E se o silêncio fala-se…

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

Não pretendo apresentar aqui uma reflexão profunda e muito menos provocatória sobre a necessidade de silêncio na vida espiritual, especialmente durante a Quaresma.

Mas, se calhar, bem vistas as coisas, num mundo saturado de palavras e discursos, a procura do silêncio pode ser uma forma de conexão mais profunda e peculiar com Deus e com nós mesmos.

A ideia de que o silêncio pode ser um espaço fecundo para a contemplação e a escuta é poderosa. Muitas vezes, perdemos em palavras que, embora possam ter boas intenções, acabam por se tornar um ruído, distraindo-nos da verdadeira essência do que é importante.

O silêncio, por sua vez, pode nos permitir ouvir as “vozes” que normalmente ignoramos — não apenas as vozes de Deus, mas também as dores e alegrias do mundo ao nosso redor.

No versículo 40 do capítulo 19, São Lucas diz claramente, “Se eles se calarem, as pedras clamarão.” Isso sugere que, mesmo no silêncio, há uma realidade pulsante que exige atenção. O clamor das pedras pode ser interpretado como a necessidade de ouvirmos a verdade no meio do barulho da vida. Se nos calarmos, poderemos perceber a beleza e a complexidade da criação, bem como a dor e a esperança que habita o coração humano.

A proposta de fazer “jejum” de palavras poderá ser uma prática que pode nos levar a um espaço de transformação interior. O silêncio pode ser uma forma de humildade, um reconhecimento de que, muitas vezes, menos é mais. Podemos nos ajudar a cultivar uma escuta atenta e um diálogo mais profundo com Deus, que muitas vezes se revela na quietude.

Assim o que vos deixo é um convite à reflexão: como podemos incorporar mais silêncio em nossas vidas espirituais? Como podemos nos preparar para ouvir o que realmente importa?

Que este tempo de Quaresma seja uma oportunidade para procurar esse silêncio, permitindo que ele nos transforme e nos aproxime de uma experiência mais rica e autêntica da fé.

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

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