«É difícil, mas não é impossível» propor aos jovens decisões na vida «para sempre» (c/áudio)

As últimas semanas de junho e as primeiras de julho são ocasião para celebrações de ordenações sacerdotais, em muitas dioceses de Portugal, e a razão para a entrevista com o padre Nuno Amador, do Patriarcado de Lisboa.

Vice-reitor do seminário dos Olivais e responsável pela Pastoral Universitária, em Lisboa, o Nuno Amador reserva muito do seu tempo para o acompanhamento de jovens. Uma experiência que faz valorizar essa dimensão na vida sacerdotal e afirmar que as pessoas «pedem a presença do padre como acompanhador das suas vidas»

 

Entrevista conduzida por Ângela Roque (Renascença) e Paulo Rocha (Agência ECCLESIA)

 

Foto Joana Gonçalves/Renascença, Padre Nuno Amador

 

Estamos numa altura de ordenações de novos padres em várias dioceses do país, longe dos números de outros tempos. Mas justifica-se ou não falar de crise de vocações?

Não sei se se justifica falar de crise de vocações. Penso que quando falamos disso temos de falar daquilo que é a vivência da fé, não só daquilo que é vocação, mas olharmos esta dimensão da vocação de forma mais alargada e integrá-la naquilo que é a vida da fé e no que traz à vida de cada um.

 

Não falar só da vocação sacerdotal, porque há outras vocações.

Talvez a crise seja a de podermos olhar a vida como vocação e não só falarmos das vocações, especificamente naquilo que é a vocação sacerdotal, a vocação à vida consagrada, religiosa, mas da possibilidade da fé trazer à vida um olhar que olha a vida numa dimensão vocacional.

Toda a vida é vocação. Quando eu me entendo assim, aprendo a olhar a vida como uma missão, e penso que é preciso trabalhar e ajudar os jovens, sobretudo, a ter essa profundidade de olhar em relação à sua própria vida. E não sei se não tem havido nos últimos tempos, sobretudo nas grandes cidades – Lisboa, Porto e também Braga – algum renovar das vocações. Sei que no resto do país os números não são muito animadores, em alguns sítios há poucos jovens no seminário, mas sobretudo nestes centros grandes tem havido gente a entrar para o seminário e pôr a questão vocacional.

 

Mas, ainda sobre os números, porque é preciso olhar aos recursos, eles preocupam ou não?

Será sempre uma preocupação. E uma preocupação não só do nosso bispo, D. Manuel. Já era uma preocupação dos bispos anteriores. Lembro-me do cardeal Ribeiro falar disto como uma preocupação: de precisar de cerca de 2.500 padres para a diocese e ter 250 e fazer essa comparação para se perceber a diferença. Talvez isto obrigue a nos envolvermos todos naquilo que é a pastoral vocacional, a não acharmos que é apenas uma coisa de especialistas, de quem está no departamento das vocações ou nos seminários, mas que é alguma coisa que deve envolver toda a Igreja, todos os movimentos, as paróquias, a comunidade eclesial enquanto tal. Isto diz-nos respeito a todos, é alguma coisa que deve preocupar a todos. Devemos rezar por isso, podemos rezar por isso, mas se calhar também somos chamados a fazer mais e a interpelar os jovens, no sentido de olharem o caminho vocacional.

 

Os dados divulgados já este ano pela Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios apontam para uma subida do número de alunos que frequentam os seminários. São 580, entre adolescentes, jovens e adultos, do pré-seminário aos seminários maiores… O padre Nuno Amador está há vários anos ligado à formação de seminaristas, primeiro em Caparide, agora nos Olivais. Onde é que se ‘perdem’ mais seminaristas pelo caminho?

Em primeiro lugar deixe-me dizer que não sei se ‘perdem’! Alguns encontram-se pelo caminho, porque o seminário também serve para isso, não só para as pessoas se ‘perderem’, no sentido de saírem do seminário. O ideal de cada percurso seria que cada pessoa se encontrasse nesse caminho, que ao fazer o caminho do seminário pudesse pôr a questão da vocação a sério – onde é que Jesus o quer, onde é que Ele lhe pede que dê a vida. Se esse encontro for o poder servir noutro lugar, que não seja dando a vida como sacerdote ministerial, então isso é um encontro com Deus, um encontro consigo próprio e com a sua vocação.

Nós temos agora o ano propedêutico, que é um tempo de discernimento forte antes da entrada para o seminário dos Olivais. Este ano propedêutico acontece no seminário de Caparide e há de ser um tempo de discernimento e de encontro consigo próprio, com Deus, com a comunidade, de pôr a sério esta questão. Aí, há alguns que certamente tomarão a decisão de saída. Depois, nos primeiros anos, sobretudo nos da ‘etapa discipular’, que são aqueles anos em que esta dimensão de ser filho, de ser irmão, mas também a dimensão vocacional antes da passagem para uma etapa já configuradora, também leva a que as pessoas se ponham em causa e olhem a fundo esta questão, de onde é que Jesus os quer. É claro que até ao fim, até ao sexto ano, até à ordenação, até ao finalizar desta etapa da formação inicial, há seminaristas que saem. Mas, penso que nos primeiros anos isso é mais visível.

 

O chamamento de Deus acontece em todas as idades

A opção vocacional vai sendo tomada em diferentes faixas etárias e poderíamos dizer que passámos de um seminário menor, cheio de gente, a uma “decisão maior”, de quem já é maior de idade e toma uma decisão mais consolidada e mais aprofundada. Isso é positivo, na sua opinião?

Antigamente usava-se a expressão – e penso que já todos ouvimos falar – ‘vocações tardias’. Não a aprecio. A vocação, o chamamento de Deus, acontece em todas as idades e em todas as fases da vida. De facto, o  pôr em causa a vocação, no sentido de perceber o que é que Jesus quer da vida, tem acontecido progressivamente numa etapa mais tardia da vida, a partir dos vinte, vinte e poucos anos. Tardia, comparativamente àquilo que existia antigamente. Se calhar também é normal, porque se olharmos para o mundo em que vivemos e para o tempo em que os jovens tomam as decisões de vida, por exemplo sobre o casamento ou o sair de casa, são hoje decisões mais tardias. Parece-me normal que em relação ao seminário, à vocação sacerdotal, à vida religiosa ou à vida consagrada, a questão vocacional apareça num momento mais tardio. Até porque muitas vezes aparece no momento em que a pessoa se reencontra com a fé e com a comunidade eclesial e para alguns isso acontece depois de terem saído do ambiente paroquial ou já na fase universitária ou pós-universitária.

 

É uma realidade cada vez mais frequente? Faz essa experiência no acompanhamento de jovens e grupos de jovens?

Sim, faço. Com muito gosto, com muita alegria de poder acompanhar pessoas que a certa altura se deixam interpelar. A experiência que tenho tido é que, por exemplo, na fase universitária, sobretudo aqueles que arriscam e aceitam o desafio de sair de si e de ir ao encontro dos outros em campos de férias, missões universitárias, voluntariado, ações de serviço, depois também dão o passo de começar um caminho de intimidade com Deus, de silêncio, oração, de acompanhamento espiritual e muitas outras coisas. Muitas vezes começam aí a desenvolver esta atenção àquilo que são os sinais da vocação, começa a nascer dentro das pessoas este desejo de aprofundar, às vezes ainda genérico, sem saber que ‘mais’ é esse, mas que a certa altura se vai concretizando em passos de discernimento.

 

E o passo para uma decisão definitiva? De que forma é que é possível ser dado na cultura atual, feita muitas vezes do ‘viver o momento’?

É um desafio.

 

É difícil fazer essa proposta aos jovens?

É difícil, mas não é impossível, se nós não centrarmos tudo em nós e naquilo que são as nossas capacidades. A descoberta da vocação, em primeiro lugar, é a descoberta da amizade com alguém, de uma história de amor com alguém que nos chama essa história. Depois há de ser também a descoberta de que o caminho vocacional não se centra apenas nos nossos dotes, nas nossas aptidões e capacidades, mas se centra pondo  aquilo que nós temos e somos a render, a ser capacitado. Centra-se na graça e na força de um Outro que nos acompanha e caminha connosco. Ou seja, quando Deus chama, acompanha aquele que chama, está com aquele que chama. Se pusemos o acento nisso, então será mais fácil perceber que eu não tenho de fazer tudo depender de mim, nem das minhas capacidades e forças.Se, pelo contrário, tudo incidir sobre a força pessoal, parece-me mais difícil, porque a decisão de um ‘para sempre’, a decisão do arriscar a vida, aparece como alguma coisa que, de facto, mete medo, para a qual não nos sentimos nem dignos, nem capacitados. E isso é verdade, nunca seremos dignos nem capazes de uma coisa tão grande como a vocação sacerdotal, a não ser que seja no horizonte da aliança com Deus e da intimidade com Ele.

 

Formação nos seminários

O Sínodo dos Bispos sobre os jovens e o discernimento vocacional inaugurou uma nova fase na abordagem deste tema das vocações? O que é que já mudou na formação, nos últimos anos?

Aqui em Lisboa houve algumas mudanças, até muito objetivas, não só a partir do Sínodo dos Bispos, mas também da ‘Ratio Fundamentalis’ para os seminários…

 

O decreto orientador para a formação dos padres…

Antigamente tínhamos os alunos do seminário em duas casas. Faziam os três primeiros anos – propedêutico, 1º e 2º ano – no seminário de S. José de Caparide e depois entravam para os Olivais. Neste momento temos um tempo propedêutico, que tem uma dinâmica própria, diferente do resto do tempo de seminário, e só depois a entrada para o seminário. Esta foi uma mudança objetiva. Temos neste momento os seis anos juntos no Seminário dos Olivais, com uma equipa de oito padres formadores, e penso que a pouco e pouco também se vão dando passos ao nível da pastoral vocacional…

 

Essa foi uma mudança já resultante deste documento, que é de 2016, é recente.

Mas, já vinha a ser pensada. Já vínhamos a fazer um trabalho de pensar os seminários, com o senhor patriarca, e de poder olhar a realidade que tínhamos e projetar a realidade para a frente. Este documento, de facto, vai ao encontro disso, com algumas orientações muito concretas.

 

Referiu oito padres formadores nos Olivais. Não devia haver mais leigos a dar formação aos seminaristas?

Há leigos a dar formação. Na Universidade Católica, onde os seminaristas fazem o estudo da filosofia e o mestrado integrado em Teologia, há padres e leigos como professores da faculdade, por isso, participaram também da formação dos seminaristas. Depois, em particular no 6º ano, que é um ano pastoral, as disciplinas são pensadas para os seminaristas que estão já nesta fase de passagem, de acabar a etapa configuradora e entrar numa etapa de síntese pastoral e aí também há bastantes leigos empenhados na formação dos futuros padres, não só de forma pontual, mas alguns até com disciplinas anuais.

 

O seminário não é um aquário

Até que ponto podemos dizer que os seminários são uma redoma para os seminaristas? Estão a ser preparados para o embate depois com a realidade fora do seminário e no interior das comunidades?

Bem, o seminário não é um aquário, ainda que, de facto, o embate com a realidade seja muito diferente daquilo que nós idealizamos da própria realidade, sempre.

Os seminaristas progressivamente vão tendo uma inserção pastoral. Aos domingos não temos missa no seminário, temos à tarde a adoração eucarística e as vésperas comunitárias, é o tempo de regressarmos a casa, mas os seminaristas do 1º ano saem com o prefeito para visitarem paróquias, comunidades eclesiais, participarem em atividades de jovens pela diocese fora, com o intuito de conhecerem a própria diocese e as suas realidades.

Os do 2º ano, metade tem trabalhos fixos no Hospital de Santa Maria, onde têm contacto com a fragilidade humana, com as pessoas que estão no hospital, na visita aos doentes, no levar da comunhão aos doentes, e estão lá ao domingo de manhã. A outra metade está nas irmãs da Caridade, em Chelas, e fazem um trabalho também de voluntariado, participando na celebração dominical na paróquia de S. Maximiliano Kolbe. Os outros seminaristas, do 3º, 4º, 5º e 6º, têm trabalhos pastorais nas paróquias, ou no pré-seminário, e vão fazendo progressivamente uma inserção pastoral. Penso que é uma forma de conhecermos a realidade concreta das paróquias e da Igreja.

Há aqui uma outra dimensão que tem a ver com a dimensão intelectual, cultural, que é a possibilidade de, no seminário, também se trabalhar a abertura àquilo que é a realidade à nossa volta, de termos os olhos abertos e despertos para o que nos envolve, para o que se passa no mundo, para a vida real das pessoas, que também é a nossa, mas que às vezes, por estarmos a viver uma vida interna numa comunidade, nos pode passar despercebida. É um trabalho que não está nunca acabado e para o qual tentamos sensibilizar também os seminaristas, para esta abertura cultural, para podermos entender o mundo onde vivemos.

 

Ser padre, hoje

No mundo em que vivemos, o que é que significa ser padre hoje, ser um líder religioso católico?

Penso que significa hoje aquilo que significou sempre: ser padre é poder ser a presença concreta de Jesus, pastor no meio do seu povo, chamado a cuidar daqueles que já estão dentro na Igreja, mas também – hoje muito, mas sempre foi assim – com a missão de poder ser aquele que vai para fora das fronteiras, para poder chegar a todos.

 

Noutra perspetiva, quando é que a sociedade reclama a presença do padre? Para que é que um padre é preciso na sociedade atual, em que circunstâncias?

Da minha experiência como sacerdote, penso que os momentos da vida das pessoas, os momentos importantes e os momentos limite da vida, são aqueles que mais pedem a presença do sacerdote, sobretudo os que estão mais fora da realidade eclesial. Mas, tem sido uma grande graça, um dom muito grande, um dom imenso, acompanhar os universitários, os jovens e os casais, pares de namorados, na preparação para o casamento, casais jovens que pedem a presença do padre como acompanhador das suas vidas. Ou seja, alguém que está e os acompanha…

 

Como o Papa pede na Exortação ‘Cristo Vive’?

Sim, de certa maneira penso que é isso que as pessoas pedem ao padre, não que as substitua na sua vida da fé e no caminho que precisam de fazer, mas alguém que as anima no caminho da fé e as acompanha nesse caminho, que as anima nas suas buscas. Porque a vida traz buscas pessoais e às vezes os momentos limite são esses momentos de busca e de busca intensa. Mas, mesmo quando não acontece num momento limite, a vida é isso, é procura, é busca, e às vezes é preciso ajudar a catalisar, dar ânimo para que a busca aconteça. Depois, essa dimensão do acompanhamento, as pessoas pedirem também que os sacerdotes sejam próximos e sejam expressão de uma proximidade de Deus.

São João Maria Vianney, o Santo cura d’Ars, dizia que ‘o sacerdócio é o amor do coração de Jesus’. E é isso que as pessoas pedem: uma presença próxima, que seja manifestação desse amor de Deus também para elas, em todas as situações da vida.

 

Movimentos na Pastoral Vocacional

Que importância têm os diversos movimentos da Igreja que existem no apelo vocacional dos jovens?

Têm uma importância grande. É claro que a vocação e o apelo vocacional, como dizia há pouco, deve ser alguma coisa que interessa, que interpela e que envolve toda a comunidade eclesial.

A realidade dos movimentos traz aos jovens muitas vezes aquela experiência do encontro, da intimidade com Jesus e da vida em Igreja, que é também o terreno essencial para o desabrochar e para o desenvolvimento da vocação. Mas isso também pode acontecer, e acontece, nas paróquias e em todas as realidades eclesiais. Os movimentos, dando a possibilidade da experiência forte do encontro com Deus e com os outros, de facto, têm uma base, um substrato essencial a esse desabrochar da vocação.

 

Tem havido experiências particularmente interessantes, como a ‘Missão País’ e os Núcleos Católicos, que vão crescendo em várias faculdades. São experiências importantes?

São e são complementares, essas duas em específico. Uma das coisas que a Exortação Apostólica do Papa Francisco aos jovens ‘Cristo Vive’ diz é que não basta suscitar nos jovens o encontro com Cristo, no sentido: fazemos um encontro, fazemos uma missão, fazemos um tempo forte de encontro com Jesus, isso deixa uma chama no coração da pessoa, deixa um desejo de seguimento, um desejo de mais, mas depois é preciso dar continuidade a isso. E isso exige um processo, um caminho, não se faz só no momento.

Creio que a experiência da ‘Missão País’, e depois a experiência dos Núcleos, mas também dos movimentos, da vida paroquial, pode ser muito complementar nestes aspetos.

Faço ‘Missão País’ desde 2009, 2010, e a experiência que tenho é que para muitos jovens é uma experiência muito forte, de encontro consigo próprios, com Deus e com os outros, onde há uma questão que muda na vida, não só a questão da identidade, ‘quem é que eu sou?’, mas do ‘para quem é que eu sou?’. Ou seja, na experiência do serviço, da pertença, abre-se um horizonte novo de vida, que faz com que a pessoa se interpele acerca da fé e acerca da vocação no horizonte da fé. Depois é preciso dar continuidade a isso, e penso que os Núcleos Católicos, de certa maneira, e em alguns casos, têm sido o espaço da continuidade disso.

 

JMJ 2022 e o despertar vocacional

Que expectativa tem para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) neste setor vocacional e de compromisso dos jovens, não só com vocações de especial consagração, mas com a vocação batismal?

Eu gostava de sintonizar com a expectativa que Deus tem para esta JMJ e que deve ser certamente muito grande!

 

Mas a JMJ pode dar um novo impulso às vocações?

Penso que será muito bom, não só naquilo que acontecerá naquela semana, ou no tempo mais próximo da Jornada que, como sabemos, é um tempo muito forte para os jovens que nele participam, mas creio que para nós aqui, em Lisboa em particular, todo este caminho de preparação que terá que acontecer pode ser um momento muito fértil para voltar a dinamizar os jovens, fazer um trabalho de comunhão e de conjunto,  trabalhar a unidade. E isso certamente também dará frutos em relação àquilo que é a possibilidade de muitos se perguntarem sobre a sua própria vocação.

Ou seja, é claro que o momento será fundamental, suscitará no coração de alguns, como já aconteceu em várias Jornadas, jovens sentirem-se interpelados em relação à vocação. Mas creio que a preparação das Jornadas – que já está a acontecer, mas que se intensificará cada vez mais – , também há de ser um momento muito importante para podermos dinamizar a pastoral juvenil, a pastoral vocacional, a pastoral universitária também, no sentido de, em conjunto e em caminho, nos interpelarmos sobre o que é que Deus quer de nós: o que é que Deus quer para a Jornada, mas o que é que, a partir deste caminho, Deus quer para cada um.

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Agência ECCLESIA

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