Dolorosas realidades

As crianças não estão, de todo, no centro da agenda política, de modo que se fomente a defesa dos seus direitos

Celebrou-se, no passado dia 25 de maio, o Dia das Crianças Desaparecidas. O mês de junho abre, entretanto, assinalando, entre nós e em muitos outros países, o Dia Mundial da Criança.

À força de repetidas, as efemérides correm o risco de comemorações rotineiras, preservando essencialmente o seu caráter mais lúdico. As circunstâncias aconselham, contudo, a não se desprezar qualquer simples oportunidade de chamar a atenção para dolorosas realidades: aumenta o número de crianças vítimas de maus tratos e abandono e, em 2011, o telefone europeu disponível em 16 países para reportar crianças desaparecidas registou mais de três mil pedidos de ajuda. Em Portugal, no mesmo período, a Polícia Judiciária terá anotado cerca de 1500 destes casos. Se acrescentarmos as estatísticas respeitantes ao aborto, à seleção pré-natal e as vítimas da miséria, das guerras e do trabalho infantil, a dimensão do problema ganha ainda mais violentos contornos.

Os números são o que são. Sendo a evidência de conflitos familiares, mostram fundamentalmente que as crianças não estão, de todo, no centro da agenda política – de modo que se fomente a defesa dos seus direitos e se combatam, sem adiamentos nem indesejáveis protecionismos, todas as formas de abuso de que são alvo.

Não o fazer, sem tréguas, é péssimo sintoma, uma vez que «o respeito pelos direitos humanos das crianças constitui um dos parâmetros da saúde de uma sociedade» – como sublinhou D. Silvano Tomasi, em representação da Santa Sé, numa sessão do Conselho Sobre os Direitos do Homem.

Vale a pena citar, dessa mesma intervenção: «A meta da eliminação da violência contra as crianças e da promoção de um contexto construtivo e sadio para o seu desenvolvimento exige que o Estado e a sociedade ajudem concretamente a família, tornando-a capaz de desempenhar a tarefa que lhe é própria. Com efeito, uma maneira vital de se opor à vulnerabilidade das crianças consiste em fortalecer as famílias em que as mesmas são chamadas a crescer, a desenvolver-se e a serem formadas como cidadãos responsáveis e produtivos nas suas comunidades locais e no conjunto da sociedade».

Neste trabalho estão claramente envolvidos milhares de instituições da Igreja Católica que, juntamente com a família, a escola e outros responsáveis pela vida em sociedade não podem poupar-se a esforços para que todas as crianças tenham um mundo melhor; sejam consideradas plenamente pessoas humanas e não objetos manipuláveis.

Elas têm o direito de ser amadas sem utilitarismos e viver, felizes, a idade de ter pássaros no coração.

Padre João Aguiar Campos

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Agência ECCLESIA

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