Do dialogo à paz duradoira

Isabel Bento, Comunidade de Santo Egídio

O caminho que se iniciou no histórico dia 27 de outubro de 1986, está ainda no limiar da estrada a percorrer do Diálogo Inter-religioso, mas este deve ser percorrido com coragem, e com um respeito profundo do outro.

Estamos ainda a dar os primeiros passos, mas a inspiração que João Paulo II teve foi profética. Algo que ate à data não tinha sido presenciado na história da humanidade. Um gesto cheio de significado. Juntar no mesmo sítio Homens e Mulheres dos 5 continentes, com histórias diferentes, culturas diferentes, e principalmente com crenças diferentes. Simplesmente pôr em comum o que podiam fazer: rezar, jejuar e percorrer um caminhos juntos, ou seja lado a lado.

Recordo aquela imagem, como algo extraordinário. De uma forma simples, convidou para que com ele partilhassem aquele dia, num “ espírito de profundo amor e respeito”. O mundo estava repleto de conflitos, principalmente, aquele que dividia o mundo em dois blocos. África era um continente verdadeiramente esquecido “ dos homens” mas não de Deus, marcado profundamente por tantos conflitos…. onde a vida humana, parecia valer muito pouco. Era necessário dar um sinal ao mundo, de esperança!

Mas se para o mundo a imagem de um Papa ao lado do Patriarca Ortodoxo de Constantinopla, não era inédito, se recordamos o histórico encontro de Papa Paulo VI com o Patriarca Atenágoras e o seu histórico abraço pela Paz. Este encontro era algo único, pela primeira vez na história, reunidos na mesma sala, na mesma praça Cristãos, Muçulmanos, Judeus, Budistas, hinduístas, Islamitas, xintoístas, etc.. É como um grande ícone do século XX. Uma imagem que percorre o mundo. Um gesto que tocou o coração de muitos. 

Há aqui que referir, duas questões. Uma delas é que este convite tem dois sentidos, aquele do Papa João Paulo II que convida, mas também aquele de todos estes chefes religiosos, que respondem de uma forma inequívoca a este apelo e se juntam a esta jornada de oração pela Paz no Mundo. Tornando este evento em algo que é de todos.

A outra questão é que esta imagem, ou estes gestos, poderiam não ter passado a mais do que isso mesmo. Mas pelo contrário, este ícone tocou o coração de muitos, de forma a sustentar a ousadia de repetir este dia e continuar a reunir desta forma ano após anos pessoas de religiões diferentes, tendo percorrido como se de uma caravana se tratasse, ao logo de tantas cidades, e países do mediterrâneo, uma caravana de Paz, de dialogo.

Abriu-se uma estrada, nem sempre fácil, e pensemos nos séculos de história deixados para trás, com feridas para sarar, abismos que são necessários ultrapassar, construindo pontes. Mas os passos, simples, tímidos têm sido percorridos um após o outro.

Homens e mulheres audazes, que inspirados nesse encontro, continuaram este percurso de diálogo… Muitas vezes difícil se olharmos para as profundas transformações que o mundo viveu depois daquele ano. A queda do Muro de Berlim, o final de uma serie de conflitos …infelizmente o inicio de outros, como foi aquele dos Balcãs, da Antiga Bósnia Herzgovina…. ou aquele mais recente e que veio perturbar a paz mundial, já no início do  sec XX, em 2001, o 11 de setembro.

Acontecimento que põem à prova este caminho, que em 2000, Joao Paulo II, afirmava não “voltaria atrás” . Em resposta aos últimos acontecimentos, em janeiro de 2002, João Paulo II, volta a convocar para Assis, os chefes religiosos para mais um encontro de Oração pela Paz.

Esta forma de reafirmar, que as religiões não podem ser instrumentalizadas por causa da guerra, que a Paz é nome de Deus. E afirmar a sua profunda convicção que a religião não pode deixar de ser promotora de paz.

Este ano o Papa Bento XVI, convoca mais uma vez as religiões para com ele percorrerem da mesma forma, um caminho, e rezarem juntos pela paz. É uma comemoração destes 25 anos, mas na minha opinião, e também mais uma etapa do caminho, e podemos intuir pela grande novidade de colocar junto com as grandes religiões Mundiais, os não crentes. Para os crentes, este é quase um diálogo mais difícil do que aquele entre as diferentes religiões, e colocá-lo no mesmo patamar, mostra a maturidade da “ vida adulta” do diálogo.

Novos desafios a este caminho? Seguramente! Não devemos esquecer que o Diálogo Inter-Religioso é feito de acontecimentos, mas é feito de encontro de Homens e Mulheres que apesar da sua fé, ou não ,  acreditam que partilham uma Herança de Cultura, História. E que este é uma riqueza que deve ser posta ao serviço de todos, e que só dialogo pode levar à Paz duradoira.

Isabel Bento, Comunidade de Santo Egídio

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