Dia Mundial do Teatro: «A arte tem de inquietar, convoca a outra experiência e isso é singular» – Adriano Carvalho

Mensagem do Instituto Internacional do Teatro indica que arte cénica «existe e perdura graças a perguntas por responder»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 26 mar 2025 (Ecclesia) – Adriano Carvalho, ator há 30 anos, diz ser um “auxiliar de contador de histórias”, reconhece a arte como ecuménica porque congrega “muitas sensibilidades” e sublinha que esta tem de servir para inquietar.

“A arte serve sempre para alguma coisa, para interpelar, para movimentar, mas ela tem de ter inquietação. A arte é ecuménica porque congrega várias sensibilidades e vai a lugares inaugurais de forma singular”, explica à Agência ECCLESIA.

O ator, com 30 anos de experiência em cinema e televisão, acredita que o homem não consegue viver sem arte, por isso ela tem o poder de falar a cada um de forma individual, mesmo que partilhada por muitos e reconhece-a como um caminho para a transcendência: “A expressão da arte convoca-nos a outra experiência e isso é singular”.

“Um ator é uma espécie de auxiliar de contador de histórias, que empresta o seu corpo para fazer questionar e alertar a sociedade e as pessoas, está na fronteira ténue entre o que ele é e a personagem exige. A forma honesta de lá chegar é através da escuta das pessoas”, acrescenta.

No Dia Mundial do Teatro, assinalado a 27 de março, o Instituto Internacional do Teatro (ITI), convidou o pedagogo e encenador grego Theodoros Terzopoulos, a escrever uma mensagem, que circula neste dia e que evoca os apelos que a arte cénica faz ao mundo contemporâneo.

“Estará o teatro preocupado com a condição humana, tal como está a ser moldada no século XXI, em que o cidadão é manipulado por interesses políticos e económicos, redes de comunicação social e empresas fazedoras de opinião? Onde as redes sociais, por mais que a facilitem, são o grande alívio da comunicação, porque proporcionam a necessária distância segura do outro? Uma sensação generalizada de medo do outro, do diferente, do estranho, domina os nossos pensamentos e ações. Pode o teatro funcionar como laboratório para a coexistência de diferenças, sem levar em conta o trauma sangrento?”

“Perguntas que não permitem respostas definitivas, porque o teatro existe e perdura graças a perguntas por responder”, reconhece a mensagem escrita por Theodoros Terzopoulos.

Nascido nos anos 70, a primeira palavra que Adriano Carvalho aprendeu a ler foi «vota», encontrada a cor e pintada nas paredes, a meio da década, onde a criança “tímida e introvertida” crescia numa meio semirrural, na localidade da Parede, na periferia da cidade de Lisboa, outrora entre campos agrícolas que hoje dão lugar a prédios.

Sem uma área de eleição, Adriano Carvalho seguiria um “curso seguro”: pensou em Direito inscreveu-se em Geografia, na Universidade em Coimbra, mas um interregno, ainda em Lisboa, colocou-o em contacto com “um folheto” do Instituto Politécnico de Lisboa e a Escola Superior Teatro e Cinema – “Fui lá fazer umas provas e fiquei”.

Passou três meses no Conservatório, no curso de teatro, mas acabou por rumar a Coimbra com a ideia de estudar um ano por lá, pedir equivalências e regressar a Lisboa, no entanto já levava a semente do teatro.

“O teatro foi um acidente da vida, ou um incidente. Não tenho uma explicação lógica. Aqueles três meses foram uma surpresa, intensivos, marcantes, moldaram-me, deram-me outro olhar. Quando começas a contactar com aquelas pessoas e mundo já não consegues esquecer”, explica.

“Todos nós temos qualquer coisa de artista, temos dons inatos e isso está presente. Podem ser mais ou menos trabalhados. Se desenvolvermos a capacidade de escuta, dar espaço aos outros gerará mais consensos e estamos a precisar muito deles”, finaliza.

A conversa com Adriano Carvalho pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA, na Antena 1, emitido pouco depois da meia-noite, e disponibilizado no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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