Discurso do Papa na celebração de acolhimento

Foto Miguel A. Lopes/Lusa

Queridos jovens, boa tarde!

Bem-vindos! Bem-vindos e obrigado por estardes aqui. Fico feliz por vos ver! E feliz fico também ao escutar o simpático barulho que fazeis, contagiando-me com a vossa alegria. É belo estarmos juntos em Lisboa: para aqui fostes chamados por mim, pelo Patriarca – a quem agradeço as palavras que me dirigiu –, pelos vossos Bispos, sacerdotes, catequistas, animadores. Agradeçamos a todos aqueles que vos chamaram e a quantos trabalharam para tornar possível este encontro: façamo-lo com uma grande salva de palmas! Mas foi sobretudo Jesus quem vos chamou; agradeçamos, pois, a Jesus com outra grande salva de palmas!

 

Vós não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Chamou-nos a todos desde o início da vida. Chamou-vos pelos vossos nomes. Como ouvimos na Palavra de Deus, Ele chamou-nos pelo próprio nome. Chamados pelo nome: tentai imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título da vossa vida, o sentido daquilo que sois. Tu foste chamado pelo teu nome: tu… além, tu… ali, tu… aqui, e também eu, todos nós fomos chamados pelo próprio nome. Não fomos chamados automaticamente, fomos chamados pelo nome. Pensemos nisto: Jesus chamou-me pelo meu nome. São palavras escritas no coração; pensemos, pois, que estão escritas dentro de cada um de nós, nos nossos corações, e formam uma espécie de título para a tua vida, o sentido do que és, o sentido daquilo que cada um é. Foste chamado pelo teu nome. Nenhum de nós é cristão por acaso, todos fomos chamados pelo nosso nome. Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, antes das sombras, das feridas que trazemos dentro de nós, recebemos um chamamento. Fomos chamados, porquê? Porque amados. Fomos chamados, porque somos amados. É belo! Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar, para encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única, original. Cada um de nós é único e original, e não chegamos sequer a vislumbrar a beleza de tudo isto.

 

Queridos jovens, nesta Jornada Mundial da Juventude, ajudemo-nos mutuamente a reconhecer esta realidade; sejam estes dias ecos vibrantes da chamada amorosa de Deus, porque somos preciosos a seus olhos, apesar do que às vezes os nossos olhos veem; é que às vezes os nossos olhos estão enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações. Sejam dias em que o meu nome, o teu nome, através de irmãos e irmãs de muitas línguas, de muitas nações (vimos tantas bandeiras) que o pronunciam com amizade, ressoe como uma notícia única na história, porque único é o pulsar do coração de Deus por ti. Sejam dias para fixar no coração que somos amados como somos. Não como gostaríamos de ser, mas como somos agora. E este é o ponto de partida da JMJ, mas sobretudo o ponto de partida da vida. Jovens moços e moças, somos amados como somos, sem maquilhagem. Compreendeis isto?

 

E cada um de nós é chamado pelo nome. Não se trata de um simples modo de dizer, é Palavra de Deus (cf. Is 43, 1; 2 Tm 1, 9). Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, nenhum de nós é um número; mas é um rosto, é uma cara, é um coração. Quero que cada um de vós note uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado. Quantos lobos se escondem por trás de sorrisos de falsa bondade, dizendo que conhecem quem és, mas sem te querer bem, insinuando que creem em ti e prometendo que serás alguém, para depois te deixarem sozinho, quando já não lhes fores útil. E estas são as ilusões do mundo virtual e devemos estar atentos para não nos deixarmos enganar, porque muitas realidades que hoje nos atraem e prometem felicidade, mostram-se depois pelo que são: coisas vãs, bolas de sabão, coisas supérfluas, coisas inúteis e que deixam o vazio interior. Digo-vos uma coisa: Jesus não é assim, não é assim! Ele confia em ti, confia em cada um de vós, em cada um de nós, porque Jesus interessa-Se por cada um de nós; cada um de vós é importante para Ele. Assim é Jesus.

 

E é por isso que nós, sua Igreja, somos a comunidade dos que são chamados; não somos a comunidade dos melhores, não! Somos todos pecadores, mas somos chamados assim como somos. Pensemos um pouco nisto, em nosso coração: somos chamados como somos, com os problemas que temos, com as limitações que temos, com a nossa alegria transbordante, com a nossa vontade de sermos melhores, com a nossa vontade de vencer. Somos chamados como somos. Pensai nisto: Jesus chama-me como eu sou, não como eu gostaria de ser. Somos comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai.

 

Amigos, quero ser claro convosco, que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias: na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais. Há espaço para todos. Assim como somos. Todos. Jesus di-lo claramente. Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o preparara, diz: «Ide e trazei todos», jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos. «Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?» Há espaço para todos! Todos juntos… Peço a cada um que, na própria língua, repita comigo: «Todos, todos, todos». Não se ouve; outra vez! «Todos, todos, todos». E esta é a Igreja, a Mãe de todos. Há lugar para todos. O Senhor não aponta o dedo, mas abre os braços. É curioso! O Senhor não sabe fazer isto [aponta com o dedo em riste], mas isto sim [faz o gesto de abraçar]. Abraça a todos. No-lo mostra Jesus na cruz, onde abriu completamente os braços para ser crucificado e morrer por nós.

 

Jesus nunca fecha a porta, nunca. Mas convida-te a entrar: «entra e vê!» Jesus recebe, Jesus acolhe. Nestes dias cada um de nós transmite a linguagem do amor de Jesus. Deus te ama, Deus te chama. Que belo é isto! Deus ama-me, Deus chama-me. Quer que eu esteja perto d’Ele.

 

Nesta tarde, vós também me fizestes perguntas, muitas perguntas. Nunca vos canseis de perguntar… Perguntar, é bom; aliás muitas vezes é melhor que dar respostas, porque quem pergunta permanece «inquieto» e a inquietude é o melhor remédio contra a rotina, que às vezes se torna uma espécie de normalidade que anestesia a alma. Cada um de nós traz dentro os próprios interrogativos. Levemos estas questões connosco e ponhamo-las no diálogo comum entre nós. Ponhamo-las quando rezamos diante de Deus. Com o transcorrer da vida, essas perguntas vão tendo resposta; só nos resta esperar. E uma coisa muito interessante: o amor de Deus surpreende-nos. Não está programado. O amor de Deus vem de surpresa. Surpreende sempre. Sempre nos mantém alerta e surpreende.

 

Queridos jovens moços e moças, convido-vos a pensar nesta coisa maravilhosa: Deus ama-nos! Deus ama-nos como somos, não como gostaríamos de ser ou como a sociedade queria que fôssemos. Como somos! Chama-nos com os defeitos que temos, com as limitações que temos e com a vontade que temos de avançar na vida. Deus chama-nos assim. Confiai, porque Deus é Pai e um Pai que nos quer bem, um Pai que nos ama. Isto nem sempre é muito fácil. Mas podemos contar com uma grande ajuda: a da Mãe do Senhor. Ela também é nossa Mãe. Maria é nossa Mãe.

 

E é tudo o que vos queria dizer. Não tenhais medo, tende coragem, continuai para diante, sabendo que, por «amortizador» das dificuldades, temos o amor que Deus nos tem. Deus ama-nos. Digamo-lo todos juntos: «Deus ama-nos». Mais alto, não consigo ouvir [repetem]. Aqui não se ouve [repetem] Obrigado. Adeus.

 

Parque Eduardo VII, Lisboa

Quinta-feira, 3 de agosto de 2023

 

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