Do Policial ao Thriller

A sensação de medo provocada pelos filmes de terror ou a de perigo inerente às obras de suspense, são sentimentos que contrariam o objectivo de bem estar, mas que são desejados pelo espectador como forma de contraste com a realidade. Fica-se com a sensação de que vivemos melhor que os mais infelizes que, no decurso do filme, são sujeitos a tais situações extremas. E havendo surpresa na sua execução melhor nos sentimos. Nenhum outro soube explorar esta combinação de sentimentos como Alfred Hitchcock. Construindo falsas pistas com rara habilidade encontrava saídas muitas vezes inesperadas, ou fazia variar o rumo dos acontecimentos de uma forma imprevisível. Primeiro em Inglaterra, depois nos Estados Unidos, tornou-se uma referência única do filme policial. Nos anos mais recentes não se têm encontrado sucessores para este cineasta. Raros são os filmes propriamente policiais – no sentido hitchcockiano do termo – preferindo-se a via do thriller, o filme de acção intensa em que mistério é substituído pela ansiedade da busca da solução final. Tudo é mais rápido, menos analítico, sendo menor a exigência de participação da inteligência de quem vê o filme. «Ligação de Alto Risco», realizado por David R.Ellis, é mais um exemplo desta nova via de abordagem da matéria do crime e da sua repressão. Centrado num caso de sequestro suporta boa parte do suspense numa ligação telefónica, obtida em circunstâncias difíceis e mantida longamente à revelia da vigilância a que a sequestrada está sujeita. A acção mantém-se num ritmo elevado, de início até final, e chega-se a criar algum clima de incerteza embora o final feliz seja, logo à partida, um dado adquirido. «Ligação de Alto Risco» é apenas um divertimento fugaz, mas está bem realizado conseguindo manter a atenção de início até final. Um filme que se vê com agrado mas que não marcará o espectador de uma forma intensa. Francisco Perestrello

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