50 anos da vida de D. António Ferreira Gomes no palco Desde o início dos anos noventa, as pessoas “começaram a sugerir” que se fizesse uma peça de teatro sobre D. António Ferreira Gomes. Os anos passaram-se e no dia do centenário do nascimento deste bispo (10 de Maio de 2006), a Companhia «Seiva Trupe» do Porto colocou em cena a peça “António, Bispo do Porto”. Depois tantos apelos “comecei a entrar e a mergulhar na obra deste gigante” – confessou à Agência ECCLESIA Júlio Cardoso, encenador da referida peça que está em exibição, até ao próximo dia 2 de Julho, no Teatro do Campo Alegre (Grande auditório) no Porto. O trabalho prévio “não foi doloroso” porque “verifiquei logo que estava perante um homem com um arcaboiço intelectual fabuloso”. E adianta: “uma personagem da própria peça diz que o povo pode não entender o seu discurso mas sabe penetrar naquilo que está por detrás dele”. A “genialidade” está presente na obra do «bispo do Porto» porque – utilizando um termo de D. António – “temos que ser irmãos uns dos outros para desenvolver esta lusitanidade” – referiu Júlio Cardoso Depois de falar com Margarida Fonseca Santos – escreveu a peça –, esta “ficou muito espantada” de se fazer uma teatralização sobre um bispo. Depois de “fazermos montanhas de entrevistas” com pessoas que conheceram, conviveram, lidaram e contactaram com D. António Ferreira Gomes “metemos mãos à obra”. Estes contactos não dispensaram a “leitura das obras e de estudos sobre D. António” – confidenciou. Depois desta caminhada “estou satisfeitíssimo com o resultado” até porque “temos recebido muitos elogios”. O «famoso bispo do Porto» – expressão de João Paulo II – é uma “figura gigante da cultura e da igreja em Portugal”. Apesar da profundidade da obra do «actor principal», o encenador reconhece que foi difícil fazer ligação do lúdico com a mensagem deste bispo. “Depois de batermos muitas vezes com a cabeça nas paredes pensámos começar com o papel que ele desempenhou como reitor do seminário”. As centenas de jovens que frequentavam o seminário estavam sujeitos – “todos nós somos ilhas” – à problemática da natureza humana e D. António teve que confrontar-se com “os problemas destes: uns resolvem sair e outros seguir o caminho do sacerdócio”. Dois dias depois da estreia o êxito parece garantido. Nos próximos dias “temos sessões que estão esgotadas” numa sala com lotação para 400 pessoas. Os resultados estão a ultrapassar as perspectivas “mais optimistas” – garantiu Júlio Cardoso. E acrescenta: “sentimos o pulsar das pessoas”. Em relação ao futuro talvez a peça suba ao palco noutros teatros. “Já nos convidaram” mas existem pequenos pormenores que dificultam. “O cenário é um pouco complexo”. Com cerca de duas horas (a primeira versão tinha quatro horas e meia) «António, bispo do Porto» retrata cerca de 50 anos da vida deste homem. Com uma “grande vertente musical” e coreográfica, a peça “tem uma rigorosa análise dramatúrgica” – afirma. D. António foi renovador “em tudo” por isso a música – de princípio ao fim – “é original”. Neste ponto “devemos muito ao compositor Carlos Azevedo”. E avança: “nada na peça é gratuito”. Apesar da encenação ser um todo, Júlio Cardoso sublinha que há um episódio que o marcou. “A despedida de Alba Tormes, a última terra onde D. António esteve exilado”. E comovido realça: “foi um adeus e uma bênção”. Os que viram a peça dizem que aquele adeus “é bestial” e “foi muito bem interpretado por Alexandre Falcão (faz de D. António Ferreira Gomes)”