«É agora que vais para o seminário»

A Agência ECCLESIA foi ao encontro 4 seminaristas da diocese de Aveiro, para falar do seu percurso de preparação para o sacerdócio

A Engenharia Electrotécnica fez parte do percurso de vida de Leonel Santiago de Abrantes. Catequese, coro da paróquia, escuteiros, Convívios Fraternos e participação na Jornada Mundial da Juventude de Roma ajudaram este seminarista de Santa Eulália de Aguada de Cima (Águeda) a discernir a sua vocação. A entrada no Seminário deu-se em 2006. “Optei por algo que descobri e que me fazia mais feliz – disse.

Não deixou namorada, mas deixou amigos e a família. “Aceitaram todos muito bem” – acrescenta. Quando começou a contar aos amigos a opção “não foi surpresa para nenhum deles”. Em relação à forma como contou a «novidade» à família, Leonel recorda que o pai completou a conversa: “é agora que vais para o seminário, nem me deixou acabar de dizer”. Uma caminhada que culminou na entrada no seminário.

A cidade de Vila Real também deixou marcas na vida do seminarista que frequenta o 4º ano de Teologia, na UCP, em Lisboa. Nascido em 1978, Leonel Abrantes viveu nove anos naquela cidade transmontana. “Costumo dizer que sou um apaixonado por Trás-os-Montes” e “por aquela beleza natural do Marão”.

Não esquece aquele território transmontano, mas a “minha ligação e vivência religiosa sempre foi na diocese de Aveiro”. “Estive ligado aos Convívios Fraternos e ao Secretariado da Pastoral Juvenil de Aveiro” – frisou. Embora vivendo longe, “vinha todos os fins-de-semana a casa”.

Na cidade do Marão vivia numa casa com estudantes universitários, mas nunca escondeu a sua fé. “No meu quarto tinha posters e cartazes dos Convívios Fraternos e dos Escuteiros” – confidenciou.

Ao olhar para as leis da Física e da electricidade, este seminarista confessa – “ao contrário do que alguns dizem quando olham para as leis acham que não há necessidade de Deus” – que “não é possível ver aquela ordem sem algo que está por detrás…”. E acrescenta: “aquela ordem não é obra do acaso”.

As hesitações vocacionais e as novas tecnologias ao serviço da evangelização

No «Cântico das Criaturas», S. Francisco de Assis faz uma exaltação de toda a criação. Apesar da sua formação em Engenharia do Ambiente, João Santos escolheu um seminário diocesano e não a Ordem Franciscana para aprofundar a sua vocação. No entanto – confessa o engenheiro seminarista – que chegou a questionar-se “se Deus não me chamava pelos Franciscanos”. O chamamento encaminhava-o para o contexto de uma Igreja local.

Com ligação aos Missionários da Boa Nova e, posteriormente, aos Salesianos, Pedro Barros afirma que a missão que “Jesus Cristo nos dá é em qualquer sítio e em qualquer lugar”. Os dois carismas missionários por onde passou ajudaram o licenciado em Tecnologias de Informação e Comunicação a aprofundar a sua vocação.

Apesar de frequentar o 3º ano de Teologia no Seminário dos Olivais, Pedro não esquece o carisma das congregações onde bebeu da fonte evangélica. “Existem questões que ficam sempre…, mas, através da direcção espiritual e da oração, vamos descobrindo para onde Deus nos quer encaminhar”. E confidencia: “a vertente missionária cativa-me muito”.

Sendo adepto das novas tecnologias, Pedro apela para “o uso responsável” deste meio que poderá “servir para evangelizar”. E deixa uma ressalva: “não colocar apenas nesse baú o que podemos chamar Nova Evangelização”. “São um bom instrumento, mas não são o único instrumento” – proferiu.

No seu Blog, o Leonel Abrantes oferece testemunhos da sua vida e textos de reflexão. Logo que abrimos esta ferramenta da internet aparece em destaque a Carta de Bento XVI aos Seminaristas. “O papa escreveu-me. Não é todos os dias que o Papa nos escreve” – disse com ar sorridente. E completa: “É uma forma de partilha”.

Bento XVI escreveu os seminaristas

Depois de ler a carta de Bento XVI aos seminaristas, Vítor Cardoso coloca em destaque o “carinho que o Papa tem para com os seminaristas”. Na missiva, Bento XVI começa por contar o seu percurso vocacional e “as dificuldades que encontrou”. Uma forma de encorajar os actuais seminaristas a “não desanimar” – frisou este seminarista de Aveiro.

Directivas papais que foram bem acolhidas pelos seminaristas. Uma dessas “é o amor e empenho no estudo”. Como fez um interregno escolar até à entrada no Seminário, o Vítor Cardoso sublinhou que o voltar às secretárias da escola “foi difícil”. Depois de 14 anos sem «pegar» num livro, este seminarista confessou que – nas duas primeiras semanas – teve “vontade de desistir”.

A persistência é uma das qualidades desta vocação «tardia». O objectivo era responder ao “chamamento interior que sinto”. Terminou o Ensino Secundário com uma “média razoável”, mas foram “coisas muito a correr” porque o objectivo era encerrar este ciclo “e dar este passo” para a entrada no seminário.

Como a exigência é superior na universidade, as dificuldades voltaram aos ombros do Vítor Cardoso. “A nível de português não tenho as bases de um aluno que faz o curriculum normal” – declarou o seminarista da Gafanha de Nossa Senhora do Carmo. As vacilações existiram, mas o caminho faz-se andando. Neste passo em frente, os colegas de seminário ajudaram. “Senti conforto da parte deles” – reconhece.

Para o Pedro Barros não foi difícil voltar aos bancos da Faculdade, embora “as temáticas sejam totalmente diferentes”. Na licenciatura anterior a vertente técnica estava bem patente, agora depara-se com a questão filosófica e teológica. “É bastante exigente e, a nível de raciocínio, há outra mentalidade por detrás”.

Na carta aos seminaristas, Bento XVI refere também que a «piedade popular é um grande património da Igreja… tende para a irracionalidade e, às vezes, talvez mesmo para a exterioridade. No entanto, excluí-la, é completamente errado». No nosso país, as festas populares abundam e a região de Aveiro não é excepção. João Santos concorda com os conteúdos da carta porque “a piedade popular é a forma como as pessoas – na sua cultura e vivência – expressam a sua fé”. E completa o seu raciocínio: “em vez de a eliminarmos temos de a purificar”.

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