Isabel Varanda analisa a COP 25, diz que a salvação do planeta é «bandeira das religiões» e sugere ao Papa Francisco a publicação de uma «Laudato si 2»
Braga, 06 dez 2019 (Ecclesia) – Isabel Varanda, professora da Faculdade de Teologia e investigadora na área da ecologia, disse que não bastam manifestações de “angústia” diante da emergência climática, considera a salvação do planeta uma “bandeira das religiões” e deseja uma “Laudato si 2”.
“Este não é um novo posicionamento numa questão antiga, que se repete. Há uma emergência. Há um modo novo, que a COP 25 também indicia: temos hoje mesmo de tomar em mãos esta problemática, porque amanhã é, de facto, tarde”, afirmou a professora da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.
Na entrevista semanal Agência ECCLESIA/Renascença, Isabel Varanda considera que se desenvolve “uma angústia” diante do que é necessário fazer “no imediato” e constatam-se os “poucos recursos” num território que é de “intervenção prioritária”.
“Contrapondo com um conceito que temos na área da educação, os TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), também a questão ecológica se revela um território educativo de intervenção prioritária”, afirmou a professora da Faculdade de Teologia, em Braga.
Isabel Varanda diz que a COP 25 é “mais um evento que se acrescenta a estes focos de preocupação crescente que atravessam o planeta e progressivamente vão chegando à consciência individual de cada um como um TEIP, um território educativo de intervenção prioritária”.
A doutorada em Teologia com uma investigação no âmbito da ecologia e da criação lembra que o Papa Francisco alerta para a “emergência climática”, referindo-se à necessidade de uma “revolução cultural”.
“Uma revolução é algo que tem de acontecer no imediato, que marca o tempo e a realidade com uma certa radicalidade”, afirmou.
Questionada sobre a receção e o cumprimento da encíclica ‘Laudato si’, que o Papa publicou em maio de 2015, Isabel Varanda diz que a Igreja Católica em Portugal ainda não percebeu o que se “impõe” neste momento.
“Não chega assumir a questão em discursos pontuais, conferências, breves alocuções, que são certamente benfazejas, mas que não produzem o impacto da comunhão, do concerto de esforços e da modernidade na abordagem da questão”, sublinhou.
Para a professora de Teologia, é necessário “traçar estratégias objetivas bem definidas, de interceção com as diferentes áreas do saber, os diferentes movimentos que se vão levantando ao nível das comunidades, das instâncias educativas e da sociedade em geral”.
“A palavra salvação faz parte do léxico das religiões em geral e de um modo concreto do cristianismo. Portanto, a salvação do planeta, a salvação da humanidade e a salvação da criação é bandeira das religiões! E é bandeira concretamente do cristianismo”, lembrou.
Acerca da centralidade do documento do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum, Isabel Varanda refere que passaram quatro anos desde a publicação da ‘Laudato si’, sucedendo-se acontecimentos a uma “velocidade tremenda” que provocam “sentimentos de desproteção e de não preparação para esta emergência climática declarada”.
“Ousaria dizer que talvez o Papa Francisco esteja a pensar – e espero que esteja a pensar – numa segunda edição da ‘Laudato si’, na ‘Laudato si 2’. Porque, em quatro anos, há desenvolvimentos a tal velocidade que já justificariam uma outra encíclica”, disse Isabel Varanda.
Na entrevista à Agência ECCLESIA e à Renascença, a professora da Faculdade de Teologia disse que Greta Thunberg “é um símbolo” e apresentou o projeto de investigação do grupo “Religião, Ecologia e Cidadania”, do CITER – Centro de Investigação em Teologia e Ciências da Religião da Faculdade de Teologia, sobre o tema “Amar e cuidar a terra: critérios e processos de ecologia integral”, que tem por objetivo final a constituição de Observatório Permanente para as Questões Ecológicas.
(Entrevista conduzida por José Pedro Frazão/Renascença, e Paulo Rocha/Agência ECCLESIA)
PR
«A salvação do planeta é bandeira das religiões» – Isabel Varanda