«Há pessoas que falam hoje em nacionalismos católicos, isto é completamente contra o próprio Evangelho, contra o que é ser católico» – D. Armando Esteves Domingues
Fátima, 16 out 2025 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa promoveu hoje um encontro sobre a declaração ‘Nostra Aetate’, do Concilio Vaticano II, para colocar na “agenda da Igreja em Portugal, dos católicos”, a reflexão “central” do diálogo inter-religioso, quando a “paz está ameaçada”.
“A Igreja Católica tem uma linha, ser um grito contracorrente no mundo, no qual voltamos a ver renascer radicalismos, vemos renascer exclusivismos e exclusões sociais de todo o género, não vamos apenas falar na exclusão religiosa, mas na exclusão, novamente, de povos, de raças, de culturas”, disse o presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, da Igreja Católica em Portugal, em entrevista à Agência ECCLESIA, em Fátima.
D. Armando Esteves Domingues observou que “é incrível como há pessoas que falam hoje em nacionalismos católicos”, o que “é completamente contra o próprio Evangelho”, contra o que é ser católico, que é universal, “que é respeito, partilha”.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), através da Subcomissão de Diálogo Inter-Religioso, da Comissão Missão e Nova Evangelização, promoveu hoje um encontro sobre a declaração ‘Nostra Aetate’ (“Em nosso tempo”), documento do Concilio Vaticano II que se tornou um marco no relacionamento da Igreja Católica com as religiões não-cristãs, aprovada a 28 de outubro de 1965.
“A ‘Nostra Aetate’ tem mesmo uma expressão muito interessante que é que todas as religiões têm sementes de verdade, há sementes de Deus, quem ama a Deus tem os olhos no céu, tem o coração dos irmãos, e este é um caminho que a Igreja precisa hoje também de reafirmar com convicção”, assinalou D. Armando Esteves Domingues, que destacou o exemplo da Igreja Católica em Gaza, na Palestina, da Paróquia da Sagrada Família que se manteve “ali sempre de pé a dizer, ‘nós somos presença e bandeira de paz’, nestes dois anos de guerra.
“E, não é que lhe tenham tocado muito, também este reconhecer que a Igreja Católica tem neste campo uma autoridade muito grande. Isto no diálogo com o judaísmo, também no diálogo com o islamismo, o Papa Francisco teve intervenções estupendas”, acrescentou, destacando a Declaração de Abu Dhabi, assinada com o grande-imã de Al-Azhar, Ahmad al-Tayeb, a 4 de fevereiro de 2019, nos Emirados Árabes Unidos.
Só podemos amar o que conhecemos, e nasce da ‘Nostra Aetate’, como depois deste gesto fantástico do Papa, esta grande vontade de perseguirmos sempre este caminho da fraternidade humana. Que é a fraternidade universal, respeito absoluto pela dignidade, mas também pelas suas crenças, pelas suas religiões.”
D. Armando Esteves Domingues partilhou que “gostaria, quanto seria necessário” que as entidades públicas, os políticos, os legisladores, “tivessem no coração e na preocupação” o que são “verdades inalienáveis, direitos reconhecidos” pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é anterior à ‘Nostra Aetate’.
O bispo de Angra explica que a declaração ‘Nostra Aetate’ “é muito sintético, é muito compacto”, mas tem “detrás toda a história das guerras do século passado”, a Segunda Guerra Mundial “tremenda com o Holocausto”, e a cultura vigente onde “havia até, por vezes nas catequeses, nas pregações, uma certa, chamemos-lhe assim, cultura do desprezo, quer pela religião judaica, quer pelo islamismo”.
“É quase olhar para os dias de hoje e ver, passaram 60 anos e parece que os problemas os temos outra vez todos à porta: Uma paz que nós queríamos duradoura e que está tão ameaçada, mas uma paz também que está a suscitar radicalismos muito semelhantes; o que podemos ver é que há um antissemitismo latente, a renascer, a ser alimentado, mas isso traz tantos outros radicalismos hoje até, se calhar, mais perigosos do que eram na altura”, salientou o responsável pela Comissão Missão e Nova Evangelização da Conferência Episcopal Portuguesa.
O prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-Religioso da Santa Sé, o cardeal D. George Koovakad,, foi o orador convidado, para a comemoração inter-religiosa do 60.º aniversário ‘Nostra Aetate’, proferiu uma conferência sobre “a génese, história e relevância atual” da declaração conciliar, esta manhã, no Santuário de Fátima.
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