Do culto do corpo à beleza interior

A idealização do corpo toma conta dos nossos dias. As sugestões de uma beleza perfeita proliferam e encontram eco na sociedade contemporânea. Os padrões de beleza impostos externa e internamente não dão lugar a imperfeições, quando os conceitos de beleza se apresentam dúbios. Sobre o encanto e o desencanto do culto do corpo se centrou a terceira conferência de Maio, da responsabilidade do Centro de Reflexão Cristã. Entre o painel de convidados, Laurinda Alves reflectiu que a sociedade “impõe padrões de beleza muito objectivos que nos faz encantar com um corpo ideal, mas onde o desencanto surge logo depois porque nos confrontamos com a realidade que é o facto do nosso corpo não corresponder a esse corpo encantado e idealizado”. Há uma ambivalência no encanto e desencanto do corpo, não só do ponto de vista pessoal como em relação ao corpo dos outros. Esta é “a primeira imagem que se recebe de uma pessoa”, tendo por isso um grande peso na comunicação, pois “a presença física tem sempre um impacto nos outros”. A jornalista aponta para a importância de “se aceitar e assumir que o corpo é muito importante”. Laurinda Alves considera a beleza interior mais completa e mais perfeita porque “emana de nós”. A relação de encanto e desencanto “é permanente e funciona como um motor de transformação, que muitas vezes nos perturba e inquieta mas que também nos traz satisfação, conforto e bem estar”, salienta. O culto do corpo é “extraordinariamente esvaziante”, no sentido em que oferece uma “meta inatingível”, uma perfeição que não é possível ser alcançada, “e nos esvazia porque nos faz correr para coisa nenhuma”. Nesse sentido a jornalista adverte “as metas e fasquias demasiado altas que pomos a nós próprios e as que nos são impostas”. Na sociedade o culto do corpo, da perfeição e do bem estar “são mitos que importa interiorizar, desfazer e contextualizar na nossa realidade”, porque as pessoas que tentam melhorar obsessivamente o seu corpo “não percebem a armadilha que essa atitude implica”. O corpo é uma “circunstância entre muitas” e um corpo “mais ou menos bonito até com deficiências ou malformações” não faz da pessoa “menos completa ou com menos capacidades”. Laurinda Alves sublinha que “o culto do corpo começa e acaba na aceitação da imperfeição”, e revela, que “pode mesmo ser transformador contactar com alguém que tem uma deficiência física e mantém uma atitude positiva. Isto tem resultados na sua pessoa mas também em quem lida com ela”. As conferências de Maio, da responsabilidade do Centro de Reflexão Cristã são momentos “essenciais para se partilhar, pensar alto e em conjunto sobre as grandes questões que estão dentro de nós e que nos inquietam”, considera a jornalista. O contributo dos participantes na conferência sobre “O culto do corpo: encanto desencanto” foi muito complementar “porque foi abordada uma visão muito ampla”. O que nos faz correr “ficou muito explícito ontem”, finaliza. Para além de Laurinda Alves, a conferência contou ainda com o contributo de Eduardo Sá, Helena Marujo e Luís Miguel Neto. O moderador foi Manuel Vilas Boas. O ciclo das conferências de Maio de 2007 termina no próximo dia 29, com a reflexão em torno de “De que Espírito Somos?”

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