Apelo de Paul Bhatti, antigo ministro paquistanês para as minorias , em visita a Lisboa
Lisboa, 28 mar 2015 (Ecclesia) – O antigo ministro paquistanês para as minorias, atual ativista pelo diálogo inter-religioso naquele país, Paul Bhatti, diz que a erradicação da violência contra os cristãos depende da capacidade de chegar ao coração da comunidade muçulmana, sobretudo aos jovens.
Numa entrevista em Lisboa, nos estúdios da Agência ECCLESIA, conduzida pelo jornalista Paulo Aido da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, Paul Bhatti salientou que “mais do que lutar contra a Lei da Blasfémia”, que no Paquistão tem privado inúmeros cristãos da sua liberdade, “é preciso lutar contra uma ideologia que instrumentaliza e distorce a lei islâmica em benefício próprio”.
“Muitas pessoas aqui pegam em crianças, fazem-lhes uma autêntica lavagem cerebral e impõem-lhes a suas filosofias radicais. Depois elas crescem com o ódio e a divisão na mente e estão mesmo prontas a matar ou a morrer em nome da religião, este é o grande problema”, apontou o antigo ministro paquistanês.
Para dar a volta a este contexto, o ativista e médico acredita que o melhor caminho passa por “levantar a questão através das comunidades locais, apoiar organizações que estejam no terreno” e mobilizar “a população muçulmana” que não concorda com o atual clima de discriminação religiosa e social.
Mais do que recorrer aos media, porque isto no passado já “criou problemas porque as pessoas não percebem, encaram isso de forma negativa”, apontou.
Paul Jacob Bhatti deslocou-se a Portugal para participar no “Meeting Lisboa 2015”, uma iniciativa organizada por universitários ligados ao movimento católico “Comunhão e Libertação”.
O evento está a decorrer até domingo no Centro Cultural de Belém, subordinado ao tema “Se a felicidade não existe, então o que é a vida?”.
No caso do ativista e médico paquistanês, trouxe para os participantes uma conferência intitulada “grande para amar, forte para lutar”.
Irmão de Shabazz Bhatti, assassinado em Março de 2011 quando também era ministro das minorias, Paul Bhatti diz que não vai recuar mas sim continuar a defender os direitos daqueles que no Paquistão foram “falsamente acusados”, presos e condenados à morte por causa da sua fé em Cristo, como Asia Bibi.
“Nós não temos medo, temos medo na medida em que sabemos que se trata de um trabalho difícil e que somos apenas humanos, mas não vamos recuar porque esta é a nossa missão”, frisou.
Sob o pretexto de alegadamente ter blasfemado contra o profeta Maomé, Asia Bibi, uma mulher e mãe paquistanesa e cristã, permanece encarcerada há cerca de seis anos, no corredor da morte.
Paul Bhatti realça que apesar de estar “a sofrer”, ela está animada, “a rezar”, e mostra-se convicto de que Asia Bibi “será libertada mais tarde ou mais cedo, porque na história da justiça paquistanesa nunca foi implementada a pena de morte no âmbito da lei da blasfémia”.
“No entanto”, a sua continuidade no Paquistão depois disso dependerá de várias circunstâncias.
“Se a sua inocência for demonstrada de forma clara, e o povo muçulmano aceitar isso, não haverá problema. Caso contrário, a sua vida poderá estar em perigo”, complementou.
PA/JCP