Apelo conjunto, assinado em Roma, sublinha ameaça nuclear e efeitos da exploração «predatória» da natureza
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA a Roma
Roma, 07 out 2021 (Ecclesia) – O Papa e líderes religiosos de todo o mundo assinaram hoje em Roma um apelo conjunto pela paz, rejeitando qualquer ato de violência ou o fundamentalismo em nome dos seus credos.
“As religiões podem encontrar a paz e educar para ela. As religiões não podem ser usadas para a guerra. Só a paz é sagrada e ninguém deve usar o nome de Deus para abençoar o terror e a violência”, refere o texto, proclamado junto ao Coliseu de Roma, encerrando um encontro inter-religioso pela paz promovido pela Comunidade católica de Santo Egídio, intitulado ‘Povos Irmãos, Terra Futura. Religiões e Culturas em Diálogo’.
O apelo, lido por uma jovem refugiada do Afeganistão, evoca as “guerras abertas, ameaças terroristas e violência grave” que afetam o planeta, marcado ainda pelas crises dos refugiados e do ambiente, “demasiadas mulheres ofendidas e humilhadas, crianças sem infância, idosos abandonados”.
“Os pobres, muitas vezes invisíveis, hoje participam de maneira especial no nosso encontro: são os primeiros a invocar a paz. Ouvi-los faz-nos entender melhor a loucura de cada conflito e violência”, acrescenta o documento.
O futuro do mundo depende disto: que nos reconheçamos como irmãos. Os povos têm um destino fraterno na terra”.
Os participantes guardaram um minuto de silêncio pelas vítimas da pandemia, da guerra, da violência e do terrorismo.
O Apelo de Roma defende um processo de desarmamento que trave o comércio de armas e elimine a ameaça nuclear que pende sobre a humanidade, alertando para um pensamento dominante “predatório, pronto para a dominação e a guerra”.
“Paz também significa respeitar o planeta, a natureza e as criaturas. A destruição do meio ambiente deve-se à arrogância de um ser humano, que se sente dono”, pode ler-se.
O texto abordou o impacto da pandemia de Covid-19 e realçou as consequências de uma sociedade “do desperdício e da exploração, que vive para si e ignora o outro”.
“Que Deus nos ajude a reconstruir a família humana comum e a respeitar a Mãe Terra. Em frente ao Coliseu, símbolo de grandeza mas também de sofrimento, reafirmamos com a força da fé que o nome de Deus é a paz”, conclui o apelo conjunto.
O encontro internacional, com participantes de 40 países, decorreu desde quarta-feira, em quatro fóruns dedicados ao diálogo, à paz, ao ambiente e às gerações mais jovens, com a participação, entre outros, do arcebispo de Cantuária, Justin Welby, primaz da Igreja Anglicana; do cardeal português D. José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário da Santa Sé; ou da conselheira especial do Secretário-Geral da ONU, Jeffrey Sachs.
A sessão foi inaugurada com uma oração ecuménica, antes do encontro com líderes de outras religiões mundiais como o grande imã da Universidade de Al Azar (Cairo), Al Tayyeb, ou o presidente da Conferência dos Rabinos Europeus, Pinchas Goldschmidt, além de representantes políticos, como a chanceler alemã Angela Merkel, que esta manhã se reuniu em privado com o Papa.
OC
O mundo dividido entre nós e eles é um mundo baseado numa visão através de um vidro opaco, que, portanto, induz muitas distorções de julgamento. Sabemos como a insistência na oposição dualista favorece a hostilidade e o medo, ao invés de encorajar a hospitalidade e a perceção do bem comum. A verdade é que as nossas sociedades devem aprender a conjugar-se mais na primeira pessoa do plural, envolvendo os cidadãos numa política da esperança de dimensões coletivas. |
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