Diretor de comunicação da Amnistia Internacional-Portugal assume consonância com o Papa em temas como eliminação da pena de morte e perdão da dívida
Lisboa, 02 jan 2025 (Ecclesia) – O diretor de Comunicação da Amnistia Internacional-Portugal destacou os objetivos comuns da instituição e do Papa, a partir da mensagem de Francisco para o Dia Mundial da Paz 2025, como a eliminação da pena de morte e o perdão da dívida.
“O objetivo acaba por ser comum nestes temas muito importantes para o mundo e, de facto, aquilo que é o desafio individual lançado pelo Papa é também muito o desafio e o que muitas vezes a Amnistia faz aos seus voluntários, aos seus membros, aos seus apoiantes, é um pequeno gesto que pode significar mudar uma vida”, disse Miguel Marujo, em entrevista à Agência ECCLESIA.
‘Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz’, é o título da mensagem do Papa para o 58.º Dia Mundial da Paz, que a Igreja Católica celebrou neste dia 1 de janeiro de 2025; Francisco, por exemplo, pede a eliminação da pena de morte, apela ao perdão da dívida externa dos países e a criação de um fundo mundial que elimine definitivamente a fome, através da utilização de uma percentagem do dinheiro gasto em armamento.
O diretor de comunicação da Amnistia Internacional-Portugal destaca que a organização acompanha estes três temas em concreto há muito tempo e “são preocupações ao longo destes anos e do seu trabalho de advocacia junto de instituições e identidades e dos governos para que muitas destas coisas se alterem”.
Miguel Marujo, sobre esse dever de justiça com os países pobres de perdão da dívida, salienta que a Amnistia Internacional, em 2023, alertava que “era importante” que os governos tentassem negociar a dívida, que “podia ser reprogramada ou até mesmo anulada”, para permitir o que “muitas vezes falha em países que vivem com esse problema da dívida”, e é preciso “avançar para uma maior proteção social dos seus cidadãos”.
Neste contexto, o Papa sublinha também o impacto da crise ecológica nas populações mais desprotegidas, a dívida com a proteção do meio ambiente, o entrevistado explica que, “muitas vezes”, os direitos ambientais “estão também relacionados com direitos económicos e sociais”, a Amnistia Internacional, por exemplo, acompanha uma comunidade indígena no Canadá que “tem sido perseguida em termos policiais e jurídicos por defender que nas suas terras não deve passar um gasoduto”.
O Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025, reforça o seu apelo para a eliminação da pena de morte em todas as nações, e, segundo Miguel Marujo, em 2024 tiveram “boas notícias e más notícias”.
“As boas notícias foram, por exemplo, no dia 17 de dezembro, a aprovação por mais de dois terços dos países da Assembleia Geral das Nações Unidas de um voto que acompanha uma moratória da pena de morte para caminhar para uma eliminação da pena de morte nas leis internacionais e no direito internacional. Por outro lado, um país concreto, o Zimbábue, fez também aprovar, em dezembro, uma lei em que o Senado defende a extinção da pena de morte no país, faltando a promulgação do presidente”, exemplificou.
O diretor de comunicação da Amnistia Internacional-Portugal, nas “más notícias” sobre a pena capital, destaca os “exemplos concretos e muito recentes do Irão, da Arábia Saudita”, dois países que, ano após ano, “vão batendo recortes do uso da pena de morte para presos, muitas vezes, para pessoas detidas apenas por motivos de consciência”.
A Amnistia Internacional manifesta também “preocupação” com a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América, e afirma que “vai estar muito vigilante perante as práticas dos Direitos Humanos da próxima administração Trump”, porque, nesse aspeto, no seu primeiro mandato, “foi muito desastrosa”.
“Os sinais que tem dado não são muito animadores e, de facto, a pena de morte ganhou um novo impulso, porque muitos dos seus apoiantes, sobretudo, do Partido Republicano, que agora tem uma maioria nas duas câmaras, tem a presidência, tudo isso deixa-nos preocupados, mas, ao mesmo tempo, atentos e vigilantes”, acrescentou Miguel Marujo, no Programa ECCLESIA, que é emitido hoje na RTP2.
Sobre a defesa da vida, num “marcado pelas guerras”, o Papa apela à criação de um fundo mundial para a eliminação da fome, com “pelo menos uma percentagem fixa do dinheiro gasto em armamento”.
Segundo Miguel Marujo, da Amnistia Internacional – Portugal, “dificilmente” qualquer um destes projetos “é concretizável, mas é bom que estejam em cima da mesa”, é bom que sejam lembradas, a organização defende uma “proteção universal alargada, seja uma proteção social alargada a todos os povos”, e que, no âmbito do perdão das dividias, “o dinheiro deve ser desviado, no bom sentido, para aquilo que são práticas sociais certas e justas dos Estados”.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia de cada ano, com uma mensagem papal.
PR/CB/OC
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