Presidente do Centro de Estudos EuroDefense Portugal diz que a guerra limpa é um «verdadeiro mito» e um «enorme perigo» e que a «Europa tem de se armar se quer prevenir a guerra»

Lisboa, 27 dez 2025 (Ecclesia) – O presidente do Centro de Estudos EuroDefense Portugal afirma que o conceito de “guerra limpa” é um “verdadeiro mito” e um “enorme perigo” e considera a paz desarmada é difícil “para não dizer impossível”.
“É sempre construtivo falar numa paz desarmada”, afirmou o antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, considerando que, com o aumento da despesa no setor da defesa, é “absolutamente” mais difícil a paz desarmada, “para não dizer que é impossível”.
Luís Valença Pinto reconheceu na entrevista Renascença/Ecclesia desta semana que “a Europa tem de se armar de facto se quer prevenir a guerra”.
“Aqui em Portugal, na ponta sudoeste, podemos achar que é menos iminente, mas quando viajamos para a Polónia, para os estados escandinavos, para os estados bálticos, toda a gente está a esperar que a guerra comece esta noite. Isso é uma realidade muito infeliz e muito triste”, afirmou.
O presidente do Centro de Estudos EuroDefense Portugal lembrou que “a defesa é uma política pública essencial, a par de muitas outras políticas públicas”, e que “a segurança e a defesa são uma exigência fundamental das sociedades”.
“Se nós pensámos em desenvolvimento e bem-estar, não poderemos tê-lo se não tivermos segurança e defesa”, afirmou.
Diante do aumento da despesa no setor da defesa, a nível mundial, europeu e em Portugal, Valença Pinto considera que “a situação impõe esse aumento”, apontando para a necessidade de “gastar mais, gastar melhor, gastar mais em conjunto”.
O antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas defende que o aumento na defesa não fragiliza setores sociais, lembrando que “compete aos governos gerir as coisas em todos esses setores”.
A educação não fica melhor apenas com o critério de se pôr lá mais dinheiro. E, identicamente, a saúde também não fica melhor se o critério for apenas pôr lá mais dinheiro. É preciso racionalizar, gerir melhor”, afirmou.
Comentando a Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, Valença Pinto referiu-se ao desenvolvimento da inteligência artificial em contexto de conflitos armados, afirmando que o conceito de guerra limpa é “um verdadeiro mito” e “um enorme perigo”.
Para o antigo militar, a “um guerra limpa e sem baixas, determinada apenas por carregar num botão a milhares de quilómetros do decisor e a milhares de quilómetros do objetivo tem duas potenciais consequências muito preocupantes”: “banaliza o recurso à guerra” e “convida a uma menor responsabilização dos responsáveis políticos”.
Luís Valença Pinto alertou para o facto de, na relação entre os povos, estar a “prevalecer a força”, afirmando que “isso não é um tempo interessante para os homens e para o mundo em geral”.
“Estamo-nos a afastar de padrões de justiça e da ideia de paz ligada à justiça porque essa é a boa e construtiva ideia de paz. Não chega, não é suficiente entender a paz como ausência de guerra, ausência de tiros. É preciso entender a paz como algo que se confunde com a justiça, não dos tribunais, leia-se, mas sim a justiça assente na não discriminação, num plano político, económico e social”, afirmou.
O presidente do Centro de Estudos EuroDefense Portugal lembrou que o papel das religiões no debate sobre a paz é “imensamente importante” e disse que, desde o Papa Paulo VI, a Igreja Católica começou a “estudar a paz a preocupar-se com a paz e a fazer pastoral sobre a paz”.
“Nessa altura, interessei-me imenso, comecei a ensinar a paz, talvez tenha sido o primeiro a ensinar a paz em Portugal nesta zona de estudos de segurança e de relações internacionais”, afirmou, acrescentando que coleciona desde essa ocasião, a mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz.
Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Paulo Rocha (Ecclesia)
PR
