Discurso de Abertura da 179.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa

1. No início desta Assembleia Plenária, saúdo o Senhor Núncio Apostólico, os Senhores Arcebispos e Bispos, e os representantes da CIRP e da FNIS. Uma saudação especial para o Senhor D. António Couto, novo Bispo de Lamego, e para o Senhor D. Jacinto Botelho, Bispo Emérito de Lamego. Saúdo, igualmente, os Senhores Jornalistas que, mais uma vez, querem colaborar connosco, alargando os nossos trabalhos ao nível da comunicação social.

Uma memória muito querida está no coração de todos nós: do Senhor D. Manuel Falcão, que passou à etapa definitiva da sua peregrinação e que foi grande obreiro deste órgão colegial do Episcopado Português. A Eucaristia será a mais apropriada expressão dessa memória.

 

2. Temos bem presente a natureza dos nossos trabalhos e do contributo deste órgão para as Igrejas de Portugal: somos Bispos em comunhão, unidos pela fraternidade e responsabilidade colegial. Quanto mais unidos estivermos nessa responsabilidade colegial, mais as Igrejas a que presidimos estarão em comunhão, cada uma com o ritmo próprio das respostas pastorais que procura, sublinhando pontos comuns que, sem anularem a especificidade de cada Igreja, as faz dar à sociedade o testemunho de unidade na caridade. Aliás a busca desses pontos comuns de convergência pastoral tem sido preocupação nossa nos últimos meses.

A nossa comunhão com o Santo Padre, que preside ao Colégio Episcopal é garantia da comunhão das nossas Igrejas particulares com toda a Igreja.

Nesta Assembleia, além da normal partilha das diversas Comissões Episcopais, somos interpelados por propostas pastorais apresentadas pelo Santo Padre e pelos diversos dicastérios que apoiam o seu ministério, e pelos desafios que a presente situação do nosso País apresenta à nossa ação pastoral.

 

3. Das propostas lançadas pelo Santo Padre aos Bispos de todo o mundo sublinho: a Nova Evangelização, o Ano da Fé, o 50.º aniversário da Abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II.

A Nova Evangelização é, antes de mais, uma proposta de radicalidade cristã, um convite a todos os cristãos à santidade. O clero, os institutos de vida consagrada e de vida apostólica, os movimentos, todos os cristãos a que vulgarmente chamamos praticantes, são os primeiros destinatários deste desafio para uma Nova Evangelização.

Esta só acontecerá se os evangelizadores forem testemunhas de vida cristã, pois só isso lhes permitirá evangelizar com “novo ardor”, na expressão de João Paulo II. E esse “ardor” não está, necessariamente, garantido na vasta estrutura organizada da nossa ação pastoral. Só o vigor de uma fé confessada permitirá a ousadia de novas formas de evangelizar em que a missão dos cristãos leigos é importante, no seio da família e das diversas estruturas da sociedade.

A confirmar que esse é o primeiro alvo da Nova Evangelização, o Santo Padre proclamou o Ano da Fé. A fé é a virtude constitutiva da identidade cristã; é da sua força que brota a caridade, verdadeira fonte daquele “novo ardor”.

Estes dois desafios enquadram a proposta de celebração do 50.º aniversário da abertura do Concílio Ecuménico Vaticano II, que traçou as coordenadas de uma fé vivida, em Igreja, radicada na atualidade da Palavra de Deus, centrada em Jesus Cristo, capaz de ser anúncio de esperança para a sociedade contemporânea.

Atrevo-me a propor que a concretização daqueles pontos comuns de renovação pastoral que vimos procurando, sejam, no próximo ano, vivências comuns do Ano da Fé, ao ritmo do Concílio e da Nova Evangelização.

 

4. Neste momento não podemos deixar de ter em conta as interpelações pastorais acrescidas devido ao momento que o País atravessa. Estamos todos interessados em darmo-nos as mãos para, em conjunto, podermos responder às novas situações sociais emergentes, com a resposta própria da Igreja que é a caridade fraterna, a solicitude pelos irmãos em necessidade. Interessa-nos aprofundar tudo o que possa ajudar a construir esta rede de solidariedade. Esta é a resposta própria da Igreja, que congrega neste esforço todos aqueles e aquelas que também aprenderam “a ver com o coração”. Outros têm as suas respostas próprias: os políticos, as associações de empresários e de trabalhadores, a comunicação social e os fazedores de opinião. A todos pedimos, na especificidade do contributo próprio de cada um, a coragem da verdade, a generosidade das soluções propostas, a prioridade dada ao bem-comum, a busca da justiça e da paz social. A verdade deve prevalecer sobre ideologias, o bem-comum está acima de interesses individuais ou grupais, a justiça procurada no realismo das situações exige sempre a equidade.

 

5. Que Nossa Senhora, que nos acolhe no seu Santuário, nos guie na nossa solicitude de Pastores. Queremos suscitar a esperança. Quando os nossos irmãos sofrem, o nosso ministério é chamado a ser mais genuinamente expressão do amor misericordioso e testemunha que o sofrimento foi caminho para a alegria pascal.

Fátima, 16 de abril de 2012

D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa,

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa 

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