Desenvolvimento: Organizações portuguesas apresentam recomendações estratégicas para financiamento mais justo e combate à pobreza em conferência da ONU

Fundação Fé e Cooperação e Instituto Marquês de Valle Flôr participam na 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento da ONU, que acontece em Sevilha, Espanha

Foto: FEC

Lisboa, 30 jun 2025 (Ecclesia) – A Fundação Fé e Cooperação (FEC) e o Instituto de Valle Flôr (IMVF) vão apresentar um conjunto de recomendações estratégicas tendo em vista um financiamento mais justo, numa conferência da ONU dedicada ao tema, que se inicia hoje.

“Entre as preocupações destacam-se o aumento dramático do défice de financiamento para os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), o crescimento insustentável da dívida externa nos países mais pobres e o desvio da Ajuda Pública ao Desenvolvimento para interesses económicos ou de segurança”, pode ler-se no comunicado da FEC enviado à Agência ECCLESIA.

As duas Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) participam na 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento (FfD4), que se realiza até quinta-feira, em Sevilha (Espanha).

“O encontro constitui um momento decisivo para redefinir prioridades globais no combate à pobreza e no financiamento da Agenda 2030, num contexto internacional marcado por múltiplas crises e desigualdades crescentes”, assinala a FEC.

No comunicado, a organização alerta que “o défice global para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável duplicou para 4 mil milhões de dólares” (cerca de 3,5 mil milhões de euros) e que “dois terços dos países de baixo rendimento estão sobreendividados e gastam mais em juros do que em saúde e educação; evasão fiscal supera fluxos legítimos de financiamento”.

Foto: FEC

A FEC e a IMVF “defendem justiça fiscal, reestruturação/cancelamento da dívida, maior participação dos países vulneráveis nas decisões globais, 0,7% do Rendimento Nacional Bruto dos países desenvolvidos direcionado para Ajuda Pública ao Desenvolvimento e preservação do multilateralismo enquanto espaço de concertação mundial pela dignidade humana e pelo bem comum”.

“Num tempo de polarização, protecionismo e fragmentação social, a IV Conferência sobre o Financiamento para o Desenvolvimento é a esperança para milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza e pobreza extrema e para dezenas de países que pagam mais pelo serviço da dívida do que conseguem investir em serviços básicos, como educação e saúde”, afirma Ana Patrícia Fonseca, diretora executiva da FEC.

A responsável indica que as ONGD estão em Sevilha “para levar propostas concretas e mostrar que uma outra cooperação é possível – baseada na responsabilidade partilhada e na dignidade humana”.

“A nossa presença na FfD4 é uma oportunidade para reafirmar o nosso compromisso com uma cooperação internacional mais justa e eficaz, onde as políticas públicas coloquem as pessoas no centro de todas as medidas e decisões”, destacou.

Além das tendências e riscos identificados, a FEC e o IMVF advertem para práticas financeiras nocivas como a evasão fiscal e os fluxos ilícitos de capitais, que comprometem os recursos disponíveis para políticas públicas fundamentais.

Para Ana Patrícia Fonseca “é essencial investir na coordenação e na Coerência das Políticas para o Desenvolvimento, para que os esforços de prosperidade de alguns países não colidam com os esforços de outros”.

Foto: FEC

“Como afirmou hoje o Presidente da Conferência, Pedro Sanchez, ‘não há Norte e Sul, há apenas uma única Humanidade’. E é a dignidade de cada pessoa, em todos os lugares, que temos a obrigação de defender nesta Conferência”, sublinhou.

As duas organizações subscreveram também o “Manifesto da Sociedade Civil pela Justiça Global” da Plataforma Portuguesa das ONGD, que defende a urgência de reformar o sistema de cooperação internacional, fazendo-o mais justo, inclusivo e eficaz — com os países do Sul no centro das decisões, a sociedade civil protegida, e os mecanismos financeiros alinhados com os valores dos ODS e da justiça climática.

Segundo informa o comunicado, a participação da FEC e do IMVF na conferência da ONU acontece no âmbito do seu projeto Coerência – O Eixo do Desenvolvimento, cofinanciado pelo Camões, I.P., integrando a delegação portuguesa da Plataforma das ONGD, e será centrada na promoção da Coerência das Políticas para o Desenvolvimento (CPD) como base essencial para um futuro mais justo, sustentável e inclusivo.

LJ/OC

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