Padre Carlos Godinho defende visão «mais alargada» para o setor
Lisboa, 26 set 2017 (Ecclesia) – A Igreja Católica em Portugal defende uma visão “mais alargada” para o setor do Turismo, rumo ao “desenvolvimento integral” e “sustentável” das pessoas, dos territórios e do planeta.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o diretor da Obra Nacional de Pastoral do Turismo (ONPT) realçou a importância do “diálogo” e de um “trabalho conjunto” na elaboração e aplicação das estratégias de turismo.
“A Igreja tem de estar permanentemente aberta a este diálogo. O nosso trabalho é dirigido sobretudo às dioceses e paróquias, mas também às instituições civis e com todas as instituições que trabalham na área do turismo, sobretudo para que nós nos abramos a uma conceção mais alargada do próprio turismo”, referiu o padre Carlos Godinho.
Para aquele responsável, os resultados económicos são importantes mas não podem reger toda a estratégia turística, sem olhar a custos humanos e ambientais, por exemplo.
“Sem dúvida que qualquer autarquia, e mesmo a nível nacional, os serviços de turismo, olham essencialmente à realidade económica. Mas hoje há uma concepção generalizada, e não é só nossa, de que o turismo compreende muitas outras dimensões, porque se trata de pessoas, em várias circunstâncias, quer no contexto social, cultural, na relação entre comunidades, quer jurídica e ambiental”, recordou.
De acordo com o sacerdote, a cooperação entre a Igreja Católica e as autarquias já se faz através de “projetos bem concretos”, desde logo ao nível do “património”.
“Posso dizer por exemplo nas nossas próximas jornadas de Pastoral do Turismo, entre 27 e 28 de outubro, teremos um espaço ideal para isso, com a presença da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, e com as autarquias locais”, adiantou.
Potenciar o turismo sem descaraterizar as regiões nem a vivência normal das populações é um dos desafios com que Portugal e outros países da Europa, como a vizinha Espanha, se estão a debater.
Por exemplo, o aumento do número de turistas na zona histórica de Lisboa, em bairros como Alfama e a Mouraria, já levou a que começasse a surgir um novo conceito, de “turismofobia”, de protesto contra o excesso do fluxo de turistas em determinadas zonas, que envolve depois todo um conjunto de problemas, como a habitação.
“O turismo, como atividade em crescendo, não pode sobrepor-se a uma realidade existente, tem de conviver com a realidade existente. E podem gerar-se alguns conflitos. Essa questão notamo-la particularmente em Barcelona. É importante que nós façamos uma boa gestão do turismo, tem que haver um equilíbrio entre o direito das pessoas que estão e a realidade daqueles que chegam”, defendeu o diretor da ONPT.
Sobre o que está a acontecer em Lisboa, o padre Carlos Godinho apontou a questão das “ações de despejo” que estão a ser feitas a moradores, sob o “pretexto” dos proprietários fazerem obras nos seus edifícios, “em casas degradadas de alguns dos nossos bairros típicos”, que depois acabam por ser transformadas em alojamento local para turistas.
Uma situação que “a atual lei permite” e que tem por isso de ser revista pelas “autoridades nacionais”.
Caso contrário, “estaremos aqui a criar anticorpos, a criar situações de injustiça e a descaraterizar os próprios bairros”.
“Aliás, estaremos aqui a prejudicar o próprio turismo, porque estamos a retirar-lhe o que é genuíno, aquilo que se pretende oferecer aos turistas, a realidade de quem está. Temos de encontrar soluções sem prejudicar as duas partes”, disse o padre Carlos Godinho.
Sobre o trabalho a realizar concretamente na área do turismo religioso, o sacerdote frisa a responsabilidade de também contribuir para o desenvolvimento das comunidades, sobretudo as mais afastadas dos grandes centros.
“Zonas mais isoladas, mas onde o turismo religioso tem alguma expressão, podem desenvolver-se a partir daqui, com compromisso social, com ajuda às comunidades, valorizando a vida das comunidades locais”, sem esquecer também “a conversão ecológica” que o Papa convida a fazer.
“Há um trabalho imenso que podemos fazer, a partir do turismo religioso, mas sempre entendido no conjunto de toda a atividade turística”, reconheceu aquele responsável, que sobre o trabalho nas dioceses considera que há ainda um caminho a fazer.
“Gostaríamos que esta questão fosse muito mais acolhida, que a pastoral do turismo já estivesse muito mais implantada nas nossas dioceses. Há algumas que já desenvolvem um trabalho muito interessante, outras nem sequer iniciaram. Penso que há um trabalho ainda de anos de sensibilização para esta realidade”, completou.
JCP