«Dilexit nos»: Papa propõe «espiritualidade dos gestos quotidianos» numa encíclica publicada em tempo sinodal – Padre Paulo Coelho

Sacerdote dehoniano analisa publicação de texto do Papa num tempo de reflexão da Igreja católica

Lisboa, 24 out 2024 (Ecclesia) – O padre Paulo Coelho, sacerdote dehoniano, disse que a publicação da encíclica «Dilexit nos» não é “um mero discurso”, mas dirige-se a todos e a sua publicação no decorrer do Sínodo “desafia” a Igreja.

“Isto não é só um discurso dirigido para o exterior, mas é para todos, exatamente com a intensidade que tem. E perante este contexto de sínodo, a publicação desta encíclica que aponta para a centralidade do coração, não deixa também de nos desafiar. É impossível separar este pronunciamento agora de todo o magistério e de todo este processo que temos feito com a Igreja e, sobretudo, com este grande impulso, que nos compromete muito”, indicou o superior do Seminário de Alfragide, dos sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus à Agência ECCLESIA.

O sacerdote indica que o temo “encontro” é citado amplas vezes e o Papa Francisco propõe uma “espiritualidade de gestos simples e quotidianos”.

“É uma espiritualidade do concreto; não é só da intencionalidade, mas é uma espiritualidade de uma vida concreta, real. Não podemos estar indiferentes ao que se está a passar ao nosso lado, não podemos estar indiferentes àquela pessoa que está ao nosso lado. Não pode ser qualquer coisa apenas adquirido racionalmente, mas tem que ser qualquer coisa que se fundamenta numa relação amorosa com Jesus, com a Igreja, com os outros, que contribui também a própria vida dos santos, pelos seus exemplos e também os testemunhos de tantas pessoas concretas que passam na vida”, explica.

O Papa alerta para correntes do próprio cristianismo “como o racionalismo, um certo reflexionismo, que estão a acontecer”, indica o padre dehoniano, quer na vida religiosa e “dentro da própria Igreja”.

Foto: Paroquia de Alfragide

“Por exemplo, quando ele chama a atenção até mesmo de comunidades e até mesmo de pastores, isto é, de sacerdotes e de quem tem essas funções de presidência ministerial das comunidades, chama a atenção para não cair no excessivo trabalho, no excessivo fazer das coisas, sem que depois não se recentre exatamente na contemplação da vida, das coisas concretas”, explica.

O sacerdote indica que “a devoção do coração de Jesus traz, novamente, o enfoque da humanidade de Jesus”.

“Hoje falta-nos sensibilidade pela humanidade. Se nos centramos e contemplamos o amor de Jesus, que é profundamente humano, intensamente humano, quer dizer que também nós somos capazes disso”, reconhece.

“Isto requer, obviamente, da nossa parte, superação do nosso egoísmo, como tanto diz o Papa Francisco, é preciso rever que o coração, enquanto lugar da sinceridade no seu sentido mais genuíno, como lugar mais pessoal, mais íntegro, como aglutinador da pessoa no seu todo, dos seus diversos elementos constitutivos, mas também das suas doações todas”, afirma.

Esta encíclica é “um convite a que a pessoa melhor se reencontre e se encontre”.

“Aqui percebemos porque é que o Papa Francisco fala tanto de misericórdia, fala tanto também de esperança, e tem sempre uma palavra, também, oportuna para o mundo de hoje e diz que não é a guerra, não é o ódio que tem a palavra definitiva, mas é realmente o amor”, indica.

LS

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Agência ECCLESIA

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