Porto, 20 mar 2015 (Ecclesia) – José Carlos Carvalho, biblista e professor na Universidade Católica Portuguesa – Porto, recorda São José como uma“figura muito discreta”, que “cumpre” o seu papel na infância de Jesus e depois “desaparece”.
“Protege o Menino Deus, educa-O, alimenta-O. Neste sentido, dá espaço e tempo à encarnação do Verbo para lá do seio de Maria. Para que a encarnação seja completa é necessário uma família. José compõe essa família e dá familiaridade a Jesus”, escreve o especialista.
José Carlos Carvalho considera que São José é um “outro precursor”, como foi São João Baptista, que também faz a ligação ao Antigo Testamento e “sai de cena quando chega o Novo”.
Na última edição do Semanário digital ECCLESIA, o docente recorda que São José só tem um “papel de relevo” nos evangelhos da infância de Jesus.
“Os evangelistas não escondem esta figura da vida de Jesus, mesmo sendo Jesus o Filho de Deus", no entanto "a atenção maior" não recai sobre ele "nem sequer sobre a mãe (Maria), mas sobre Jesus”, clarifica o biblista.
Segundo José Carlos Carvalho, tal como nas famílias onde existe transmissão da fé também Jesus “bebeu da fé do pai adotivo”: “Esta é a absoluta humanidade da família de Nazaré e da fé do próprio Jesus, mesmo sendo adotado. Ora, Jesus sendo adotado por José, não foi menos amado.”
Neste contexto, o professor no polo regional do Porto, da Universidade Católica Portuguesa, assinala que São José também foi “objeto de anunciação” porque o que “aconteceu era demais” para ele.
Como é costume no judaísmo, é o pai que dá o nome ao filho para que “receba a sua identidade por uma designação patronímica” e desta forma Jesus torna-se conhecido na sociedade judaica como “filho de José (Lc 3,23) de Nazaré”.
“Só uma anunciação vinda do céu poderia contornar a dificuldade. Isto alterou o olhar de José. Também ele percebeu que recebeu uma grande prenda do céu”, escreveu.
O biblista assinala ainda que a raiz do nome do pai adotivo de Jesus em hebraico – yoseph – significa “acrescentar; continuar; repetir” e dessa forma acrescenta “humanidade à encarnação do Verbo, e uma humanidade família”.
CB/PR