Responsável pela Associação ’João 13’, de apoio aos sem abrigo em Lisboa, confirma que há mais estrangeiros e mais jovens a precisar de ajuda, vivam na rua ou em quartos, e situações dramáticas mesmo entre quem trabalha
Entrevista conduzida por Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)
Vários indicadores apontam para o aumento do número de pobres em Portugal e de quem vive na rua, que é um dos rostos mais dramáticos da pobreza. Haverá 9 mil sem abrigo por todo o país, mais 800 do que em 2020, a maioria concentra-se precisamente aqui, em Lisboa. Têm sentido este aumento? O número de utentes que atendem está a crescer?
Sim. Temos notado bastante este aumento, não só em número como também temos visto uma viragem: nos primeiros anos tínhamos pessoas de alguma idade, de 50, 60, 70 anos, e no relatório que fizemos agora, pela primeira vez a grande maioria – 60% – das pessoas que atendemos têm menos de 50 anos. Isto significa que as faixas etárias mais jovens – a partir dos 18 até aos 40, 45 – são neste momento as mais afetadas e as que estão na rua.
A partir dos 18 anos, muito jovens…
Sim, porque menores não podem estar na rua. Mas temos pessoas com 18 anos, raparigas grávidas, creio que duas neste momento. Depois, obviamente, vamos dando resposta. Mas, isto para dizer que está a aumentar o número…
E mudou o perfil.
Mudou, gente bastante mais nova.
Esse é um dos dados que é possível traçar, o perfil. A partir do relatório, quantas pessoas é que estão a ajudar neste momento? A ideia de que aqueles que ajudam são na maioria sem abrigo vai-se desfazendo?
Nós estamos a servir neste momento uma média de refeições para 75 pessoas, mas abrangemos mais, porque não vão todas todos os dias. Temos uma lista de cerca de 170 pessoas e só servimos 75 refeições, porque um pode ir hoje e não ir amanhã. Embora seja também um dado novo, nosso, de que há uma fidelização maior, temos pessoas que praticamente já vão todos os dias.
Já não prescindem deste apoio?
Porque outras respostas também deixaram de existir. Este voluntarismo de pessoas que em grupo preparavam refeições e iam para a rua tem tendência a diminuir, este é um dado. Depois há uma vulnerabilidade muito grande. Quando falamos em sem abrigo, não é só as pessoas que não têm em casa. As que estão em quartos também são consideradas pessoas em situação de sem abrigo.
E há muitos casos?
Temos muitas pessoas, porque as que estão na rua, mesmo, são um tipo de pessoas dentro do grupo dos sem abrigo, mas temos também um grande número de pessoas que conseguem algum apoio, sobretudo da Misericórdia de Lisboa, para terem acesso a um quarto que é pago pela Santa Casa, mas depois não têm mais nada, não têm onde tomar banho, não têm produtos de higiene nem onde fazer, é muito complicado.
No último meio ano têm também aparecido muito mais pessoas estrangeiras, que era uma coisa que não tínhamos, eram sempre portugueses, algumas brasileiras e africanas. Mas, agora têm-nos sido referenciadas pessoas do Médio Oriente e de uma África mais muçulmana.
Tem havido notícias sobre os timorenses que têm chegado nos últimos meses a Portugal, e que estão muitos deles a dormir na rua, na zona da Baixa de Lisboa. Também têm pedido a vossa ajuda?
Não para esta resposta, mas a nossa associação também já tem ajudado estes grupos com roupa. Como temos um banco de roupa para os nossos utentes, obviamente que nestas circunstâncias, quando nos pedem, também ajudamos. E estamos a ajudar um grupo de cerca de 40 timorenses, levando-lhes roupa.
As instituições solidárias confirmam um aumento dos pedidos de ajuda. Os dados oficiais, aliás, mostram que a pobreza tem aumentado até entre quem trabalha. Há quem esteja nestas circunstâncias e procure a ajuda da associação?
Temos pessoas que trabalham e vão ali. Por exemplo, pessoas que têm dívidas ao Estado, ao trabalhar ficam com uma retenção da parte da dívida, depois para pagar o quarto, não conseguem.
No último ano tivemos um apoio extra, demos almoço às pessoas que trabalhavam, para terem um suporte e não ficarem todo o dia sem alimentação. Mas é um drama. Vemos pessoas que estão a trabalhar… estou-me a lembrar de uma pessoa que está a trabalhar e que está a dormir na rua, e a mala das ferramentas é a almofada dele. Isto não é fantasia, é a verdade.
A situação agravou-se desde a pandemia. Agora, com a guerra, inflação, aumento generalizado dos preços e muitos problemas no acesso à habitação em Lisboa, significa que estas situações de vulnerabilidade vão continuar a aumentar?
Sim. Mas eu acho que há uma falta de investimento.
Nas políticas do Estado?
Do Estado e a nível local. Há uma falta de investimento. Estamos numa de manutenção, manter as respostas, mas depois faz-se muito pouco na mudança de vida da pessoa. É obvio que a pessoa precisa de jantar, precisa de tomar o pequeno almoço e tomar banho, mas também é óbvio que a pessoa precisa do seu espaço, de quem a ajude a regularizar a sua situação e a encontrar trabalho. E estes mecanismos não funcionam.
A nossa resposta (da associação) começou por ser uma resposta básica, de cumprirmos as obras de misericórdia – dar comida a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nús, dar banhos. Aos poucos fomos percebendo que as necessidades são maiores e na medida das nossas capacidades, que são muito poucas, começámos a ver a situação das pessoas. No ano passado conseguimos dar casa a duas famílias, uma tinha uma grávida, outra tinha um bebé há pouco tempo, corriam o risco de lhes tirarem os bebés. Conseguimos articular com outra instituição, mas tem de ser tudo muito pessoal, não é em termos de política. Às vezes parece que não há um investimento.
Todos queremos tirar os pobres da rua, é um bom desejo, mas depois não há um investimento prático no acompanhamento das pessoas. Por exemplo, neste refeitório que temos não é admissível que estejam pessoas ali há três anos, todos os dias a jantar. Não devia ser. Este refeitório devia ser para pessoas que estão numa situação constrangedora, mas que depois têm que ter uma resposta mais concreta e mais prática.
Ainda a questão da habitação: estamos a falar da capital portuguesa, sabemos que os preços são internacionais e que os rendimentos são nacionais. Estamos num momento em que há mais notícias sobre despejos e sobre as consequências que a limitação imposta pelo Estado ao aumento das rendas pode ter para quem está a acabar contrato. São situações que preocupam e podem levar mais gente para a rua?
Sim. Empurrar as pessoas para a rua é uma das coisas que observamos muito. É empurrar as pessoas para a rua, porque as pessoas não conseguem sustentar a vida pobre que já tinham.
Se formos ver, numa crise destas, a descer degraus, os muito ricos ficam um bocadinho menos ricos, os ricos ficam na classe média, a classe média desce um bocadinho e os que já estão no último degrau, caem. Se conseguiam pagar uma renda, aumentou o preço de renda, já não conseguem. Tinham trabalho, ficaram desempregados, não conseguem pagar renda, vão para a rua. Tudo isto ajuda a que a pessoa termine na rua, que é a pior coisa. E não estamos a falar de quem já esteja na rua há muito tempo, mas de pessoas que aparecem ali pela primeira vez, estão na rua um, dois dias. E dá-nos pena que, quando se vão embora, tenham de ir para a rua. Mas, lá está, a nossa associação não consegue e também não vemos respostas eficazes para que as pessoas possam ter um sítio onde pudessem pernoitar duas ou três noites. É um investimento muito grande, mas é necessário.
Não podemos dizer ‘temos que acabar com a pobreza’ se não fizermos por isso. Não pode ficar só nas boas intenções.
O cardeal Tolentino, num dos textos que escreveu há uns anos sobre os pobres, dizia isto: “a qualidade de um Estado vê-se pela maneira como trata os mais frágeis”. Vemos a qualidade das sociedades pela maneira como tratamos os mais frágeis.
Enquanto não houver aqui uma decisão política, social, não só de apoio às pessoas sem abrigo, às pessoas mais frágeis, mas de acompanhamento e de interesse, não vamos conseguir, porque isto não é uma ferida, é uma hemorragia.
Existe uma Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo, e outra Estratégia Nacional de Combate à Pobreza. O que é que está a falhar?
Bem, temos que reconhecer que são duas estruturas muito importantes, porque permitem-nos trabalhar em conjunto, e isso é muito bom.
Trabalhar em rede, as várias organizações que existem…
Temos o mesmo plano municipal, trabalhamos em rede, conhecemo-nos, contactamos. Isto foi muito importante na maneira como cuidamos destas pessoas sem abrigo. Mas depois faltam meios técnicos, sítios onde as pessoas possam ir dormir, faltam pessoas que possam acompanhar os casos.
Termos uma técnica social a cuidar de 200 casos… não pode, não consegue. Uma das queixas que os nossos utentes fazem muito em relação a algumas instituições é que têm entrevistas marcadas daqui a dois meses. Imaginemos uma pessoa que foi ao hospital, mandaram-lhe tomar quatro ou cinco medicamentos, um deles antibiótico, não tem dinheiro, só tem assistente social daqui a duas semanas, o doente vai ficar duas semanas sem um antibiótico?
É preciso agilizar.
Era preciso ter um acompanhamento quase lado a lado, mais personalizado, e se calhar em vez de estarmos a tratar de todos, neste mês vamos tratar de cinco. Creio que poderíamos avançar muito com este interesse particular para com a pessoa, não vermos só o mundo dos sem abrigo, mas fazer zoom e ver esta pessoa. Chegou hoje à rua? Em tempo recorde vamos ter que a tirar da rua, não pode ali ficar. E o que é que podemos fazer? Não há respostas.
Para quem não está familiarizado com o vosso trabalho, será útil falar da João 13: que apoio é que presta, onde é que é e o que é que assegura aos utentes?
A João 13 é uma associação de voluntários, foi criada em 2015 na sequência da primavera do Papa Francisco. Nasceu um bocadinho antes dos balneários que ele abriu no Vaticano (para os sem abrigo). Foi a partir da encíclica ‘A Alegria do Evangelho’ que nasceu esta associação de pessoas que se reuniam à volta do Convento de São Domingos e que achavam que o cristianismo não era só teoria, que tínhamos de fazer aqui alguma coisa. Então, fomos para o mundo dos mais pobres.
Somos cerca de 230 voluntários, temos o NAL (Núcleo de Apoio Local), que é uma resposta da Câmara Municipal de Lisboa integrada no projeto municipal para as pessoas sem abrigo. Abrimos o refeitório, o espaço que temos, por volta das 18h00. Ali, as pessoas podem tomar banho, deixar a roupa suja que nós lavamos, trocam de roupa, podem fazer a barba, toda essa higiene é permitido fazer ali. Depois passam ao refeitório, onde voluntários prepararam o jantar para poderem ter ali todos a mesma refeição quente, sentados à mesa. Isto marca a diferença com a distribuição nas ruas. Nós não vamos às ruas, quem está na rua sabe que pode ir ali.
As questões da higiene, da roupa lavada, mostra que há uma preocupação com a dignidade de quem está ali?
Claro, é toda essa dignidade. Creio que a grande diferença da João 13 é que nós não somos técnicos a tratar ali de coisas como vemos noutras instituições, em que as pessoas recebem um ordenado, têm de pôr comida na mesa, podem estar bem ou mal dispostas. Na João 13 vemos uma grande humanização, conhecem-nos, nós conhecemo-los a eles, ouvimos, escutamos, tentamos resolver problemas e acaba por ser uma família.
Creio que nenhum voluntário se envergonha de dizer que tem ali uma família, não é um estranho que ali está. Creio que isso é muito importante na humanização do tratamento destas pessoas, também na construção da fraternidade. Se eu voluntário vou para lá com um estilo de superioridade em relação a “estes coitados”, e não vale a pena ser ali voluntário, nós temos de estar de igual para igual. Se eles estão a jantar, eu vou jantar. Antes da pandemia, nós até tínhamos alguns que jantavam com as pessoas sem-abrigo à mesa- para podermos falar melhor. Vamos retomar em breve.
A pandemia condicionou o vosso trabalho?
Muito, a pandemia condicionou muito a nossa relação com eles. Não fechámos, mas a modalidade teve de ser outra: não podiam entrar, porque a nossa resposta é equivalente a um restaurante, portanto, tudo o que aconteceu nos restaurantes aconteceu connosco. Não pudemos abrir, eles não podiam tomar banho, nós dávamos umas toalhitas húmidas para que eles pudessem minimamente fazer a sua higiene, depois preparávamos as refeições em takeaway, e entregávamos. Não podíamos lavar roupa, porque não sabíamos se estava infetada, foi um bocadinho um caos. Mas demos resposta e a pandemia trouxe uma coisa boa: nós não estávamos abertos todos os dias, havia um ou dois dias em que não tínhamos voluntários, e fez com que nós abríssemos todos os dias e agora esteja a funcionar em pleno. Todos os dias do ano, a associação está aberta.
Depois do jantar, ainda damos a cada pessoa um kit com pequeno-almoço: pão com queijo ou com doce, leite de chocolate e uma fruta.
Que tipo de ajuda é que a associação recebe para poder prestar esse apoio?
Nós temos uma ajuda da Câmara Municipal de Lisboa, é um subsídio que não cobria, e agora muito menos… Vamos imaginar que temos uma despesa de 70 mil euros, a Câmara Municipal dá 25 mil, o resto são donativos de pessoas. Não há ninguém remunerado na associação, é o bem-fazer das pessoas. As pessoas acreditam na instituição, apoiam e nós, depois, vamos usando esse dinheiro nas várias coisas que são precisas preparar.
E já conseguem de facto dar essa resposta todos os dias da semana. Queria insistir nesta questão da dignidade da pessoa pobre, da pessoa carenciada. Lembro-me que há uns anos dizia que ia ter uma campanha para comprar próteses dentárias. Não pensamos nisso, mas é muito importante, por exemplo, para quem sai da rua ter uma aparência cuidada… Continuam a dar essa ajuda?
Há três anos, semanalmente. Temos dois tipos de ajuda na medicina dentária: uma ajuda para quem não tem dentes e precisa das próteses. Aí vamos a um laboratório, faz-se os moldes e essas pessoas têm esse cuidado. Quem tem mais problemas, todas as semanas temos um voluntário que leva nove pessoas a uma Faculdade de Medicina, onde são tratadas e acompanhadas.
Não sabem a alegria que era, na pandemia, as pessoas tirarem a máscara só para a gente ver os dentes! Isto é o que nos dá alegria de servir as pessoas: aquilo que faríamos para nós, fazemos também para os outros. Creio que isto é ver o outro de maneira igual.
Nestes anos de funcionamento já conseguiram tirar quantas pessoas da rua e encaminhar?
Encaminhar muitas. Arranjar emprego também, para algumas. Não temos isso quantificado, só encaminhamos, depois são outras instituições que fazem os acompanhamentos. Mas algumas pessoas acabaram por deixar de ir, é porque foram para outras para outras estruturas.
Nós, na Associação João 13, vamos passar a ter agora uma coisa boa, a partir deste final de ano, que é uma técnica de Serviço Social. Ou seja, vamos passar a ter ali alguém da nossa instituição que possa olhar para a vida destas pessoas e tentar encaminhá-las, ir buscar estes casos mais antigos, entrar em contacto com quem as credenciou para ver o que é que está a passar. Para nós é uma esperança, que possamos não depender de outros, para começar a resolver a vida das pessoas. Isso é uma coisa muito boa.
Depois, estas ajudas todas que vamos dando às pessoas para poderem comer melhor, para poderem sorrir, para poderem arranjar um emprego. Isto é mesmo ser semelhança minha, é ser humano como eu sou humano.
Falava há pouco de inspiração que o Papa Francisco representou para a criação desta associação. O Dia Mundial dos Pobres é uma instituição do Papa, já estamos na sua sexta edição, e na mensagem para 2022 fala do drama da guerra, dos refugiados, é incontornável, mas também alerta muito para a indiferença que existe em relação a quem vive na miséria. Ainda há muito preconceito, até entre os cristãos, para encarar quem é pobre?
Sim. Por isso é que o Papa escreve estas mensagens. Eu costumo dizer que estas mensagens são para os ‘não pobres’, isto não é para os pobres. Os ‘não pobres’ têm de perceber que existe esta realidade e que nós não podemos ser indiferentes.
A mensagem do Papa este ano toca nos vários tipos da indiferença, como a questão da teoria – porque não falta teoria sobre os pobres. A gente abre a boca e fala dos pobres, que são a riqueza da Igreja, mas depois, na prática, o que é que tu fazes pelos pobres? Em que é que tu ajudas os mais pobres?
Hoje na Missa, irei dizer às pessoas que, ao almoçar, se virem alguma pessoa na rua, sem-abrigo, que lhe vão dar o almoço. Vou dizer isto, para que as pessoas percebam, quando se sentarem à mesa, que neste dia deram de comer a alguém que estava a passar fome. Isto é a consciencialização dos cristãos, ainda que seja uma questão que a sociedade tem de resolver, nós pertencemos à sociedade.
São João Crisóstomo e tantos outros Santos, como São Lourenço, vêm dizendo isso: a fé sem obras é morta, como diz São Tiago, e a assistência aos mais pobres está desde o início, nos Atos Apóstolos, em que os apóstolos serviam às mesas dos mais pobres.
É pena que ainda haja alguns cristãos que ainda não tenham percebido o alcance: isto não é moda do Papa Francisco. A questão dos pobres não é moda do Papa, não é lema do pontificado…
Há críticas ao Papa Francisco de algumas pessoas que o acusam de promover um “credo pauperista”, ou seja, olha para a pobreza como ideal, mas o que as pessoas entendem é que toda a gente tem de viver na miséria, toda a gente tem de ser pobre. Como é que se olha para este valor da pobreza, do ponto de vista do ensinamento da teologia católica, da sua tradição, e se distingue da “pobreza que mata”, como escreve o Papa?
A pobreza que mata é a pobreza desumanizante, a pobreza da indiferença, a pobreza de vermos que as pessoas sem-abrigo dão despesa. Isto aparece nos discursos políticos, que são “parasitas” da sociedade. Tudo isto é aquela que mata, que não tem interesse nenhum. A pobreza que dá vida, libertadora, é quando os ricos, quem tem, partilha com quem não tem, porque foi esta a pastoral que Jesus fez com os ricos. Queria que os ricos se salvassem. Como? Partilhando a riqueza. Isto é o que se devia dizer dos púlpitos abaixo: os ricos não têm culpa de serem ricos, têm culpa em acumular a riqueza, porque a podem partilhar. Essa é uma pobreza que liberta. Quando partilhamos o que somos e o que temos, estamos a ser a imagem da liberalidade de Deus, que nos dá todos os bens.
Temos fé, imitamos Jesus Cristo nas suas palavras e nas suas obras. Mas isto não é moda do Papa Francisco, isto é Evangelho puro, puro.
Falámos de um projeto aqui, numa cidade como Lisboa. Há quem diga que a solidariedade é mais difícil nas grandes cidades. É isso que a sua experiência demonstra?
Não, não me posso queixar, porque tenho muitos voluntários. É preciso que haja instituições credíveis, para que as pessoas se sintam bem em ajudar, coisas práticas. Quer dizer, quando lavamos a roupa de uma pessoa que a deixou lá… podíamos pôr lá umas máquinas e eles que lavassem as roupas deles. Mas, quando estamos a lavar, percebemos que a roupa veio com manchas de sangue, por exemplo, e temos de falar com a pessoa: o que é que se passa consigo?
Conseguimos criar aqui uma onda. Nunca fizemos nenhuma campanha de angariação de voluntários. Nunca, nunca fizemos. O que acontece é que as pessoas vão, identificam-se, gostam, veem nisso uma resposta ao seu ser cristão, para ser cristão ativo na sociedade; veem na João 13 uma maneira concreta de praticar o Evangelho, chamam outras pessoas e a partir daí vai-se construindo esta rede de voluntários.
A João 13 é uma associação de voluntários porque a ideia dos fundadores não foi ajudar os pobres, foi pôr os voluntários a trabalhar, pôr os católicos, os cristãos a trabalhar. Não há desculpas para dizer “não sei onde ir”. Têm aqui uma estrutura, uma resposta concreta de voluntariado.
Que ajuda a olhar o pobre como um igual…
Como um irmão.