Quando teve o seu início, em outubro de 1962, o II Concilio do Vaticano foi saudado como o fim da época constantiniana.
O Papa Francisco apelou, dia 15 de maio, ao respeito pelo direito à “expressão pública” da fé de cada pessoa, numa mensagem que assinalou o 1700.º aniversário do Édito de Milão, que trouxe liberdade religiosa aos cristãos. Num texto dirigido ao cardeal Angelo Scola, arcebispo de Milão (Itália), o Papa argentino pediu para que seja respeitado “em todos os lugares o direito à expressão pública da própria fé e seja acolhido sem preconceitos o contributo que o Cristianismo continua a oferecer à cultura e à sociedade do nosso tempo”, lê-se no texto que o Papa eleito, no último mês de março, escreveu ao arcebispo milanês. O édito que decretou a “liberdade religiosa para os cristãos” foi assinado pelo imperador romano Constantino, que nasceu em 274 e faleceu em 337.
Quando teve o seu início, em outubro de 1962, o II Concilio do Vaticano foi saudado como o fim da época constantiniana. Para o teólogo Chenu este era um objetivo do concílio, formulado em conferência das jornadas de estudo das «Informations Catholiques», de 1961. (Ver: CONGAR, Y. – Un Concile pour notre temps. Paris : Cerf, 1961, 59.)
O cardeal e teólogo Walter Kasper, no seu recente tratado de eclesiologia, antecipa esse declínio, ao afirmar: “a longa época constantiniana (IV-XVIII) e os efeitos produzidos na época burguesa, […] acabaram com a primeira e depois, em medida completa, com a segunda Guerra mundial. Acaba assim também a época “cristã” da Europa. O fim da época constantiniana significa o fim do Corpus Christianum, da época na qual o cristianismo era claramente maioritário na Europa, podia contar com o poder político como braço secular e podia influenciar em larga medida a vida social”. Considera Kasper que a Igreja de velho estilo está definitivamente no passado, com o “fim da era constantiniana”.
Numa conferência proferida na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, o bispo e historiador português, D. Carlos Azevedo, sublinhou que o II Concilio do Vaticano é, “depois do pré-primeiro aberto por são Pedro, de facto o primeiro concilio fora do ritmo constantiniano, pois o Papa do tempo do I Concilio do Vaticano ainda dependeu, na sua eleição, do veto das potências”.
Um observador “atento do processo conciliar”, como D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto e um dos padres conciliares, comentava, nos anos 60, que “os progressistas podiam ser acusados de querer matar a idade constantiniana da cristandade. Mas não. Apenas verificam que essa morte aconteceu, “superficialmente contra a Igreja «encarnada», mas sem grande pena nem glória do cristianismo”. (Ver: «Pareceu ao Espírito Santo… e a nós?!» Porto, Fundação Spes, 2000.)
“Apesar da certidão de óbito passada pelo Concílio, o modelo da cristandade constantiniana é como ente querido, que, mesmo morto, alguns guardam no coração. Mas o que é doentio é querer ressuscitá-lo para morrer de susto, definitivamente”, disse D. Carlos Azevedo na sua intervenção sobre «Constantino: persistência de um paradigma na Igreja de hoje» na UCP a 11 de maio de 2012 (In: Didaskalia 42:2 (2012) 177-193)
A mensagem do Papa Francisco fala numa “decisão histórica” (o Édito de Milão) que abriu caminho “de forma decisiva ao nascimento da civilização europeia”.
LFS