Cardiologista sublinha importância da escuta recíproca, numa relação terapêutica
Lisboa, 07 fev 2022 (Ecclesia) – O cardiologista Luis Parente Martins afirmou que o modelo de “medicina paternalista” tem de dar lugar a uma relação terapêutica que valoriza o diálogo com a pessoa doente, ao “estilo sinodal”.
“Temos de acabar com esta medicina paternalista, onde o doente vai ao médico para que este decida e o que vai fazer da sua vida, mas realizar uma medicina ao estilo sinodal onde é preciso que as pessoas se ouçammutuamente”, disse à Agência ECCLESIA, numa entrevista a propósito do Dia Mundial do Doente (11 de fevereiro).
A celebração de 2022 tem como tema da mensagem escrita pelo Papa ‘Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso (Lc 6, 36). Estar ao lado de quem sofre num caminho de amor’.
Francisco convida os médicos a colocar o coração “ao lado dos pequenos e dos mais dos frágeis”, indica Luis Parente Martins, entrevistado hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).
O médico realça que, “independentemente do estatuto ou classe social”, quem está doente “experimenta a fragilidade”.
Destacando que a “dor isola” as pessoas, como foi possível ver “na situação pandémica que o mundo vive hoje”, Luis Parente Martins sustenta que a dinâmica do Sínodo 2021-2023 que a Igreja vive pode ser “perfeitamente adaptada através do encontro”, porque “é preciso tempo para que nos atos médicos as pessoas se encontrarem e ouçam mutuamente”.
Como médico, o entrevistado salienta que deve “propor coisas”, mas não deve ser paternalista, mas “sim privilegiar a autonomia no sentido do doente também dizer o que quer fazer”.
Para este médico cardiologista, a mensagem deste ano do Papa Francisco para o Dia Mundial do Doente “é promotora da saúde” porque, para além de enaltecer “os desenvolvimentos tecnológicos”, o “mais importante são as pessoas”.
O especialista é mentor da unidade ‘Mais Sentido’, que pensa os cuidados paliativos para insuficientes cardíacos, realçando que os médicos “não são mecânicos do coração”.
“Essa é uma visão míope da medicina”, adverte, antes de sublinhar que o problema da pessoa “não é só o coração doente”.
Luis Parente Martins defende que é fundamental “uma visão holística, global”, em todos os aspetos onde existe sofrimento.
A dimensão espiritual é “uma vertente essencial da promoção da saúde”, acrescenta.
O 30.º Dia Mundial do Doente vai ser celebrado no Vaticano e não Arequipa, no Perú, como inicialmente previsto, por causa das limitações impostas pela pandemia.
O Papa Francisco – que em 2021 esteve internado durante 10 dias, após uma intervenção cirúrgica – deixa votos de que esta jornada ajude todos a “crescer na proximidade e no serviço às pessoas doentes e às suas famílias”.
PR/LFS/OC
Dia Mundial do Doente: Papa defende acesso universal a serviços de saúde