Senhor Núncio Apostólico, caríssimos Irmãos no Episcopado e demais participantes nesta Assembleia Plenária:
Saúdo cordialmente a todos e a cada um, na alegria com que sempre nos reencontramos, em autêntica e fecunda experiência eclesial e colegial. Refiro especialmente o Senhor D. Gilberto Canavarro dos Reis, com o justo agradecimento pelo excelente trabalho episcopal que realizou na Diocese de Setúbal e a certeza da sua preciosa colaboração, com que não nos faltará decerto. Refiro igualmente o seu sucessor, Senhor D. José Ornelas de Carvalho, que com tanta generosidade aceitou a indicação do Santo Padre, para continuar em Setúbal o trabalho missionário em que já tanto avultou à escala universal. Ao Senhor D. João Lavrador, desejo as maiores felicidades pascais como Bispo Coadjutor de Angra, certo de que aí porá a render as muitas qualidades do seu grande coração pastoral.
Reunimo-nos na sequência da visita ad limina de setembro último, ainda marcados por aqueles dias de comunhão mais próxima com o Sucessor de Pedro e os seus diversos colaboradores, nos serviços centrais da Igreja. Como sempre acontece, também para nós foi ocasião por excelência de colegialidade e partilha, bem como de perspetivação conjunta dos caminhos a prosseguir nas nossas Igreja locais.
Se em 2007 ouvimos o Papa Bento XVI a insistir nos percursos formativos que devemos proporcionar aos católicos de todas as idades, com particular referência à iniciação cristã, escutámos agora o Papa Francisco, dando-nos indicações preciosas sobre o modo mais acompanhado e vivo com que devemos manifestar aos adolescentes e jovens a presença de Cristo – que nunca os abandona e sempre os interpela, transformando “debandadas” em reencontros, mais adiante e mais a fundo.
A presente Assembleia contará como sempre com as comunicações dos responsáveis pelas diversas Comissões Episcopais, instâncias permanentes do nosso trabalho conjunto de apoio às Dioceses portuguesas. Trabalho que tem aqui um momento importante de partilha e sugestões.
Além deste ponto e de outros necessários para a vida eclesial corrente ou a programar, a nossa Assembleia ouvirá os seus representantes na última reunião do Sínodo dos Bispos, que refletiu sobre “a vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Como é sabido, do amplo percurso sinodal dos últimos dois anos, sobressai a importância, porventura ainda maior, da família dentro da comunidade cristã e para além dela, qual “critério” de toda a ação pastoral.
Como o Papa Francisco não se cansa de alertar, uma grande desagregação sociocultural atinge atualmente sociedades inteiras, “descartando” indivíduos e grupos, que ficam tragicamente esquecidos por uma globalização que os não considera nem inclui. Tudo isto reclama uma resposta integradora que só a família pode dar na raiz, como base indispensável da sociabilidade geral.
Da nossa parte, tudo faremos para tornar as comunidades cristãs em autênticas “famílias de famílias”. Como diz o documento final do Sínodo, toda a comunidade há de ser lugar de nascimento sacramental das famílias, onde elas se preparem e depois apoiem mutuamente, nas diversas fases dos respetivos percursos (cf. nº 89-90).
Com a temática familiar se prende também o recente Motu Proprio Mitis Iudex, no tocante à verificação oportuna da validade dos vínculos matrimoniais, sempre que for caso disso. Reforçada que fica a competência e a responsabilidade dos Bispos diocesanos, dedicaremos algum tempo ao aprofundamento duma matéria que exige grande unidade de atuações e critérios.
O Ano Santo da Misericórdia, a começar no próximo mês de dezembro, feliz iniciativa do Papa Francisco, também será objeto de reflexão e partilha do que faremos nas Dioceses, partindo das indicações romanas. É um tema maior e de grande oportunidade, a que não deixaremos de prestar toda a atenção e correspondência. Assim mesmo o apresenta o Santo Padre: «No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja, e para a credibilidade do seu anúncio, que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia. […] Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos – em suma, onde houver cristãos -, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia» (Papa Francisco, Bula Misericordiae Vultus, de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, nº 12). Trata-se duma indicação tão fundamental como prática do objetivo do Ano da Misericórdia, a que prestaremos o mais ativo dos acatamentos.
Outros assuntos merecerão a nossa reflexão, de que destaco a preparação próxima do centenário das Aparições de Fátima, acontecimento de primeira grandeza por tudo o que significa na alma e na prática de tantos católicos de perto ou de longe, como apelo e estímulo à conversão evangélica, pela mediação da Mãe de Cristo. E um tempo de informação e partilha sobre o acolhimento aos Refugiados, com toda a atenção que requer.
Temos também em agenda um documento que dá especial seguimento às indicações acima referidas, das últimas visitas ad limina. Intitula-se Catequese: A alegria do encontro com Cristo, visando a «renovação permanente da catequese». Bem de acordo com o ensinamento do Papa Francisco, delineia-se um perfil de crente que urge formar: o “discípulo missionário”. Daqui o objetivo da catequese: «levar cada catequizando a encontrar Cristo como um amigo que vem ao seu encontro e o chama a caminhar com Ele e a colaborar na missão, esperando dele uma responsabilidade concreta ao serviço da humanidade que Ele ama».
Objetivo que só se atingirá – diz também o documento em estudo – com a integração do catequizando em «comunidades vivas e missionárias», como as nossas paróquias e grupos hão de ser. Bem assim, com a participação indispensável das famílias, uma vez que «aos pais e familiares pertence o direito e o dever da educação, pois, ao gerar a vida, assumem também a missão de lhe dar orientação e pleno desenvolvimento». Tudo exigindo catequistas convictos, que testemunhem o que já vivem, com Cristo e a partir de Cristo: «O catequista deve considerar-se um guia que acompanha no encontro e no caminho de Jesus. Não poderá ser bom catequista se não tiver uma experiência pessoal de encontro e de amizade com Jesus, cultivada pela escuta orante da Palavra viva, pela oração intensa, pela participação frutuosa na Eucaristia. Não poderá formar discípulos se ele mesmo não for discípulo missionário com entusiasmo e esclarecimento».
Outros pontos figuram ainda na nossa agenda destes dias. Sem esquecermos o momento que vivemos como sociedade portuguesa. Não será demais lembrar o que já referimos no comunicado final da nossa última Assembleia Plenária: Todos ganharemos se forem tidos em conta os princípios do pensamento social cristão, tão acentuados na exortação apostólica A alegria do Evangelho, do Papa Francisco – e agora acrescentados na encíclica Laudato si’.
Correspondem a causas essenciais à dignidade humana, como a promoção do bem comum, a ativação dos princípios da subsidiariedade e da solidariedade, respeitando e estimulando a iniciativa dos corpos intermédios da sociedade, para o bem de todos; da superação de situações gritantes de desigualdade e pobreza; do apoio aos mais frágeis, em particular aos nascituros, às mães gestantes e às famílias.
Trata-se, em suma, de salvaguardar a vida humana em todas as suas fases, da conceção à morte natural; da valorização da vida familiar e da educação dos filhos, com referência masculina e feminina de geração ou adoção; de satisfazer as necessidades primárias de educação, saúde, segurança social, trabalho e emprego; de promover uma vida empresarial criativa e solidária; de acolher imigrantes ou refugiados…
Assim iniciamos o trabalho destes dias. Pedindo a Deus a sabedoria que os leve a bom termo, para bem da Igreja e da sociedade inteira.
Fátima, 9 de novembro de 2015
+ Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa e presidente da CEP