Investigador e professor universitário comenta referência ao uso inteligência artificial no campo militar, na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2026

Coimbra, 29 dez 2025 (Ecclesia) – O professor universitário Miguel Oliveira Panão alertou para a utilização da inteligência artificial (IA) na guerra, a propósito da mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz 2026.
“Se nós damos à máquina o poder de decidir, e, sobretudo, decidir em tempo de guerra, é decidir sobre a vida ou a morte de alguém. Ora, eu acho que isso é muito perigoso. Entramos num terreno muito perigoso e lá está de desresponsabilização”, afirmou o docente, em declarações à Agência ECCLESIA.
Para o investigador, este é um tema que todos deveriam “tomar muito a sério e que pode levar a uma ameaça da paz”.
“Eu não sei se estamos preparados para aceitar as consequências”, referiu.
O Papa Leão XIV publicou a 18 de dezembro a sua primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz, que se celebra a 1 de janeiro de 2026, denunciando novos perigos associados à tecnologia nos conflitos armados.
O professor Miguel Panão defende que deveria haver leis internacionais para limitar o uso da IA na guerra ou mesmo que a sua utilização não deveria ser permitida.
“Dar à máquina esse papel de decisão e de agente é preciso ter algum cuidado, porque perdemos, na prática, o controlo quando é isso que gostaríamos de ter cada vez mais”, indicou.
Segundo o investigador, a tecnologia deve ser desenvolvida para fazer bem ao homem, melhorar a vida do ser humano e “não o contrário”.
Questionado sobre se a IA pode também ser um instrumento de promoção da paz, o docente acredita que sim e que depende sempre de quem a utiliza.

“Acho que a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, mesmo se focada sobre a guerra, não se restringe apenas a isso. Eu acho que serve para todos os domínios de ação humana onde a inteligência artificial vai ter um impacto cada vez maior”, disse.
Sobre o equilíbrio da utilização da IA no quotidiano, na vida de cada pessoa, Miguel Panão considera que este descobre-se utilizando o pensamento crítico, que aponta como “essencial”, “agora mais que nunca”.
“Quando a inteligência artificial nos dá retorno de alguma coisa nesta nossa interação, é importante criticá-lo. Com isso, estamos não só a promover o pensamento crítico que podemos aplicar a qualquer área da nossa vida, mas, sobretudo, ao pensamento crítico sobre a forma como utilizamos a tecnologia”, completou.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o professor abordou também o uso da tecnologia para propagar conteúdos falsos.
“A inteligência artificial, se não for bem regulada, se as companhias não trabalharem bem, pode gerar uma fonte de desinformação, que é uma bola de neve que não para”, assegurou.
Miguel Panão destaca que os jornalistas são quem vai ajudar a manter a verdade.
“Cada vez vão ser mais importantes as fontes credíveis de informação, de ligação dos eventos e de compreensão daquilo que se está a passar”, salientou.
LJ/PR
