Francisco fala das guerras e das crises ecológica e migratória, apontando ao próximo Jubileu como oportunidade de mudança
Cidade do Vaticano, 12 dez 2024 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025, a “ameaça real” à sobrevivência da humanidade que se vive no mundo atual.
“Refiro-me, em particular, às desigualdades de todos os tipos, ao tratamento desumano dispensado aos migrantes, à degradação ambiental, à confusão gerada intencionalmente pela desinformação, à rejeição a qualquer tipo de diálogo e ao financiamento ostensivo da indústria militar. Todos estes são fatores de uma ameaça real à existência de toda a humanidade”, escreve, num texto divulgado pelo Vaticano.
A mensagem para o próximo Dia Mundial da Paz, celebrado a 1 de janeiro de 2025, é dedicada ao tema ‘Perdoa-nos as nossas ofensas: concede-nos a tua paz’.
“Cada um de nós deve sentir-se, de alguma forma, responsável pela devastação a que a nossa casa comum está sujeita, a começar pelas ações que, mesmo indiretamente, alimentam os conflitos que assolam a humanidade”, refere Francisco.
O Papa fala do “grito da humanidade”, que inspira a celebração do Ano Santo 2025, o 27.º Jubileu ordinário da história da Igreja, dedicado à esperança.
“Dirijo os meus mais sinceros votos de paz a cada mulher e a cada homem, especialmente àqueles que se sentem prostrados pela sua condição existencial, condenados pelos seus próprios erros, esmagados pelo julgamento dos outros e já não veem qualquer perspetiva para a sua própria vida”, refere.
Queremos escutar este grito da humanidade para nos sentirmos chamados, todos nós, juntos e de modo pessoal, a quebrar as correntes da injustiça para proclamar a justiça de Deus. Alguns atos esporádicos de filantropia não serão suficientes. Em vez disso, são necessárias transformações culturais e estruturais, para que possa haver também uma mudança duradoura”.
Francisco recorda que o Jubileu remonta a uma antiga tradição judaica, quando a cada 49 anos o toque da trombeta (em hebraico: jobel) anunciava um tempo de clemência e de libertação para todo o povo, segundo o capítulo 25 do Levítico, terceiro livro da Bíblia, “a fim de restabelecer a justiça de Deus nos diferentes âmbitos da vida”.
“Também nos dias de hoje, o Jubileu é um acontecimento que nos impele a procurar a justiça libertadora de Deus em toda a terra. Em vez da trombeta, no início deste Ano de Graça, nós gostaríamos de estar atentos ao desesperado grito de ajuda que, como a voz do sangue de Abel, o justo, se eleva de muitas partes da terra e que Deus nunca deixa de escutar”, escreve.
Segundo o Papa, estes problemas persistem com a “cumplicidade generalizada” de pessoas e instituições, considerando que “a paz verdadeira e duradoura não se detém nas querelas dos contratos ou nas mesas dos compromissos humanos”.
Francisco pede que todos tenham um coração que “não hesita em reconhecer-se devedor de Deus e que, por isso, está pronto para perdoar as dívidas que oprimem o próximo; um coração que supera o desânimo em relação ao futuro com a esperança de que cada pessoa é um bem para este mundo”.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia de cada ano, com uma mensagem papal.
OC
Concede-nos, Senhor, a tua paz! Esta é a oração que elevo a Deus ao dirigir as minhas saudações de Ano Novo aos chefes de Estado e de Governo, aos chefes das organizações internacionais, aos líderes das diferentes religiões e a todas as pessoas de boa vontade. Perdoa-nos as nossas ofensas, Senhor, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e, neste círculo de perdão, concede-nos a tua paz, aquela paz que só Tu podes dar para aqueles que deixam o seu coração desarmado, para aqueles que, com esperança, querem perdoar as dívidas aos seus irmãos, para aqueles que confessam, sem medo, que são vossos devedores, para aqueles que não ficam surdos ao grito dos mais pobres. Papa Francisco, mensagem para o Dia Mundial da Paz 2025 |
Dia Mundial da Paz 2025: Papa insiste no fim da pena da morte, como gesto de quem defende a vida