Desporto: «Quem vai aos Jogos Olímpicos nunca perde, mesmo que não ganhe uma medalha» – Tomaz Morais

Antigo selecionador e treinador da seleção nacional de Rugby olha para o desporto como «uma escola de valores», pede que se crie «cultura desportiva» a partir das escolas e olha para o grande evento desportivo, que termina domingo, como uma oportunidade de festa e de aumento de praticantes

Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 07 ago 2024 (Ecclesia) – Tomaz Morais, antigo selecionador e treinador da seleção nacional de Rugby, disse à Agência ECCLESIA que quando um atleta vai aos Jogos Olímpicos, “nunca perde” mesmo que “não ganhe nenhuma medalha”.

“Eu vejo críticas completamente injustas aos atletas dos Jogos Olímpicos (JO). Um atleta nos JO nunca perde; podem dizer que não ganha, mas nunca perde. As pessoas não sabem o que é o sacrifício de ser atleta: o treino, o descansar, o ser o melhor para defender o país, sofrer uma pressão mental enorme para ser o melhor e para atingir a excelência. O país ainda não o compreende”, laenta Tomaz Morais.

Os Jogos Olímpicos 2024 terminam, em Paris, no dia 11, e o antigo selecionador olha para este evento desportivo como uma grande celebração onde “todos são iguais”.

“Pierre de Coubertin (fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna), fez uma coisa brilhante porque talvez é o momento mais eclético, mais diferenciado, em que junta mais povos de diferentes origens e situações. Ali não há raças, ali somos todos iguais”, apresenta.

Ligado ao desporto desde cedo na sua vida, e atualmente diretor do Futebol Formação do Sporting, Tomaz Morais refere que os JO são ocasião de “respeito pelo adversário” e amizade.

“Olhemos para os JO e saibamos interpretá-los: encontramos provas incríveis, atletas a baterem recordes olímpicos e mundiais, a beleza do espetáculo das provas, as modalidades individuais, as que sendo individuais o seu resultado é coletivo, quem vai ganhar a medalha é Portugal – é o atleta com certeza, mas o atleta não é superior ao país, ele está lá a defender Portugal. Os JO valorizam quem ganha e ajudam a ser melhor quem perde e devem servir também para conhecermos modalidades menos visiveis e que estas ganhem mais praticantes”, convida.

Tomaz Morais lamenta a falta de cultura desportiva em Portugal, indica que esta deveria começar na escola, fala em “benefícios económicos muito pequenos, sociais ainda mínimos” e que apesar de algumas mudanças ainda se ouve ‘«vais para desporto porque não queres estudar»’.

“Vão-se dando os primeiros passos da carreira, agora com escolas de alto rendimento que ajudam, com as universidades devagarinho. O desporto é uma indústria, sem dúvida nenhuma, o exercício físico é uma indústria enorme, com rentabilidades enormes, mas não podemos ver nunca o desporto só como resultado para dele ganhar”, adverte.

Em entrevista ao programa ECCLESIA, o antigo selecionador recorda a importância que o desporto teve na sua vida – “cresci com uma bola debaixo do braço” – e com o pai que nunca o impediu de fazer desporto.

“O desporto é acima de tudo uma escola de valores, de disciplina, de princípios, de compromisso, de respeito e tolerância”, indica quem praticou futebol e rugby, modalidades em que diz não ter nascido com um “talento natural” e ter sido preciso “trabalho e muito esforço”.

Para Tomaz Morais, antes de se pensar em construir equipas, é necessário ajudar a “formar pessoas”.

“Eu acho que o grande investimento que devemos fazer, país, líderes, é primeiro construir a pessoa. Quando construímos as pessoas na sua essência natural, quando integramos as pessoas naquilo que é uma educação completa, naquilo que é um sentido que a vida nos traz e que nos guia, nós estamos a construí-las para viver com os outros, para a relação, para a aceitação, para a partilha, e quando isso acontece, as pessoas estão mais propícias para trabalhar em equipa, porque não precisam tanto delas próprias, do seu espelho, do seu ego. As pessoas são a razão de ser das equipas”, explica.

Desde cedo, o atual dirigente começou a ajudar os pais a trabalhar e recorda que era pago em bolas e que estas serviam sempre para brincar mais na rua, chegando a organizar os Jogos Olímpicos na rua, a par dos que acompanhava na televisão no final dos anos 70.

A conversa com Tomaz Morais pode ser acompanhada esta noite na Antena 1, pouco depois da meia note, ficando disponível no portal de informação da Agência ECCLESIA e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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