O diálogo católico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa está, neste momento, a ser relançado em Belgrado (Sérvia), após seis anos de paragem. Mais de 60 especialistas estão discutem, de 18 a 25 de Setembro, temas fundamentais para o caminho ecuménico, como o primado do Papa e o papel das Igrejas Católicas Orientais. Bento XVI já se referiu a este recomeço dos encontros como “uma nova fase no diálogo”, não escondendo o seu optimismo nem a sua intenção de promover uma aproximação séria ao mundo ortodoxo. Em Belgrado estão representantes de 10 Igrejas Ortodoxas, incluindo a da Rússia. Apesar dos avanços recentes, todas as partes envolvidas têm consciência de que um pequeno deslize é o suficiente para fazer “descarrilar” o diálogo, tal como aconteceu em 2000, a respeito das Igrejas Orientais ligadas ao Vaticano, que os Ortodoxos denominam “uniatas”. A sua emergência após a queda do comunismo é um fenómeno que ainda perturba o diálogo entre as duas partes. A comissão mista de diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa conheceu fortes dificuldades na última década, mas o empenho do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla permitiu o regresso aos trabalhos já em finais de 2005. Foram reorganizadas as duas Comissões de diálogo, compostas por 30 membros de cada parte, e o comité de coordenação, que é um instrumentos técnico que prepara as sessões plenárias da Comissão. O Vaticano espera que a discussão dos temas escolhidos para Belgrado permita uma nova abordagem teológica, perspectivando a Igreja como Comunhão (koinonia) e abandonando uma discussão mais epidérmica e emocional, que tem marcado alguns dos últimos encontros. Bento XVI é um teólogo lido e estimado pelos ortodoxos que, por outro lado, começam a alterar, lentamente, o seu pensamento sobre o primado universal do Papa. O Cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, promoveu em 2003 um simpósio católico-ortodoxo sobre o tema do papado e perspectivou o papel do Bispo de Roma como um “ministro da unidade” no mundo fragmentado de hoje. O actual Papa já optou por abandonar o título de “Patriarca do Ocidente”, esperando, com essa decisão, abrir caminhos para o diálogo com o mundo ortodoxo. A questão do primado do Papa é um dos principais temas do diálogo entre as várias Igrejas Cristãs. Nenhuma contesta o primado de honra que o Bispo de Roma tem na Igreja universal, mas isto não resolve, até ao momento, a questão relativa à jurisdição desse primado – até porque as Igrejas de fundação apostólica (como os Patriarcados Orientais) se consideram, em muitos casos, com a mesma dignidade de Roma. Para os católicos, o primado do Papa não é apenas de honra, mas de pleno poder de governo.