Iniciativa procura criar pontos de encontro, aproveitando religiosidade deste meio
Aveiro, 08 jul 2011 (Ecclesia) – Aproveitando a “religiosidade própria do pescador”, a paróquia da Torreira (diocese de Aveiro) vive, este domingo, uma festa onde os pescadores e seus familiares apresentam “os frutos do trabalho piscatório”.
Em declarações à Agência ECCLESIA o padre Abílio Araújo, pároco daquela localidade, relata que quando chegou à Torreira, em 2005, sentiu “necessidade de criar pontos de encontro com a comunidade piscatória”, por isso resolveu “envolver os pescadores em iniciativas”.
Apesar de “não participarem regularmente nas celebrações”, os pescadores são os protagonistas das grandes festas da Torreira: “No Corpo de Deus fazem uma procissão na ria de Aveiro e na festa da padroeira, Nossa Senhora do Bom Sucesso”, disse.
Através da festa, os homens do mar “manifestam o amor e o temor a Deus” porque eles sabem que a sua vida está “muito dependente da proteção divina”, acrescentou o pároco.
Domingos Silva, o coordenador da comissão organizadora da festa, Tem 44 anos e sempre foi pescador.
Os pais já eram moliceiros, e o filho Domingos seguiu-lhes as pisadas porque a pesca “é um vício”, realça
Segundo este filho da terra – já esteve no estrangeiro na pesca – a Torreira “é a zona do distrito de Aveiro com mais pescadores, daqueles que trabalham o peixe”, disse.
Para que a festa tenha continuidade, a paróquia proporciona também “alguma formação” aos pescadores e seus familiares através da pedagogia e dos “valores da festa”, sublinhou.
Natural de Barcelos (Braga), o padre Abílio Araújo, é também secretário da pastoral da mobilidade humana da diocese de Aveiro, “não tinha qualquer afinidade com o mundo dos pescadores, nem gosto pessoal”, mas, atualmente, vive a realidade piscatória de forma diferente.
Circunstancialmente, entra “numa «bateira»” e vai até ao meio da ria “para acompanhar o ritmo da vida dos pescadores”, confessou e acrescenta: “é uma caminhada pessoal bastante rica”.
Entrou na vida dos pescadores e até faz peregrinações a pé com eles, ao Santuário de Fátima porque – como confessa Domingos Silva – “os pescadores são muito devotos de Nossa Senhora de Fátima”.
Com 38 anos e cinco deles passados junto dos «guerreiros do mar», padre Abílio confidencia que a mentalidade dos pescadores “é diferente” das outras pessoas porque “vivem ao ritmo das marés” que “não é o mesmo do dia e da noite”.
A relação “pessoal e de confiança” é fundamental para os pescadores, visto que vivem com “a desconfiança do mar”, olham-no como amigo porque lhes “dá o rendimento”, mas também “muito perigoso e traiçoeiro”, afirma.
Ouvir os lamentos dos pescadores é também uma tarefa do pároco porque “sentem a falta de apoios e incentivos”, salienta o pároco da Torreira.
A festa decorre no dia em que Igreja Católica celebra o Domingo do Mar, para o qual o Conselho Pontifício para a pastoral dos Migrantes e Itinerantes escreveu uma mensagem onde realça que o Apostolado do Mar “tem conhecimento de muitas situações desumanas que ainda persistem no mundo marítimo e se coloca ao lado da ‘gente do mar’ para insistir em que os seus direitos humanos e trabalhistas devem ser respeitados”.
LFS