Diálogos silenciosos de Bento XVI com o pensamento ocidental

D. António Marto considera que a teologia de Joseph Ratzinger aborda problemáticas centrais para o nosso tempo

Como pensador, Joseph Ratzinger fez a sua teologia sempre em diálogo com a cultura. O antigo aluno do actual Papa, D. António Marto sublinhou, na mesa redonda sobre «Bento XVI visto de perto», que, na primeira encíclica «Deus é Amor», o Papa dialoga “silenciosamente e humildemente com a história do pensamento ocidental”.

A encíclica é um «confronto» “silencioso com o platonismo, com o judaísmo e com o islão”.

No testemunho sobre a figura do Papa alemão – realizado na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa – o bispo de Leiria-Fátima realça que, nesta encíclica, Bento XVI procura apresentar “o específico do cristianismo, da fé cristã”, mas estabelece, em simultâneo, um diálogo “lúcido e crítico com o pensamento da modernidade”. E acrescenta: “O iluminismo, com Kant, reduz o cristianismo a uma moral”.

Bispo desde 2001 (primeiro auxiliar de Braga e depois titular de Viseu), D. António Marto esclarece que em «Deus é Amor» o Papa alemão dialoga também “com um dos mestres da suspeita – Nietzsche -, segundo o qual o cristianismo teria dado a beber veneno ao Eros, que embora não tivesse morrido daí teria recebido o impulso para degenerar num vício”.

Ao profeta do niilismo, Bento XVI responde que “o amor cristão não é a rejeição do eros, não é o seu envenenamento, mas é a sua cura em ordem à sua verdadeira grandeza”.

Bispo da diocese de Leiria-Fátima desde 2006 e membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, o antigo aluno do professor Ratzinger explica que na encíclica «Spe Salvi» o Papa dialoga com as esperanças humanas: “a esperança, em Bacon, recebe uma nova forma, até no progresso”.

O confronto reside nas duas interpretações daquilo que “podemos esperar: redenção ou emancipação”. Para Bento XVI, o niilismo é a afirmação “do não sentido, do vazio de sentido”.

Uma das características de Bento XVI é falar “ao coração e à inteligência, em simultâneo”. O papa deixa “provocações proféticas: a beleza da bondade e a beleza da verdade ” – afirmou o bispo de Leiria-Fátima.

Sendo um melómano, Bento XVI escreve na introdução «Ao espírito da Liturgia» que “ouvindo Bach e Mozart, ambos fazem sentir de modo magnífico a glória de Deus. Nas suas músicas encontra-se o infinito mistério da beleza”.

Na trilogia Fé-Cultura-Europa, Joseph Ratzinger desenvolve “muito bem” este tema e mostra as “raízes culturais e cristãs da Europa”. No seu testemunho sobre o Papa, D. António Marto realça que para Bento XVI “a fé é purificadora da razão”.

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Agência ECCLESIA

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