Psicóloga e terapeuta familiar sublinha importância de ouvir as crianças e explicar tudo «à medida do seu entendimento»
Lisboa, 01 jun 2020 (Ecclesia) – A psicóloga e terapeuta familiar Margarida Cordo afirmou que o tempo de confinamento não significa um tempo “traumático” para as crianças, cuja memória vai ser marcada pela forma como os adultos passarem pela situação.
“Os mais pequeninos até podem recordar este tempo como um período em que brincaram mais com os pais, em que fizeram outras atividades que os pais antes não faziam, até porque estavam menos horas em casa, não esquecendo que o jogo e a brincadeira são os melhores veículos para os mais pequenos”, explica à Agência ECCLESIA.
Para Margarida Cordo, é fundamental a forma como os adultos, à volta das crianças, reagiram a esta situação: “o ambiente familiar, como isto foi explicado às crianças, da segurança que os adultos – os pais, a família – foram mostrando para responder à proteção que a criança também sente, da serenidade com que se pôde viver todos os dias”.
Há outros factores que dependem dos espaços e das casas, uma vez que “é diferente viver num apartamento ou as casas que têm espaço exterior”, sendo importante a preservação de espaços e a não interferência nas dinâmicas pessoais.
Ainda se pode fazer muito para que as crianças não representem internamente este tempo como um período dramático. O que se pode fazer? Ouvir as crianças falarem sobre o que pensam, deixar perguntar o que quiserem, ser verdadeiro a responder às perguntas das crianças, podendo dizer «não sei», e quando assim for acrescentar que se vai procurar saber”.
A psicóloga alerta para o facto de a informação ser dada de acordo com a idade e entendimento das crianças, não as expondo a notícias.
Margarida Cordo aconselha a fazer perceber que, na vida, existem “dois grandes tipos de coisas, as que temos de fazer acontecer e as que não dependem de nós e são para deixar acontecer”.
“O que é para fazer é tudo aquilo que, se for brincado, não é uma imposição pesada: a lavagem das mãos, o cuidado com os locais onde se toca, as máscaras. As que temos de deixar acontecer, vale a pena dizer às crianças que não vale a pena ter medo”, sublinha.
Liberdade e responsabilidade é uma equação recomenda em tempo de desconfinamento, “em especial aos mais velhos”, sabendo que, no que aos educadores couber, importa “não inventar ou criar cenários no imaginário da crianças, como prometer que vamos ter umas grandes férias, quando isso não se sabe”, para que isso não as frustre mais tarde.
Margarida Cordo considera que as crianças precisam de “tanto e tão pouco” para crescer e que os mais pequenos são “um mundo maravilhoso hoje e no futuro”, indicando que o tempo presente prepara o futuro.
“Para as crianças serem felizes precisam de muito pouco, que é imenso: boa alimentação, dormir tranquilas e seguras, amar e ser amadas e brincar a desempenharem papeis de faz de conta porque são esses os primeiros veículos para a descoberta do mundo”, afirma a psicóloga clínica.
O Dia Mundial da Criança foi proclamado pela Organização das Nações Unidas, em 1959, para afirmar os direitos das crianças em todo o mundo, e Margarida Cordo sublinha a importância de se assinalarem as datas significativas.
“Para as crianças é muito importante simbolizar o dia”, enfatiza, desejando que se possam sentir “seguras, amadas e brincarem”, factores essenciais no crescimento de uma criança para que ela se possa “sentir todos os dias, realmente crianças especiais”.
Ao longo desta semana, a psicóloga Margarida Cordo vai estar no programa Ecclesia, na Antena 1, pelas 22h45, abordando temas sobre o desconfinamento.
LS