«Dilexit nos»: Encíclica do Papa sobre o Coração de Jesus apresenta um «Deus que cuida»

Após dois documentos mais sociais e «até políticos», Francisco escreve um texto de «caráter mais espiritual», considera o jesuíta Paulo Duarte

Lisboa, 25 out 2024 (Ecclesia) – O padre Paulo Duarte disse em declarações à Agência ECCLESIA que a encíclica do Papa tem um “caráter mais espiritual” e apresenta a devoção ao Coração de Jesus como expressão de um “Deus que cuida”.

“Estamos perante um Deus próximo, um Deus que cuida, um Deus que promove a comunhão, um Deus que quer a relação a partir do Seu Filho”, afirmou o sacerdote jesuíta.

Num comentário à quarta encíclica do Papa Francisco, o diretor adjunto da Rede Mundial de Oração do Papa (RMOP) referiu que o documento aponta para um “forte sentido do afeto” na relação com Deus, que se entregou por todos.

“Eu tenho uma relação particular com Deus, permito-me esta relação, entregar-lhe a vida, porque Ele é o primeiro que se entrega por mim: amou-nos, ama-me primeiro e, ao amar-me primeiro, também me está a desafiar, a desafiar-nos a sermos colaboradores d’Ele”, afirmou.

Para o padre Paulo Duarte, a devoção ao Coração de Jesus não pode ser “ridicularizada” porque é expressão “da beleza da relação com Deus”, que convoca cada crente para colaborar na “promoção do amor”, sendo esse o sentido da reparação apresentada pelo Papa nesta encíclica.

O diretor adjunto da RMOP considera que a devoção ao Coração de Jesus e a espiritualidade da reparação não tem um “sentido pietista”, mas da “beleza dos simples na relação com Deus”, recuperando “um sentido mais afetivo de ternura, de proximidade desta devoção”.

Para o padre Paulo Duarte, o Coração de Jesus permite conhecer “a centralidade de Cristo” e, a partir daí, assumir “um caminho de serviço”, de “diálogo coração a coração”, imitando a Sua entrega para “amar mais o mundo, amar mais o próximo”.

Na encíclica ‘Dilexit nos’ (amou-nos), divulgada na última quinta-feira pelo Vaticano, o Papa refere-se à importância e atualidade da devoção ao Coração de Jesus, recordando o contributo de teólogos, místicos e vários Papas, ao longo dos séculos.

“A devoção ao Coração de Cristo é essencial para a nossa vida cristã, na medida em que significa a nossa abertura, cheia de fé e de adoração, ao mistério do amor divino e humano do Senhor, até ao ponto de podermos voltar a afirmar que o Sagrado Coração é um compêndio do Evangelho”, escreve o Papa.

Para o Paulo Duarte, a encíclica agora divulgada tem um “caráter mais espiritual” e sucede a dois documentos mais sociais, “até políticos”, onde o Papa se refere ao cuidado da casa comum (Laudato Si) e à marca da fraternidade e da amizade social nas relações entre os povos (Fratelli Tutti).

A encíclica “Amou-nos” refere-se à “centralidade na força do amor que Deus” pela humanidade e por cada pessoa e é um apelo a que, a partir desse amor, aconteça um “caminho de renovação”, de “encontros para um mundo que está dividido em tensões”.

“Tivemos estas duas últimas com cariz muito social até mesmo político com propostas quase, diríamos sociais e políticas e o Papa apresenta-nos agora uma de caráter mais espiritual, mas um caráter espiritual que tem consequências sociais e políticas”, afirmou.

O diretor-adjunto da Rede Mundial de Oração do Papa afirmou que a encíclica “Dilexit” aponta para o cristianismo marcado pela “espiritualidade de relação, de proximidade”, porque “o primeiro a nos amar é o próprio Deus”.

A Rede Mundial de Oração do Papa é uma Obra Pontifícia, cuja missão é “mobilizar os católicos para os desafios da humanidade e da missão da Igreja através da oração e da ação”, divulga todos os meses as “suas intenções de oração” e promove a sua espiritualidade através de publicações como as revistas “Mensageiro do Coração de Jesus” ou “Cruzada” e os projetos digitais de oração “Passo-a-Rezar” e os projetos internacionais “O Vídeo do Papa” e “Click To Pray”.

Dilexit nos’ surge depois das encíclicas ‘Lumen fidei’ (2013), que recolhe reflexões sobre a fé iniciadas por Bento XVI; ‘Laudato si’ (2015), documento que propõe uma ecologia integral, abordando questões sociais e ligadas ao meio ambiente; e ‘Fratelli tutti’ (2020), que recolher as reflexões de Francisco sobre a fraternidade e a amizade social.

PR

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