Lisboa, 15 jan 2015 (Ecclesia) – O debate intitulado “Do Estado Islâmico à Europa desencantada – Desafios à Liberdade Religiosa” reuniu esta quarta-feira representantes das comunidades judaica, islâmica, cristãs minoritárias e especialistas na temática religiosa, em Lisboa.
“É importante perceber que o fenómeno religioso e as religiões são uma realidade complexa que cruza uma série de dimensões”, explicou um dos coordenadores do Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR), que foi apresentado na ocasião e promoveu a iniciativa com o Gabinete ‘Lisboa Encruzilhada de Mundos’.
O debate adquiriu maior atualidade depois do ataque ao jornal satírico francês ‘Charlie Hebdo’.
O líder da Comunidade Islâmica de Lisboa disse à Agência ECCLESIA que só Deus “sabe quem é crente” e que na sua opinião quem comete atentados em nome do Islão “não” é islâmico nem muçulmano.
Abdool Magid Vakil vive em Portugal desde 1956 e recorda que na altura “não havia muçulmanos”, por isso as pessoas ficavam curiosas, mas sempre foi respeitado e “nunca ninguém hostilizou o bicho raro”.
Satisfeito porque em Portugal não há o fenómeno da islamofobia, e “em geral o povo português é amigo do outro”, alerta é necessário diálogo, compreensão e “aceitar” as diferenças religiosas.
Já para o representante da Associação de Amizade Portuga-Israel, em território nacional a comunidade judaica “não tem razão de queixa” ao contrário da realidade europeia onde “o medo está instalado”.
“Há um antissemitismo que está a crescer e a desenvolver-se com muita intensidade entre pessoas que não têm nada a ver com nenhuma das duas religiões”, explicou António Caria Mendes que considera que falta uma “política comum e uma política de ensino” na Europa.
O representante revelou-se “chocado” com o ataque ao jornal parisiense, mas destacou que “liberdade implica imediatamente responsabilidade” e os Governos devem divulgar mais esse conceito.
Segundo o especialista em estudos árabes e coptas, Adel Sidarus, há um desafio para a liberdade religiosa na Europa.
A viver em Portugal há cerca de 40 anos, o cristão copta explica que é preciso perceber que “as raízes europeias não são só judaico-cristãs” mas os muçulmanos também “estão na raiz da europa moderna”.
“Com esta perceção a Europa vai abrir-se mais internamente e para o Mediterrâneo com quem compartilha uma história cultural profunda e importante a nível internacional”, acrescentou.
Para José Milhazes, jornalista e especialista em assuntos do Leste europeu, o combate ao terrorismo passa por saber-se “afirmar princípios de tolerância” que “não podem” permitir o aparecimento da “intolerância contra a tolerância europeia”.
Na sua opinião o multiculturalismo na Europa falhou e defende o provérbio “em Roma sê romano” ou seja devem respeitar-se as leis e os costumes dos países para onde se vai residir e exemplificou com o sacrifício de animais em plena rua na Rússia, pela comunidade muçulmana migrante, em determinadas festas.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, parceira do OLR, também esteve presente e Catarina Martins destacou alguns dados do relatório sobre liberdade religiosa 2014.
CB/OC