«Paulo e Filipa a dois – um renascer firme com vida», com texto de Rui A. Pereira, conta em livro a vontade de sair da situação de sem-abrigo e a construção de um projeto de vida com a ajuda da Comunidade Vida e Paz

Lisboa, 14 nov 2025 (Ecclesia) – Paulo Cunha viveu nas ruas de Lisboa durante 25 anos, entre os oito e os 33 anos, e com a esposa, Filipa Fernandes, publicou um livro para ajudar outros a aceitar ajuda e a mudar de vida.
“Eu não quero que pensem que sou mais de que outros, porque eu não sei o dia da amanhã. Eu quero é que eles vejam que é possível mudar de vida”, conta Paulo Cunha à Agência ECCLESIA.
«Paulo e Filipa a dois – um renascer firme com vida», com texto de Rui A. Pereira, recorda os dias em que Paulo saiu de casa com oito anos, consequência da instabilidade vivida entre a casa do pai e da mãe: “Era muito difícil”.
Váris vezes, Paulo Cunha pensou regressar a casa mas a instabilidade manteve-o na rua, onde acabou por ser ajudado por pessoas que o acolheram, e onde se fez adulto.
Até aos13 foi ajudado por uma senhora que o cuidava na rua; com a sua morte, passou a ter de cuidar de si, entre biscates a arrumar carros, levar o “lixo de cafés e restaurantes” ou a “ajudar nas marchas de Santo António”, Paulo foi cultivando uma rede de afetos que o cuidaram, mesmo quando aos 14 anos começa a beber.
“Pode haver muitas ajudas, mas se não partir de nós, se não dissermos «eu quero, eu vou», não há possibilidade”, recorda.
A Comunidade Vida e Paz foi essencial para dar esse passo e à irmã Maria Gonçalves Martins, fundadora da IPSS do Patriarcado de Lisboa, disse muitas vezes “obrigada”.
Em 2006 conheceu Filipa Fernandes, e depois de um namoro de quatro anos, casaram procurando, “sempre juntos”, construir um projeto de vida.
“Quando começamos a namorar, ele teve uma conversa comigo sobre o passado e eu só lhe dei de resposta: «O que interessa agora é o presente e o futuro. Pensa no futuro, não penses no passado»”, conta à Agência ECCLESIA.
A ligação à CVP mantem-se: o casal é voluntário na Festa de Natal, onde ajuda na organização do encontro, e disponibiliza-se para partilhar o seu testemunho de vida com outras pessoas em situação de sem-abrigo.
“Aquilo que se vê mais na rua são as pessoas a virarem a cara. Isso deixa-me tocada, a pensar na vida das pessoas em situação de sem-abrigo. O nosso testemunho pode ser um incentivo para que as pessoas possam dar a volta, ter alguma estabilidade de vida, dar passos – um de cada vez”, conta Filipa Fernandes.
O livro «Paulo e Filipa a dois – um renascer firme com vida», com texto de Rui A. Pereira e fotografias do casal, ilustrando o percurso de vida singular e em casal, conta com uma mensagem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que dá conta da “perseverança”.

“O Paulo e a Filipa ensinaram-nos que, perante as adversidades, não se pode desistir de lutar. É preciso lutar. E lutaram os dois, por aquilo a que todos temos direito: uma vida com dignidade, uma casa, uma família. É esta história que partilham agora em livro. Uma história de vida contada na primeira pessoa, que nos continua sempre a inspirar”, pode ler-se.
Paulo Cunha reconhece na publicação do livro um “obrigado à CVP”.
“Dissemos que a receita do livro, revertia a favor da Comunidade Vida e paz. É um obrigada à instituição”, traduz.
O livro «Paulo e Filipa a dois – um renascer firme com vida» encontra-se disponível para venda da paróquia do Campo Grande, em Lisboa.
O Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo Papa Francisco no encerramento do Jubileu da Misericórdia, em 2016, e celebrou-se pela primeira vez no ano seguinte; este ano, na sua nona edição, insere-se nas celebrações do Jubileu dos Pobres do Ano Santo 2025, entre esta sexta-feira e domingo.
O programa 70×7, com emissão domingo às 17h30 na RTP2, vai destacar o testemunho de Paulo Cunha e Filipa Fernandes e dar conta das respostas da Cáritas Diocesana de Setúbal a situações de fragilidade.
LS
