Quando o cinema europeu aproxima o seu estilo do que nos chega dos Estados Unidos aumenta a sua capacidade de divulgação, mesmo na própria Europa. É certo que as obras produzidas deste lado do Atlântico têm por vezes uma consistência profunda, uma solidez e interesse indiscutíveis. Mas o público, de uma forma geral, habituou-se a um ritmo de narrativa com grande vivacidade e diálogos em inglês. Por isso muitas obras europeias, mesmo que não provenham do Reino Unido, usam a língua inglesa directamente na produção. “No Limiar da Verdade”, de capitais alemães e ingleses, espreita a sua oportunidade não só na língua utilizada como no ritmo adoptado. Misturando a violência do thriller (embora de forma muito limitada) com o mistério digno dos mestres do suspense, cruza os dados materiais e as situações fantasmagóricas de uma forma inteligente e equilibrada. A dificuldade do espectador, até perto do final, reside em distinguir com exactidão qual a fronteira exacta entre a imaginação ou visões da protagonista e os factos que realmente a rodeiam, cercando-a de perigos com intenções malévolas. Temos assim, um filme de mistério que se desenvolve dentro das linhas clássicas, com um bom resultado em termos de suspense, devendo-se boa parte do resultado alcançado ao trabalho de Demi Moore, actriz americana com muita experiência e indiscutível talento, que está presente na quase totalidade das sequências. Sendo cada vez mais escasso o cinema de mistério com alguma solidez “No Limiar da Verdade” é uma oportunidade de retomar o contacto com um estilo que tem caído em desuso, ficando na penumbra a explicação do funcionamento da perturbada mente da protagonista. Sem marcar uma posição ímpar na História do Cinema, “No Limiar da Verdade” é um trabalho que se enquadra num divertimento bem construído que merece a atenção do público cinéfilo. Francisco Perestrello