Arcebispo libanês manifestou preocupações durante lançamento de Relatório 2014 sobre liberdade religiosa
Lisboa, 04 nov 2014 (Ecclesia) – O arcebispo libanês D. Issam John Darwish disse hoje em Lisboa que a liberdade e o diálogo entre religiões estão ameaçados no Médio Oriente e questionou a aparente apatia do Ocidente.
“O Médio Oriente é hoje o pátio de radicais islâmicos que destroem a imagem de todos os países e criam uma nova ideologia baseada no ódio”, declarou, no auditório da Assembleia da República, em Lisboa, durante a apresentação do Relatório 2014 sobre a liberdade religiosa no mundo, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
O documento revela que os cristãos são o grupo mais atingido pelas violações à liberdade de culto, em particular no Médio e Extremo Oriente, e que no período compreendido entre outubro de 2012 e julho deste ano a liberdade religiosa “entrou numa fase de declínio grave”.
D. Issam John Darwish, presidente de um Comité Episcopal para o Diálogo Islâmico-Cristão, denunciou a ameaça do ‘Daesh’ (autoproclamado ‘Estado Islâmico’).
“Como é que os países ocidentais permitiram que isto acontecesse? Como é que os países democráticos permitiram que estes grupos radicais decapitassem pessoas inocentes?”, perguntou o arcebispo greco-melquita.
Segundo o responsável, os cristãos estão a atravessar “uma fase crítica”, tendo passado, por exemplo, de 80% da população libanesa em 1920 para 40% hoje; as guerras na Síria e no Iraque forçaram muitos cristãos a imigrar.
“Venho hoje de uma região ferida que luta entre países, religiões, seitas, grupos étnicos, na qual pessoas são assassinadas diante dos media”, referiu, lembrando que “igrejas foram destruídas, padres e religiosas foram raptados”.
Segundo o prelado, a chamada ‘Primavera Árabe’ não avançou e os países árabes enfrentam agora “ondas de fanatismo” e “instabilidade”.
O arcebispo de Zahleh e Furzol agradeceu aos portugueses pela “determinação em encorajar a presença cristã no Médio Oriente e melhorar o seu papel no diálogo religioso e cultural”.
Neste sentido, pediu que os responsáveis políticos sejam questionados sobre o fornecimento de armas e fundos às partes em conflito, procurando assistir as minorias religiosas, como os refugiados da Síria e do Iraque no Líbano.
O relatório da AIS passa em revista a situação em 196 países do mundo, dos quais 81 (41%) são identificados como locais onde a liberdade religiosa “é perseguida ou está em declínio”.
Catarina Martins, diretora do secretariado português da AIS, afirmou que é “fundamental” dar a conhecer “a situação dos diversos países do mundo em termos de liberdade religiosa”.
A campanha de Natal da fundação pontifícia vai reverter este ano em favor dos refugiados no Médio Oriente.
Na apresentação do relatório marcou presença Michael Gulbenkian, sobrinho-neto de Calouste Gulbenkian, cristão do Oriente e português.
“Neste país que esteve na linha da frente do intercâmbio religioso, hoje em dia há uma total ignorância” em relação a estas questões, a que se soma uma “total falta de solidariedade”, advertiu.
O orador assinalou que os cristãos do Oriente “estão numa fase extremamente complexa, na medida em que perderam completamente a esperança, sobretudo no Iraque e na Síria”.
“O Cristianismo arrisca-se a desaparecer, nesses países”, alertou, precisando que “é preciso fazer alguma coisa” e não “olhar para o lado” em relação à “tragédia” no Médio Oriente.
Michael Gulbenkian levantou a “questão arménia”, a um ano da comemoração do centenário do “genocídio” e lamentou o “alheamento do Ocidente” perante a destruição de locais de culto na Síria, pelos jihadistas.
“Fala-se, mas não há atos, diria até que há uma hipocrisia assustadora”, concluiu.
OC