«Liberdade de expressão nunca deve ser usada como desculpa para desprezar os outros», diz Francisco
Cidade do Vaticano, 03 jun 2023 (Ecclesia) – O Papa mostrou-se “indignado” com a recente queima de um exemplar do Corão, durante uma manifestação de protesto na Suécia, apelando ao diálogo e à cooperação entre sociedade e religiões.
“Sinto-me indignado e desgostoso por essas ações”, disse Francisco, numa entrevista publicada hoje pelo jornal estatal dos Emirados Árabes Unidos, ‘Al Ittihad’.
Nodia 28 de junho, início da celebração muçulmana do Eid al-Adha, em memória do sacrifício de Abraão, um homem profanou e queimou o Corão, em frente à Grande Mesquita de Estocolmo.
“Qualquer livro considerado sagrado pelos seus autores deve ser respeitado, por respeito aos seus crentes, e a liberdade de expressão nunca deve ser usada como desculpa para desprezar os outros”, acrescentou o pontífice, numa conversa citada pelo portal de notícias do Vaticano.
O Conselho Cristão Sueco também condenou o ato, em comunicado, defendendo “o direito de cada pessoa de praticar a sua fé, independentemente da religião”.
“A queima do Alcorão é uma violação deliberada da fé e da identidade muçulmana, mas também a vemos como um ataque a todos nós, como pessoas de fé. Portanto, queremos expressar a nossa solidariedade aos crentes muçulmanos no nosso país”, indica uma nota do organismo, divulgada pelos serviços de informação da Santa Sé.
Na entrevista, o Papa recordou a sua visita a Abu Dhabi, em 2019, onde assinou o documento sobre a Fraternidade Humana, uma declaração católico-islâmica para a paz mundial e a convivência comum.
“Acredito que é um texto importante não apenas para o diálogo entre as religiões, mas para a convivência pacífica entre todos os seres humanos. Haverá a civilização da fraternidade ou a da inimizade, ou construímos juntos o futuro ou não haverá futuro”, sustentou.
Francisco convidou ao diálogo entre religiões, para promover iniciativas de “cooperação, em fraternidade, em boas obras concretas”.
Hoje precisamos de construtores de paz, não de fabricantes de armas; hoje precisamos de construtores de paz, não de instigadores de conflitos; precisamos de bombeiros, não de incendiários; precisamos de defensores da reconciliação, não de pessoas ameaçadas de destruição”.
O Papa manifestou uma preocupação particular com as novas gerações, que vê ameaçadas por “mensagens negativas, notícias falsas e inventadas, as tentações do materialismo, do ódio e do preconceito”.
Para Francisco, é importante “não deixar os jovens sozinhos nessa batalha, mas dar-lhes os instrumentos necessários, que são a liberdade, o discernimento e a responsabilidade”.
A entrevista aborda ainda o estado de saúde do Papa, após a cirurgia abdominal a que foi submetido no início de junho.
“Foi difícil, mas agora, graças a Deus, estou melhor graças ao empenho e profissionalismo dos médicos e da equipa de enfermagem, a quem agradeço muito. Rezo por eles e pelas suas famílias, por todas as pessoas que escreveram e rezaram por mim nesses dias”, referiu o Papa.
OC