Paulo Rocha, Agência Ecclesia
Os dias seguintes à última das Aparições na Cova da Iria, em outubro de 1917, geraram expectativa, curiosidade, ansiedade, mobilização popular. O decurso do tempo e dos acontecimentos no primeiro ano após a revelação de uma Mensagem, em Fátima, foram, no entanto, insuficientes para prever as transformações sociais que iriam provocar, ao longo de um século.
O contexto de um republicanismo hostil à religião a partir de 1910, a saída para a Flandres de muitos portugueses para as fileiras da I Guerra Mundial e o ambiente rural da Cova da Iria não indicariam a possibilidade de um “evento” de matriz espiritual se notabilizar na segunda década do século XX nas encostas da Serra de d’Aire. Nestas como em quaisquer outras encostas do Portugal frágil desses tempos, onde o elemento religioso adquiria contornos populares escondidos, mas profundos e genuínos. Mas foi a partir destas periferias que Fátima se afirmou, se ergueu e se validou no miolo de um catolicismo em recomposição e na alternância de protagonistas da sociedade de então.
A prudência no reconhecimento das Aparições de Fátima por parte da Igreja Católica, nomeadamente pela Diocese de Leiria, restaurada em 1918, não impediu a mobilização popular em torno das revelações do céu aos três pastorinhos. Referências de Deus que foram procuradas por milhares de pessoas após as primeiras aparições da “Senhora vestida de branco”, nomeadamente aquando da promessa de “um sinal”, no dia 13 de outubro de 1917.
A pobreza do cenário rural, a condição infantil dos recetores da Mensagem e a surpresa do “fenómeno” divino fizeram com que o sinal maior do que ocorrera e ainda não se alcançara fosse a certeza de se tratar de um sinal de Deus. O que bastou para motivar o peregrinar constante à Cova da Iria, para ativar a renovação de experiências crentes e para reconfigurar o catolicismo em Portugal. Tudo em torno das Aparições de Fátima. No primeiro ano da sua história como no primeiro século. E nos que aí vêm…
Paulo Rocha