É uma honra ser bispo do Porto

Rui Osório destaca traços fundamentais do ser católico nesta Diocese, pronta a receber D. Manuel Clemente No Porto, somos capazes de trocar o “v” pelo “b”, mas jamais renegamos a liberdade. Também os nossos bispos nos habituaram a amar a liberdade. Dois dos maiores, D. António Barroso, que enfrentou os exageros e os erros da primeira República, e D. António Ferreira Gomes, que Salazar exilou com desmedida prepotência, tornaram exigente o modo de ser bispo do Porto. Como dizia D. Armindo Lopes Coelho, é “um título humanamente apetecível” e “honra muito quem tiver o direito de o usar”. É, agora, certamente, para D. Manuel Clemente, uma honra ser bispo do Porto. O novo bispo é bem-vindo. Bastaria confessar, como fez, que vem para estar perto das pessoas. Se a sua prioridade é a evangelização, dinamize uma evangelização de proximidade, de coração a coração, personalizada. Aqui, apesar da grandeza da diocese, com mais de dois milhões de habitantes, somos todos vizinhos, leais, generosos e cordiais. Vistos de fora, sabe-se lá porquê, há quem pense que, em Igreja, estamos divididos, especialmente o clero. Saibam que soubemos e ainda sabemos estar de bem com os bispos, mesmo quando não concordamos com eles, como foi quando exilaram o bispo do Porto e o substituíram por um administrador apostólico, com quem fomos colaboradores leais. Sabemos que D. Manuel Clemente vem bem recomendado com a sua cordialidade. Connosco, estará em sua casa. D. Armindo Lopes Coelho foi mais bispo de Viana do Castelo do que do Porto, onde já chegou tarde. Poderia ter sido o imediato sucessor de D. António Ferreira Gomes, em 1982. Em entrevista que lhe fiz para o “Jornal de Notícias”, atrevidamente cheguei a dizer que sucederia a D. António Ferreira Gomes. Afinal, a Congregação dos Bispos e a Nunciatura em Portugal não liam o “Notícias”! Foi, mas tarde. Ainda assim e porque conhecia muito bem a sua diocese, D. Armindo imprimiu o seu estilo. Geriu a diocese com o seu bom humor e com alguns lampejos de dinamização pastoral, como quando, já com 50 anos de presbítero e 25 de bispo, anunciou, em consonância com os bispos auxiliares, o Conselho Pastoral Diocesano e o Conselho Presbiteral, a estratégia de evangelização da diocese à base da formação bíblica. Deixa para o seu sucessor uma diocese pacífica e pacificada, sem problemas de maior, mas com muito caminho por andar. Não faltam estruturas, a dinamizar, mas pessoas estimuladas a dar mais e melhor. É preciso um novo entusiasmo, mesmo que pareça tarefa inglória com o envelhecimento e a escassez do clero e com leigos a deixar a Igreja em bicos de pés. Demos voz e vez aos leigos. Assim também os bispos e os presbíteros aprenderão a ser Igreja mais como o Espírito quer e os sinais dos tempos aconselham. Uma atenção nada despicienda deve ser dada aos religiosos e religiosas e aos membros dos institutos seculares. Sem perda dos seus carismas, poderão ter mais consciência da Igreja Local onde estão inseridos. D. Manuel Clemente vem treinado com o diálogo entre a fé e a cultura. Sabe como prezamos no Porto essa dimensão do testemunho cristão e nos incomoda o vazio doutrinal e ético. Preocupa-nos que digam de nós que somos “uma diocese adormecida à sombra do passado”. Não somos bons juízes em causa própria, mas, ao lermos isso, parece-nos tão exagerado como a publicidade. D. Manuel Clemente, cá o esperamos para o ajudar na sua prioridade de “conhecer, amar e servir” a diocese. Deus o acompanhe… Rui Osório, Jornalista e pároco da Foz do Douro

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Agência ECCLESIA

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