Responsável pela Rede Fé e Justiça África-Europa em Portugal reflecte sobre «recomendações» em tempo de crise Terminaram este Domingo dois fóruns mundiais, um em Davos (Suíça) e outro em Belém (Brasil). Foram palcos e caixa de ressonância de dois mundos afectados igualmente pela crise: o grupo do poder, agora fragilizado e em pânico pela abrangência e profundidade da crise; diferentes forças da sociedade civil, porta-vozes dos mais pobres, marginalizados, indígenas e dum planeta em degradação progressiva. O 39º Fórum Económico Mundial (FEM) reuniu cerca de 2.500 participantes de 28 de Janeiro a 1 de Fevereiro. Sobre a instância turística de Davos pairaram nuvens escuras de pessimismo perante a crise financeira, económica e social. No FEM faltaram muitos banqueiros, empresários e chefes de Estado influentes. Falou-se na necessidade de evitar o proteccionismo, promover organismos internacionais de regulação do mercado, implementar medidas de protecção social, investir em economias verdes. No final, restam apenas algumas recomendações que ninguém sabe se vão ser tidas em conta pelos governos nacionais devido à pressão dos lobbies e dos desempregados na rua. Findo o fórum da crise, o olhar ansioso vira-se para o encontro do G20 em Londres, no dia 2 de Abril de 2009. O 8º Fórum Social Mundial (FSM) reuniu em Belém 150 mil participantes de Organizações não governamentais, religiosas e sindicais de 27 de Janeiro a 1 de Fevereiro. Das 5.800 entidades inscritas, a maioria era da América do Sul (mais de quatro mil), seguida de 490 da África, 275 da América do Norte e Central e 335 da Europa. Belém, às portas do rio Amazonas, colocou no centro a questão do ambiente. “Um outro mundo é possível” era o lema. Foi um espaço aberto a propostas, análises, troca de experiências, fortalecimento de plataformas. Não apresentou conclusões finais, mas pediu mais participação da sociedade civil e mudanças no sistema financeiro. Um grupo propôs a realização de um FSM temático, ainda este semestre, nos Estados Unidos da América para debater a crise financeira. A questão ambiental exige uma aposta nas energias renováveis e em estratégias empresariais que diminuam o carbono, o desflorestação e a emissão de gases com efeito estufa. O FSM apela à mobilização para a Conferência sobre o Clima, em Copenhaga, no final de 2009. Na origem da actual crise financeira está a ausência de valores e uma confiança utópica na mão invisível e reguladora do mercado, ignorando a condição humana propensa ao egoísmo e ao lucro fácil e fraudulento. A globalização, a informática em rede e o marketing permitiram o roubo e a comercialização de produtos financeiros pintados de “sustentáveis” mas vazios de nada. É preciso colocar o económico e o social a dialogar ao nível local, regional e mundial. É fundamental que a ajuda exterior ao desenvolvimento não diminua para que os Objectivos do Milénio não sejam suspensos. Devemos estar atentos às reacções xenófobas que fazem dos imigrantes os bodes expiatórios da crise de desemprego. Em tempos de crise é preciso nem perder a cabeça nem o coração. Pe. J. Augusto, Responsável pela AEFJN Portugal