A Diocese da Guarda está a inventariar os milhares de processos históricos que possui, para poderem ser mostrados ao público no futuro Arquivo Histórico, instalado no edifício da Caritas Diocesana. O trabalho de separação, limpeza e inventariação dos documentos, que estão guardados em condições precárias, está a ser feito desde Julho, por uma equipa constituída por um técnico superior e dois auxiliares. A técnica de arquivo Maria do Rosário, que lidera o grupo de trabalho, explicou ao Jornal A Guarda que neste momento, apenas estão a ser organizados os processos relacionados com ordenações sacerdotais, tendo já sido inventariadas e devidamente acondicionadas no depósito, 1.087 caixas. “A ordenação passa por vários percursos e o objectivo é ter os processos todos juntos”, disse, apontando que o processo mais antigo data de 1.500. O trabalho que está a ser executado envolve várias fases. Na fase inicial, os documentos são recolhidos do local onde se encontram, seguindo-se uma passagem pela sala de desinfestação, onde são espalhados pelo chão e vaporizados com veneno utilizado para matar as moscas. Uma semana depois, segue-se a fase de limpeza dos manuscritos, assegurada pelos dois técnicos auxiliares. “Fazem a limpeza dos documentos com recurso a uma vassourinha”, contou Maria do Rosário. Depois disso vem a separação dos processos e a inventariação. Nesta última fase “são colocados em capas, inseridos na respectiva paróquia e Arciprestado, e colocados na base de dados”, contou a técnica. A última etapa está relacionada com a colocação das respectivas caixas no depósito. Até ao momento já foram ordenadas 1.087 caixas, que correspondem a milhares de processos, pois de acordo com Maria do Rosário “há caixas que levam cinco, seis ou sete processos”. A mesma técnica não tem bases para quantificar o número total de processos que estarão na posse da Diocese, mas fala em “milhares e milhares”, entre ordenações, casamentos e testamentos alguns deles num estado de conservação muito crítico. O objectivo da Diocese é organizar o Arquivo nos próximos três anos. “Em termos de inventariação de documentação, os três anos bastam. Para ser aberto ao público, não sei, porque requer uma sala para leitura e para os investigadores”, disse a técnica superior. Diocese destaca apoio da Fundação Calouste Gulbenkian Segundo a Cúria Diocesana, o arquivo histórico que está em fase de organização, compreende “um extenso conjunto de manuscritos pertencentes à antiga Câmara Eclesiástica, abrangendo também o extinto bispado de Pinhel. Consiste em processos de ordenação sacerdotal, dispensas matrimoniais, testamentos e colação de igrejas, assim como muitos outros documentos, do séc. XVI até à actualidade”. A mesma fonte recorda que nos últimos três anos, os documentos “muitos deles em frágil estado de conservação”, têm vindo a ser “pacientemente tratados e organizados por uma pequena equipa adoc” mas que, recentemente, o processo ganhou novo impulso com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Esse apoio será para três anos, disponibilizando uma verba anula de cerca de 20 mil euros. “É intenção da Diocese que o Arquivo seja de acesso público, de acordo com as recomendações da Conferência Episcopal Portuguesa acerca da protecção e divulgação do património cultural da Igreja”, refere a mesma fonte. O Vigário-Geral da Diocese, Carlos Pina Paula, contou ao Jornal A Guarda que o apoio da Gulbenkian é importantíssimo porque permite suportar as despesas com os três técnicos que procedem à catalogação, ordenação, limpeza e desinfestação dos documentos. “Depois, o trabalho do Arquivo não vai parar”, garante, assumindo que “de uma maneira, ou de outra, a Diocese tem que encontrar maneira de colocar ali uma pessoa, para que as pessoas possam consultar o Arquivo”. Carlos Pina Paula reconhece que o trabalho que está a ser feito “era o mais importante, porque tínhamos documentos, muitos milhares, a apodrecer e alguns, já se perderam”. O Arquivo da Diocese está instalado no mesmo edifício da Caritas Diocesana da Guarda. Tendo em conta a necessidade de espaço para que o Arquivo possa funcionar nas melhores condições, o Vigário-Geral admite que a Caritas poderá ser transferida para outras instalações. O mesmo responsável, também promete a realização de obras: “Se o edifício ficar todo, ou grande parte, destinado ao Arquivo, não ficaria com madeiras, como se verifica actualmente”. O depósito do arquivo está instalado em duas alas do edifício que não reúnem as melhores condições de acondicionamento. As janelas não são as mais adequadas e os responsáveis temem que durante os meses de Inverno seja muito difícil controlar os níveis de humidade, que são vigiados diariamente.