Dia da Mulher: Papa destaca contributo feminino na construção de «sociedade mais humana»

Número de funcionárias no Vaticano aumentou 37,7% numa década

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 08 mar 2023 (Ecclesia) – O Papa assinalou hoje, no Vaticano, o Dia Internacional da Mulher, destacando o contributo feminino para uma “sociedade mais humana”.

“Penso em todas as mulheres: agradeço pelo seu empenho na construção de uma sociedade mais humana, através da sua capacidade de apreender a realidade com um olhar criativo e um coração terno. Este é um privilégio das mulheres”, disse, no final da audiência pública semanal, perante milhares de pessoas.

Francisco deixou uma “bênção especial” e pediu um apaluso a todas as mulheres presentes na Praça de São Pedro.

Segundo o portal de notícias do Vaticano, as instituições do Estado e da Santa Sé têm atualmente 1165 funcionárias, um aumento de 37,7% face às 846 no início do atual pontificado, em 2013.

Já a percentagem de mulheres que trabalham no Estado da Cidade do Vaticano e nas estrutura da Santa Sé aumentou de 19,2% para 23,4%, nesta década; já na Cúria Romana, especificamente, as mulheres passaram de 19,3 para 26,1% dos colaboradores do Papa.

Na Santa Sé, cinco mulheres ocupam o cargo de subsecretária e uma o de secretária.

O mais recente documento de trabalho para o Sínodo 2021-2024, publicado no último mês de outubro, desafiava a Igreja a “repensar a participação das mulheres” nas suas “práticas, estruturas e hábitos”.

“De todos os continentes chega um apelo a fim de que as mulheres católicas sejam valorizadas, acima de tudo como batizadas e membros do Povo de Deus com igual dignidade”, indica o texto que vai orientar a segunda etapa do processo sinodal lançado pelo Papa e iniciado em outubro de 2021.

Após a primeira fase deste processo sinodal, a nível de cada diocese, chegaram ao Vaticano 112 relatórios das 114 Conferências Episcopais e das Igrejas Católicas Orientais, de Institutos de Vida Consagrada, organismos da Santa Sé, movimentos, associações, pessoas singulares e grupos que inspiram o novo documento orientador para a Etapa Continental (DEC), que se encontra em curso.

A Secretaria-Geral do Sínodo, responsável pela publicação, destaca o “apelo a uma conversão da cultura da Igreja”, que leve a uma “nova cultura”.

“Isto diz respeito, antes de mais, ao papel das mulheres e à sua vocação, enraizada na sua dignidade batismal comum, para participar plenamente na vida da Igreja. Este é um ponto crítico no qual existe uma consciência crescente em todas as partes do mundo”, pode ler-se no documento.

A síntese sinodal que chegou da Terra Santa destaca, por exemplo, que “quem se comprometeu mais no processo sinodal foram as mulheres”, tendo “mais a oferecer pelo facto de serem relegadas para uma margem profética, da qual observam o que acontece na vida da Igreja”.

“Não obstante a grande participação das mulheres nas várias atividades eclesiais, são muitas vezes excluídas dos principais processos de decisão”, lamentam, por sua vez, os católicos da Coreia.

A Igreja encontra-se a enfrentar dois desafios relacionados entre si: as mulheres permanecem na maioria dos que frequentam a liturgia e participam nas atividades, sendo os homens uma minoria; contudo, a maior parte dos papéis de decisão e de governo são desempenhados por homens”.

“Quase todas as sínteses levantam a questão da plena e igual participação das mulheres”, sublinha o DEC.

O texto admite que os contributos recebidos pelo Vaticano “não concordam quanto a uma resposta única e exaustiva à questão da vocação, da inclusão e da valorização das mulheres na Igreja e na sociedade”. “

“Muitas sínteses, depois de uma atenta escuta do contexto, pedem que a Igreja prossiga o discernimento sobre algumas questões específicas: papel ativo das mulheres nas estruturas de governo dos organismos eclesiais, possibilidade para as mulheres com adequada formação de pregar no âmbito paroquial, diaconado feminino”, elenca a Secretaria-Geral do Sínodo.

Este documento recolhe o contributo dos Institutos de Vida Consagrada, destacando que “nos processos de decisão e na linguagem da Igreja, o sexismo está muito difuso”, alertando que “as religiosas são, muitas vezes, consideradas como mão de obra barata”.

As sínteses recebidas dos cinco continentes assumem o desejo de que “a Igreja e a sociedade sejam para as mulheres um lugar de crescimento, participação ativa e sã pertença”.

“Perante as dinâmicas sociais de empobrecimento, violência e humilhação que enfrentam em todo o mundo, as mulheres pedem uma Igreja que esteja do seu lado, mais compreensiva e solidária no combate destas forças de destruição e exclusão”, acrescenta o DEC.

Em fevereiro, a Assembleia Continental Europeia para o Sínodo 2021-2024 destacou a “convergência” no debate sobre a ordenação diaconal das mulheres, em sinal contrário a uma “clara divisão” quanto à ordenação sacerdotal.

O diaconado é o primeiro grau do Sacramento da Ordem (diaconado, sacerdócio, episcopado), atualmente reservado aos homens, na Igreja Católica.

“A questão do acesso das mulheres ao ministério ordenado deve ser estudada em profundidade”, referiu a síntese, lida em inglês, durante os trabalhos conclusivos da assembleia eclesial, que decorreu em Praga.

Os participantes pediram “decisões corajosas” para dar mais a espaço a mulheres em lugares de decisão, que passam por “mudanças profundas no exercício do poder e da autoridade”.

A síntese portuguesa, apresentada na capital checa, convida a “facilitar e promover a participação da mulher na Igreja, em igualdade de oportunidades”.

OC

Foto: Vatican Media

No final da audiência geral, o Papa encontrou-se com duas cristãs nigerianas, vítimas do movimento terrorista ‘Boko Haram’, numa iniciativa do secretariado italiano da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Maryamu Joseph, de 19 anos, e Janada Marcus, de 22, deram rosto à campanha global “SOS Cristãos da Nigéria”, que está a ser promovida também em Portugal.

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Agência ECCLESIA

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