Pedro Vaz Patto denuncia desigualdades que podem advir da utilização de sistemas apenas por uma «elite»
Lisboa, 03 jan 2023 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) considera que um dos riscos dos sistemas de inteligência artificial está relacionado com quem exerce poder sobre eles, isto é, a “diferença abismal de acesso a este tipo de instrumentos” que pode agravar as desigualdades.
“No fundo, acabam por não ser os instrumentos de inteligência artificial a dominar, mas há alguém que, por trás deles, os pode manipular. Esse é também um perigo. São instrumentos que podem ser mal utilizados ou podem ser utilizados apenas por uma elite, por um grupo restrito de pessoas, e assim se acentua a desigualdade”, alerta Pedro Vaz Patto, em entrevista.
O responsável foi o convidado desta quarta-feira do Programa ECCLESIA, transmitido na RTP2, a propósito da mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, com o título “Inteligência Artificial e Paz”.
Francisco denuncia “formas de manipulação ou controlo social” potenciados pela inteligência artificial, apontando ainda o impacto das novas tecnologias no âmbito laboral, pedindo que os responsáveis políticos promovam “o respeito pela dignidade dos trabalhadores e a importância do emprego para o bem-estar económico das pessoas, das famílias e das sociedades, a estabilidade dos empregos e a equidade dos salários”.
“A ameaça não é apenas desemprego de profissões menos qualificadas, é até de profissões que nós consideramos qualificadas”, destaca o entrevistado, que afirma ainda serem “critérios discriminatórios” aqueles usados pelos meios de inteligência artificial para recusar pessoas candidatas a um determinado emprego ou empréstimo bancário.
Aqui é importante ter presente, disse o Papa nesta ocasião, e também já o disse noutras, que nem tudo é previsível, e nem sempre o facto de determinada pessoa ter tido determinados comportamentos no passado significa necessariamente que os vai ter no futuro”.
Pedro Vaz Patto salientou também o controlo absoluto sobre a vida das pessoas “em termos que não são conformes à dignidade humana” como um dos perigos da utilização dos sistemas de inteligência artificial.
“Esta utilização destes dados, pode levar a manipulações que já temos visto isso e isso tem sido posto em evidência, manipulações destes dados que permitem influenciar, sem a pessoa disso se aperceber, as suas escolhas. As suas escolhas no plano comercial, da compra de produtos, e até as suas escolhas no plano político”, indica.
Ainda assim, o presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz ressalta a visão positiva do progresso tecnológico que o Papa assinala na mensagem, nomeadamente a oportunidade que deu de vencer “muitos sofrimentos que afligiam a humanidade”, nomeadamente na substituição de esforços físicos humanos por máquinas.
A Comissão Nacional Justiça e Paz já tinha reagido à mensagem do Papa Francisco sobre o tema escolhido para o Dia Mundial da Paz deste ano, onde realçou os benefícios dos progressos da ciência e da tecnologia, como produtos criativos da inteligência humana, mas também os vários perigos da má utilização dos sistemas de inteligência artificial.
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