“A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é sempre um momento importante da acção da pastoral da Igreja. Elas proporcionam uma experiência da Igreja universal, com uma multidão de jovens, desde os 800 mil nuns lugares a dois milhões em Roma. São jovens tocados pelo testemunho e a força da fé, com uma vivência muito significativa”, disse o Bispo do Funchal ao Jornal da Madeira, após receber alguns “jovens peregrinos”( entre eles três sacerdotes) que agora participam na JMJ em Sidney. Mas, no total, são cerca de trinta e cinco jovens madeirenses que responderam à chamada de Bento XVI para a próxima Jornada Mundial, que se inicia no dia 15 de Julho: onze, através dos Jovens Cristãos da Madeira (foto ao lado); e mais de vinte jovens ligados ao Movimento Neo-catecumenal. “É um bom grupo e a nossa diocese fica bem representada”. D. António Carrilho recebeu no Paço Episcopal alguns destes jovens para uma “benção do peregrino” e lembrou a “caminhada importante, a experiência de fé norteada pelos valores do Evangelho, que estas JMJ sempre proporcionam”. O momento foi ainda aproveitado para uma pequena reflexão à volta da mensagem do Santo Padre, em que o Papa pede que “os jovens sejam corajosos e audaciosos na vivência de Jesus Cristo e na proclamação do Evangelho”, disse o Bispo do Funchal que também já participou em quatro Jornadas Mundiais da Juventude. Responsável pela Comissão Episcopal da Família e Laicado que abrange também o Departamento da Pastoral juvenil da Igreja em Portugal, D. António Carrilho afirma que “tenho procurado estimular a participação dos jovens. É um acontecimento único que não deixa ninguém indiferente ou à margem.” “Novo Pentecostes” A mensagem do Papa para esta JMJ na Austrália “acentua dois pensamentos”, explica D. António: “a força do Espírito Santo em cada um e o testemunho que depois se dá de Cristo e do seu Evangelho, com coragem e audácia”. “Espero que estes jovens façam este caminho. Às vezes, sentem-se inibidos pelas circunstâncias da vida e hostilizados em certos meios, mas há a alegria da fé. Lembrando o primeiro Pentecostes, o Papa dizia que os discípulos, então amendrontados, tornaram-se corajosos pela força do Espírito Santo. Este estímulo é necessário para que os jovens possam dar também testemunho”, sublinhou. Jovens confiantes A opinião do Bispo do Funchal é secundada também pelos jovens contactados pelo JM. Lídio Aguiar, que participa pela segunda vez numa JMJ, diz “o nosso testemunho é um desafio para o dia-a-dia”. Já o Pe. Marcos Pinto (pároco da Nazaré) considera que esta iniciativa “compromete-nos para novas acções, motiva-nos para um trabalho específico na messe que o Senhor nos traçou e será uma forma eficaz de repensarmos a nossa pastoral aqui na diocese.” Outro jovem sacerdote, o Pe. Giselo Andrade, habituado a estas andanças pelo mundo, entende que estas JMJ provam como “os jovens não estão assim tão alheios. Um dos problemas na Europa é a falta de participação dos jovens nas igrejas diocesanas, mas estes encontros de carácter mundial fazem o mundo parar. Não é só uma oportunidade para a Igreja reflectir sobre os jovens, mas verifica-se que há jovens que acreditam e anunciam Jesus Cristo nas suas próprias vidas, ouvem a palavra do Papa e dão testemunho nas suas dioceses”. Este facto é também corroborado pelo jovem Frederico: “No regresso desta JMJ, na Austrália, haverá muito para dizer em relação às nossas vivências e será o início de uma nova caminhada. A peregrinação não termina a 20 de Julho”. Movimentos em comunhão No campo da pastoral juvenil a nossa diocese está dotada de vários Movimentos. Uma situação que agrada a D. António Carrilho e que sugere congregação de esforços na realização de actividades gerais. “Cada Movimento tem o seu carisma próprio, conto com todos eles, mas há actividades da pastoral que têm de se intensificar em colaboração, independentemente do respectivo carisma”, diz. “Não é só recrutar elementos para o respectivo Movimento, mas é apontar o caminho de Cristo e integrar os jovens na Igreja tanto quanto seja possível. Esta é uma acção de todos, fazendo unidade na Igreja. Jovens em Movimentos ou fora deles, em comunhão”. Pastoral do Crisma Situação a merecer especial atenção é a pastoral que deverá ser dinamizada a favor dos jovens que acabam o tempo da catequese, com a celebração do Crisma. Segundo o Bispo do Funchal, “é uma necessiade intensificar o apoio àqueles que, teminando o Crisma, quase se afastam da Igreja, por várias razões se desmobilizam ou vão estudar fora. As paróquias nem sempre têm possibilidades de lhes proporcionar esse acompanhamento, os Movimentos também não têm capacidade de chegar a todos, mas eu espero que haja novas propostas neste campo”, refere. Além disso, “existe um departamento diocesano específico que se vai debruçar mais sobre este aspecto da pastoral”, lembra D. António Carrilho. Novos padres Acontecimento em destaque neste mês de Julho é a ordenação sacerdotal de três jovens diocesanos madeirenses. É a segunda vez que D. António Carrilho preside a uma cerimónia destas na Sé do Funchal; a primeira, recorde-se, foi a 13 de Junho passado, com a ordenação do jovem salesiano Pe. Juan Freitas. Neste contexto de novas ordenações prevê-se também a nomeação de sacerdotes para as paróquias. O Bispo do Funchal adianta apenas que “nomeações só mais para a frente”. Neste momento, “é preciso reunir com os Arciprestados e ver em que sectores podemos potenciar a nossa actividade pastoral. É uma graça termos novos padres e agradecemos a Deus e a todos quantos contribuiram para a sua vocação”. Mas, precisamos de muitos mais. “Temos sacerdotes idosos, alguns com alguma fragilidade física, e três novos padres ainda não correspondem à necessidade que sentimos. Continuamos a trabalhar na pastoral das vocações com fé e esperança e, pouco a pouco, vamos discernindo o que Deus quer de nós através destes novos sinais. Se não temos tantos sacerdotes para responder às necessidades pastorais, em todas as paróquias, talvez nos devamos associar muito mais à participação e à corresponsabilidade do laicado”, diz ainda D. António Carrilho, para quem a ordenação de jovens sacerdotes “é uma riqueza, com grandes contributos em termos de dinamização pastoral”. Problema da pobreza é real Na conversa do Jornal da Madeira com o Bispo do Funchal, foi ainda abordada a “pobreza”, em referência ao tema do próximo Dia Mundial da Paz (1 de Janeiro de 2009), proposto pelo Papa Bento XVI: “Combater a pobreza, construir a Paz”. “Este tema é sempre uma referência não só àquilo que constituiu uma preocupação do Papa em determinado momento, como também ao que sentimos ser uma resposta necessária às circunstâncias concretas que vivemos no mundo actual”, explica D. António Carrilho. Falando para a Igreja, o Papa tem em conta a realidade do mundo em que a Igreja está inserida. É curioso verificarmos que o Papa se tem mostrado muito sensível a esta questão. Já em Junho passado, na mensagem enviada à FAO (Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), o Santo Padre chamava a atenção para o escândalo da pobreza no mundo e ele próprio se interrogava como é possível permanecer insensível perante este problema. A questão não é nova, mas constatamos que os anos passam e as soluções não aparecem como é desejável. Aliás, a maneira como o Papa formula a questão é pertinente. Ele convida à reflexão sobre as raízes da pobreza em geral, também ao nível espiritual. ‘É uma pobreza espiritual o tornar-se indiferente ao sofrimento do próximo’, afirma Bento XVI. Por outro lado, o Papa diz que a Paz não se pode construir apenas calando as armas, é preciso promover o desenvolvimento, como também já dissera PauloVI: ‘O desenvolvimento é o novo nome da Paz’, lembra. Mobilizar corações e vontades O problema da pobreza no nosso país também preocupa a pastoral social da Igreja. “Estamos preocupados com as coisas entre nós. Os Bispos, na sua última reunião em Fátima, fizeram eco da muita procura de pessoas junto de instituições da Igreja, muita gente carenciada de bens fundamentais. Há um apelo comum, de atenção maior a estas situações”, confirma o Bispo do Funchal. “Na nossa diocese temos instituições particulares de solidariedade social, como a Cáritas e as Conferências Vicentinas, e espero em breve ter uma informação maior neste sentido”. Entretanto, “há muito trabalho discreto que não se contabiliza, há projectos que se podem desenvolver para um apoio maior e penso que uma mobilização de corações e de boas vontades, de generosidade, pode contribuir cada vez mais para a justiça social”. “Cáritas paroquiais” Sobre a possibilidade de haver “Cáritas” nas paróquias, numa atitude de descentralização e subsidariedade da Cáritas diocesana para soluções cada vez mais céleres e próximas da população local, D. António Carrilho entende que é preciso ver caso por caso. “Há paróquias que já têm, por exemplo, Conferências Vicentinas e não vamos multiplicar aquilo que já existe. Podemos é investir mais e melhor. Havendo estruturas diocesanas podemos dinamizar e ajudar as paróquias com meios que de outro modo não poderiam dispor. Há que conhecer a realidade social para dar-lhe a resposta. A forma concreta pode ser diversificada mas sempre no mesmo espírito de comunhão da Igreja diocesana”, afirmou.