casa comum, o não cuidar dos outros, é quebra da relação com Deus”.
“Não podemos mais, no âmbito cristão, pensar a relação com Deus simplesmente unidirecional. Não pode deixar de pensar obrigatoriamente com a relação com o outro e com este planeta que habitamos”, acrescentou.
A Rede Cuidar da Casa Comum, explica Rita Veiga, promove várias iniciativas ao longo do ano, como associação mas também apoiando os seus membros, e no ‘Tempo da Criação’, em específico dinamiza o seu encontro ‘Também somos Terra’, este ano no próximo dia 30 setembro, em sintonia com o encontro ecuménico que se vai realizar no Vaticano, presidido pelo Papa, na véspera do início da assembleia do Sínodo dos Bispos.
O Papa Francisco publicou a sua encíclica ‘Laudato si’, um documento social e ecológico, em 2015, e, na quarta-feira, dia 30 de agosto, anunciou que quer publicar uma segunda parte deste documento, onde vai atualizar as questões sobre o cuidado com a criação.
HM/CB