Dia da Diocese de Vila Real

O «Dia da Diocese de Vila Real» celebrou-se a 7 de Junho, na vila de Murça. O programa tinha como tema «A Igreja em S. Paulo e S. Paulo na Igreja». A reflexão teológica foi apresentada na parte da manhã pelo Doutor José Carlos da Silva Carvalho, um leigo casado e pai de filhos, professor de Teologia Bíblica na Universidade Católica – Porto.

Percorrendo os textos das várias cartas de S. Paulo, o conferencista referiu que Paulo utiliza vários termos e expressões para falar da Igreja, tais como «Eclesia», «Corpo de Cristo», Família de Deus», «Templo do Espírito Santo», «Edifício em construção», «Assembleia dos escolhidos» «Plano ou Mistério de Deus», «Sacramento da salvação». Todas as expressões são válidas, disse o conferente, e todas têm os seus limites e por isso se devem juntar. A fórmula «Povo de Deus» é aquela de que Paulo gosta menos. É que ele trazia consigo o perigo de trazer para dentro da Igreja o sentido que tinha naquele tempo como sinónimo de «raça, racismo, etnias», ideia que separava o «povo judeu», o «povo romano», o «povo grego», os povos em «civilizados» e «bárbaros», etc. Todavia, seria esta expressão «Povo de Deus» aquela que o Concílio viria a oficializar, para definir a Igreja. Era a que vinha do Antigo Testamento e que os evangelistas usaram

D. Joaquim Gonçalves, que presidiu à sessão, felicitou e agradeceu a bela conferência, densa e sintética sobre a Igreja, e explicou o tema à numerosa assembleia que encheu o auditório para que os ouvintes, ao fazerem grupos com os que ficaram fora da sala, os auxiliassem a entender o mistério da Igreja. S. Paulo, disse, escreveu as cartas aos cristãos das várias cidades e em cada carta tratava de tudo um pouco. Nunca escreveu cartas específicas e temáticas sobre a Igreja, sobre o Baptismo, sobre o Matrimónio, sobre a Eucaristia, etc. Por isso, para fazer a sua conferência, o conferencista foi buscar um bocadinho a cada carta de Paulo e assim fez a síntese sobre a Igreja. Cada um dos termos usados por Paulo sublinha um aspecto: ao dizer, «eclesia», Paulo quer dizer que os cristãos são pessoas «convocadas», «chamadas» pela Providência, «apanhadas» por Deus; a palavra «corpo» quer sublinhar que a Igreja é constituída por pessoas diferentes como os membros do corpo humano; ao chamar-lhe «família», quer a dizer que a Igreja vive de relações afectivas, esponsais, com Deus e dos cristãos entre si; ao dizer «templo do Espírito» quer lembrar que a Igreja é santificada pela graça de Deus e não somente pelo brio das pessoas como se fosse um clube humano; ao dizer «plano» ou «mistério» quer dizer que a Igreja não é uma invenção dos homens, mas um «projecto eterno» que foi dado a conhecer pouco a pouco; ao dizer que a Igreja é «sacramento» quer dizer que a Igreja é «mais do que se vê» e «influencia o mundo». Finalmente, o senhor Bispo lembrou que S. Paulo só pregou nas cidades e por isso usa uma linguagem diferente da de Jesus que pregou nas aldeias e entre pescadores. Por essa razão, Paulo nunca diz que a Igreja é como um «rebanho» nem como uma «rede de pesca» como fez Jesus.

Enquanto os adultos fizeram as reuniões de grupos, os jovens e escuteiros constituíram grupos autónomos que, acompanhados dos seminaristas e professores de Moral, percorreram várias ruas da vila a estudar as viagens de Paulo, servindo-se de mapas apropriados.

Depois do almoço, o cortejo litúrgico saiu da Matriz da vila e, sob marchas das bandas de Murça e de S. Mamede de Riba Tua, dirigiu-se para o estádio municipal, belamente preparado, com um espaço para o numeroso grupo coral, outro para o altar da celebração, perto do qual se sentaram os párocos vindos de toda a diocese e os seminaristas. A assembleia estendia-se pelo espaço em frente do altar e por uma bancada coberta.

No início da celebração, o Bispo de Vila Real saudou a assembleia, o Presidente da Câmara Municipal e outras autoridades, e pediu coragem transmontana se viesse alguma chuva, pois «iremos ter muito sol para secar o fato», e «relva sintética não deixará criar lama». Na homilia, o prelado retomou o tema da Igreja desenvolvida de manhã e relacionou-o com a Santíssima Trindade para dizer que, além dos nomes da manhã retirados de Paulo, a Igreja pode chamar-se «Igreja da Trindade, Igreja de Jesus Cristo, Igreja do Espírito Santo». Lembrou depois as dificuldades da Igreja no tempo actual: «o aliciamento das pessoas com falsas liberdades que desenvolvem fantasias e afogam as pessoas em vícios», e ultimamente, «uma campanha para baralhar as ideias a respeito de coisas sérias, como é o casamento. Essa campanha confunde «igualdade democrática e de cidadania» com «igualdade biológica do corpo humano», como se isso fosse possível. Essa confusão pretende chegar à destruição do amor natural do homem e da mulher, da família que nasce dessa relação, do lugar natural das crianças entre um homem e uma mulher e não somente entre duas pessoas». Temos de ser corajosos, pois Jesus não criou a Igreja somente para levar as pessoas para o céu, mas para serem sal da terra», para deixarem nela uma marca de civilização. Sem vaidades tontas, temos de estimular a nossa auto estima cristã: apesar de todas as falhas, as terras onde chegou a Igreja de Cristo o mundo melhorou».

No final, pediu a identificação, de braço no ar, dos grupos vindos de cada zona da Diocese, as pessoas que tinham idades inferiores a vinte anos, acima dos sessenta, os catequistas, os professores de Moral, os cantores, os estudantes, as religiosas.

Manuel Linda, do Secretariado Diocesano da Pastoral, agradeceu a colaboração múltipla da Câmara e de outras autoridades, dos vários grupos, e da população da vila que acolheu os visitantes e, à chegada, a todos ofereceu bolos regionais e vinho fino. O P. Sérgio, pároco de Murça e o cérebro de toda a dinamização pastoral, chamou ao altar duas crianças, duas mulheres, dois casais, e um sacerdote, todos de Sabrosa, a quem passou o testemunho para no próximo ano organizarem o Dia da Diocese.

 

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