Leonor João, Agência ECCLESIA
O 25 de Abril de 1974 representou a vitória da liberdade, da democracia, da justiça, da tolerância, e também dos direitos das mulheres. Nasci 27 anos depois da ditadura que durante 48 anos mergulhou o país no medo, na censura e na opressão. Faço parte de uma geração que não sabe o que é viver condicionada e subjugada a um regime em que a mulher era considerada o sexo fraco.
Sei hoje o que foi a Revolução dos Cravos devido às aulas de história, aos meios de comunicação e ao jornalismo que constroem a memória coletiva e nos ajudam a entender a importância de celebrar Abril. Também a arte assume este papel, provocando-nos e levando-nos a questionar sobre como era Portugal antes da revolução. Foi isso que aconteceu quando descobri a canção “Por nos darem tanto”, da cantora Ana Bacalhau.
Já não preciso de autorização para viajar
Passaporte já não diz que a casa é o meu lugar
E posso abrir todas as contas que o meu salário der
Se houver dinheiro não importa se sou homem ou mulher”
Os versos são da autoria de Garota Não e homenageiam as conquistas das mulheres do 25 de Abril. Uma canção que há mais de 50 anos não podia ver a luz do dia e que nos dá uma lição sobre algo que demos sempre por garantido.
Durante a ditadura, as mulheres só podiam trabalhar com autorização do marido; não podiam ser juízas, diplomatas ou polícias; as enfermeiras e hospedeiras de bordo não podiam casar; o fim do casamento católico não era permitido; o voto não era livre. Cinco décadas depois, vale a pena refletir que não foi assim há tanto tempo que Abril se cumpriu.
Num tempo ameaçado por retrocessos, é mais importante que nunca lembrar que é necessário defender a democracia, proteger e cuidar a liberdade diariamente. Preservar o 25 de Abril, sempre!