Do Baixo Alentejo a Santiago de Compostela

Exposição na Diocese de Beja mostra a influência do Apóstolo no Sul de Portugal, esquecida ao longo dos últimos anos No Baixo Alentejo existiram importantes vias e segmentos do caminho em direcção a Santiago de Compostela. Com o intuito de mostrar o culto de Santiago, a sua irradiação europeia e internacional e o fenómeno da peregrinação estará patente ao público, de 11 de Julho a 31 de Outubro, em Santiago do Cacém (diocese de Beja), uma exposição «No Caminho sob as Estrelas – Santiago e a peregrinação a Compostela». José António Falcão, Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e Comissário Geral da Exposição, disse à Agência ECCLESIA que esta mostra tem cerca de 120 obras de arte (80 provenientes da Galiza e as restantes de colecções portuguesas) que “estabelecem um diálogo entre as duas realidades”. As peças galegas são provenientes do Tesouro da Catedral de Santiago de Compostela, de museus públicos e de algumas igrejas das quatro províncias que compõem a Galiza. “Peças do Século XI, incluindo vestígios da arquitectura da catedral de Compostela, até ao século XXI com uma obra de Joana de Vasconcelos” – frisou José António Falcão. E adianta: “Mostra-se também o culto de Santiago no novo mundo (Peru, México, Bolívia)” Em relação ao caminho de Santiago, o Comissário Geral sublinha que existe “um erro em Portugal quando se associa o culto de Santiago apenas ao Norte do país”. E avança: “Existe até uma cartografia que sinaliza o caminho de Santiago a partir de Lisboa”. Incorrecções porque no Baixo Alentejo também existem caminhos em direcção àquele Santuário na Galiza. A exposição está patente na Igreja Matriz de Santiago do Cacém (ali veneravam e veneram-se as relíquias) porque “foi um santuário secundário do caminho”. “Havia uma via que passava no Alentejo litoral (vinha do promontório sagrado – Cabo S. Vicente) e seguia em direcção ao norte”. Naquele santuário, os peregrinos retemperavam as forças e, aqueles que estavam doentes, “recuperavam das maleitas no Hospital do Espírito Santo” – salienta José António Falcão. Ao falar do título da exposição – «No Caminho sob as Estrelas – Santiago e a peregrinação a Compostela» – o Director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja realça que “pretendemos dar a conhecer a realidade alentejana do caminho de Santiago e do culto de Santiago. Uma realidade que se constrói sempre em ligação com Compostela”. A partir do século XIX – acontece por toda a Europa – o culto de Santiago entra “num certo esquecimento”, mas, actualmente, “ainda continua presente”. A prova disso é que “o dia do município de Santiago do Cacém continua a ser o de S. Tiago”. O culto está vivo e “somos filhos da conjuntura histórica que foi o caminho de Santiago”. Será que esta perda de influência se deve ao fenómeno das aparições de Fátima? “Não há uma relação causa-efeito porque Fátima é outro fenómeno e está também muito ligado ao Alentejo com a devoção a Nossa Senhora”. Não são fenómenos que se combatem entre si, mas “são complementares” – explica José António Falcão. Nos últimos anos, o Baixo Alentejo tem “assistido ao recrudescer” da vinda de peregrinos em direcção a Santiago de Compostela. “Passam muitos peregrinos vindos do Algarve e Andaluzia que solicitam às nossas igrejas a compostelana (carimbo oficial que se coloca no passaporte do peregrino)” – confidenciou. Ao fazer referência às igrejas que «dão» a compostelana, o Comissário Geral realça: Santiago do Cacém, Cercal e Grândola. No início, os párocos destas igrejas “achavam uma coisa estranha”, mas, hoje em dia, “estão sensibilizados”. A exposição é uma iniciativa tripartida do Município de Santiago do Cacém, do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e da Xunta de Galicia, realizada com o apoio do Xacobeo S. A., centrando-se na figura de Santiago Maior – Apóstolo, Peregrino, Referência da Reconquista. A mostra reunirá peças vindas de museus, igrejas e colecções particulares de Espanha e Portugal (mas também de França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Flandres, México, Perú, Bolívia e Colômbia) trazendo a Portugal peças de “incalculável valor e alguns tesouros nacionais de Espanha, muitos deles conhecendo aqui a sua primeira itinerância” – sublinhou. Para além dos elementos ligados à arte sacra, a mostra possui uma “dimensão histórica e antropológica”, incluindo peças de grande interesse deste ponto de vista, “como um Santiago Mata-Espanhóis, trabalho peruano do séc. XIX”. Este projecto internacional marca o princípio de um ciclo de exposições que serão complementadas com outras parcerias com a Xunta de Galicia – nomeadamente as Jornadas Galaico-Portuguesas e a criação de um Centro de Estudos Jacobeus.

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